Poesia de Pureza
"Está faltando Poesia no Mundo. Está faltando Passarinho. Barulho de Mar. Canto da Sereia. Pé descalço na Terra. O Chute na Pedra. Tá faltando Tudo. Por isso Tudo fica cada vez mais Raro." (TDM)
Não é o poeta que faz a poesia, ela é quem o faz. Apesar dos pesares - em todo momento bom ou ruim - ela está junto a ele, num laço apertado envolvendo sua alma que não consegue calar.
Deixe-me sonhar que tenho asas
misturando-me com passarinhos
assim voo por entre as casas
te acho e faço um carinho
Há nesta vida algumas contundências
que deixam muitos de joelhos,
sejam tristezas, sejam doenças,
sejam caminhos mal escolhidos,
ou vazios e ausências,
mas estas arestas podem ser aparadas
com a fé e alimentadas com a esperança,
nada é por acaso, sabem disso,
cada um tem o seu fardo, leve ou pesado,
nesta vida somos todos guais e então
porque não andarmos mais unidos,
buscando apenas a bonança
e de braços dados?
Há ecos que escorrem pelo vale,
gritando já sem forças,
mal alcançando o topo do morro
onde mora a esperança
Assim como as ondas, sucedendo-se e borbulhando até junto às areias do mar...
eu louvarei a Deus nessa alegria,
por tudo que dele recebi,
pela visão que tenho da vida,
mesmo aquela que a minh'alma não compreenda
Bem dentro da escuridão,
uma luz, um livro ardia.
Nas lonjuras do Sertão,
um jovem poeta lia.
(Estrelas, constelações,
relinchando fantasias.)
Ramé
"Levo de você
O jeito calmo,
O olhar sereno,
A atenção.
As vezes que
Me deu colo,
Que me abraçou,
Que me deu carinho
E estendeu as mãos.
Eu tinha que aprender,
Algo em mim
Precisava se equilibrar,
Me mostrar que
As vezes é bom
Frear o desespero
E viver mais calmo.
Mas eu falhei,
Falhei por orgulho,
Falhei por não compreender,
Por não ter feito
Aquela canção,
Por não escrever-te
Cartas e poemas,
Falhei por falar demais,
Por deixar pra trás,
Por ter saído
Por aquela porta,
Por não saber
Te amar...
Mas no fundo
Eu sempre me cobrei,
Achei que o tempo
Me me moldaria
E que eu seguiria
Cada vez mais firme,
Ao teu lado.
Enfim, eu te amei.
Do meu jeito estranho,
Chatão, insuportável,
As vezes brincalhão,
Mas eu te quis
A cada Beijo,
A cada Abraço,
A cada instante,
A cada suspiro teu,
Como nunca quis
De outro alguém.
Eu não sei
Os segredos da vida,
As artimanhas
Dos sentimentos,
Os ofícios do amar.
Mas eu sei,
Que de você
Levo um sorriso,
Um abraço apertado
E um olhar.
Saibas que você
Foi importante para mim
E que sempre será.
E com certeza,
Os dias sem você
Vão custar a passar..."
O voo desconcertado de uma borboleta entre flores amarelas enobrecidas por raios de sol desvela a beleza harmoniosa na existência dos seres e das coisas.
É assim, nas voluntariedades do mundo que a natureza desfila como desfilam as palavras em festival de poesia
"MILAGRE
Segunda-feira...
Na cara amassada deste dia,
de repente,
a ponta da asa
de um anjo:
Um milagre, quem diria!"
Não suporto, não aguento mais...
Visíveis monstros traiçoeiros,
Lobos em pele de cordeiros.
Astros da mediocridade ligeira, vorazes.
Olhos famintos, mãos geladas, mortas, desfalecidas,
Vidas envolvidas na glória do medo, do “eu” poder fantasioso.
Queixas sem doenças, malefícios encarnados na alma, no coração, nas feridas,
Não aguento mais... Apenas ver, se como tal mortal não posso ser,
Pai, quem sou? Por que sou?! Pois nada quis viver!
Um bicho do mato, perdido na trilha, secando feito folhas no cerrado
Cigarra velha num último cantar, medos insanos!
Rostos mascarados, peles cheirosas, roupas limpas, o mundo não para.
De dentro das veias escorrem cera, a cola da maldade, a febre do ódio, o encalço do mal.
Deveras a vida foste dada para ser vivida?! Tal qual uma criança que não sabe ler!
Meus braços já não podem levantar, não quero mais chorar, não aguento mais o ver!
Os olhares estão por toda a parte, as vozes soam feito gralhas no alto da montanha,
A surdez não me é suficiente, preciso também fechar os olhos, pois, não aguento mais...
Mais uma vida saturada pela fadiga da desigualdade psicológica, a moral é imoral,
A faca está cega, Pai! Quem há de ouvir os gritos do norte?!
Ouça! São os gritos da morte! Desta vez, ninguém teve sorte!
De sorte que não existe jogo da vida, ou se tem ou não se pode comer!
A vida é incapaz de viver?! Não! Já não aguento mais...
Até onde seguirei com meus farrapos sendo arrastados pelo altruísmo dedicado à miséria geral?
Pensamentos nefastos enraízam-se dentro do meu ser, o sono vem, cerram-se os olhos,
O dia chegou!
Todos estão deslumbrantemente impecáveis!
Soneto à maneira de Camões
Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.
Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.
Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.
Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.
Na primeira oportunidade,
voe alto,
pra bem longe,
sem demora.
Se a alma é pássaro
a mente é gaiola.
Presente
Os ipês apagam as tristezas do inverno.
Renovam suas cores ao vento.
Desmancham o cinza sem graça e lento
em tons que afagam a tardinha.
Os ipês esbanjam ternura.
Roubam os olhares de quem está triste à toa.
Porque tristeza não foi feita pra gente boa.
Tristeza não foi feita pra ninguém.
Cena de cinema
O barquinho viajou,
foi embora.
Mar adentro...
Mar afora...
Se apaixonou por uma caravela
e viveu um amor de novela.
Até o vento mudar
Vibrou em mim a ventania
Gravando seu cheiro por todo lugar
Era doce, mas turbulento
Aquele momento que parecia não acabar.
Então virou só vento
Meio lento que devagar
Levou embora o tormento
E me deixou só a pensar
E ali só, esperei, até sentir uma brisa
Suave, que parecia murmurar
Tudo isso vai passar
Só espero entender
Nunca esquecer
Nem mesmo quando o vento tornar a mudar
Publicado em Antologia de Poetas Brasileiros - vol 159
Coisas do Amor
Por amor fazemos loucuras
Abrimos mão de nós mesmos
E fazemos coisas inimagináveis.
Tiramos forças de onde não havia
E nos sujeitamos a situações
Que nunca pensamos um dia aceitar.
Cedemos mesmo quando nos fere
E cansados, permanecemos
Querendo ir, ficamos
Saindo, voltamos
E em silêncio, gritamos.
Mas o amor tem o poder
De nós fazer acreditar
Que nada pode nos derrubar.
E no momento certo
Ele nos faz invencíveis,
Lutando por coisas invisíveis
Que sem as quais
Não dá pra respirar.
Por amor fazemos loucuras
E a maior de todas
Seria não tentar.
CONFESSO
Não quis sonhar
Por medo de acordar
E descobrir que não era real.
Também não quis imaginar
E correr o risco de me decepcionar
Por não ser igual.
Queria só o que fosse real.
Então, preferi tentar
Sabendo que poderia sofrer,
De coração aberto
Mesmo que pudesse doer.
Preferi viver...
Cansada de esperar
Algo que nunca viria,
Resolvi fazer acontecer.
Preferi chorar e sorrir...
Molhar os pés, sujar as mãos,
Colecionar pedras, trocar de canção,
Sentir o vento, deixar acelerar o coração.
E confesso...
Tentei, cantei, chorei, sorri
Não foi tudo sempre perfeito
Mas enfim, confesso que vivi.
Publicado no 4 Anuário da Poesia Brasileira - Câmara Brasileira de Jovens Escritores
DESPEDIDA
Era despedida
Queria ter feito mais
Abraçado mais
Mais forte...
De um jeito que fosse junto
Uma parte de mim.
Queria ter beijado mais
Mais vezes...
Absorvendo cada segundo
Como se não tivesse fim.
Queria poder lembrar mais
Assim, tentei gravar tudo
Marcando na memória
Cada cor,
Cada cheiro,
Cada som,
Cada pedaço daquela hora
Que me fizesse voltar no tempo
Só meio da história
Sempre que a saudade apertar
Me transportando de volta
Aquele momento
Sem começo nem fim,
Só àquele momento
No meio do tempo
Pra história nunca acabar.
Publicado em Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - vol 158
Compreenda
O tempo não volta
Não da pra mudar
Temos que seguir em frente
SÓ pra começar
Vou ficar até o vento mudar
Quero Seguir um caminho novo
O antigo não me cabe mais
não cabe meus sonhos e planos
Sempre compreendo e que diferença faz?
Hora de seguir em frente
Deixar o que ficou pra trás
Quando doer, sorrio
Quando cair, levanto
Quando quebrar, conserto
Se o caminho acabar
Abro uma trilha
Parar e voltar cansa de mais
Chega de olhar pra trás!
Publicado em Antologia de Poetas Brasileiros - vol 161
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