Poesia de Garoto para Garota
PAPEL DE MUSA
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Minha adorada e inspiradora musa
Preciso urgentemente da sua ajuda
Porque a escrever a intuição me compele
Quero abordar o nosso amor sem limites
Mas por ter acabado o meu papel sulfite
Terei que escrever sobre sua pele.
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Sobre esta testa escrevo
O maior dos meus desejos
Com letras garrafais:
‘Este local é exclusivo
Como lousa e abrigo
Deste poeta e de ninguém mais’.
.
Nestas bochechas rosadas
Deixo as seguintes palavras
Gravadas com simetria:
‘Aqui só tem permissão para beijar
Aquele que sabe me transformar
Em tema para as suas poesias’.
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Nestes seus lábios carnudos
Com verbetes minúsculos
Deixo um recado meu:
‘Afaste-se destes lábios doces
São dela, mas é como se fossem
Deste amante que neles escreveu’.
.
Neste aveludado pescoço
Sem querer provocar alvoroço
Escrevo ousadamente assim:
‘É aqui onde está o segredo
Para romper da minha musa o medo
E fazê-la se entregar para mim’.
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Entre estes lindos seios
Escrevo com certo receio
De ser malcompreendido:
‘Estes são os dois culpados
Por eu ficar descontrolado
Diante da minha libido’.
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Sobre esta barriga
Branca, macia e lisa
Escrevo delicadamente:
‘Não se aproxime deste lugar
Porque é aqui que brotará
A minha secreta semente’.
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Nesta sua área mais íntima
Registro uma declaração mística
Escrevendo a seguinte mensagem:
‘Este é o meu tapete voador
No qual me acomodo com amor
E levito em emocionantes viagens’.
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Nestas coxas torneadas
Deixo para sempre gravadas
Estas palavras nas partes internas:
‘Adoro os abraços dos seus braços
Mas eu perco as forças e me desfaço
Ao receber abraços das suas pernas’.
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De repente ela abre os seus olhos lindos
E percebe que no seu corpo despido
Não existe nem sequer uma letra
Mas isso não a entristece
Porque em pleno êxtase reconhece
Que fiz dos meus lábios uma caneta.
FOLHAS SECAS DE OUTONO
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Caiam folhas secas de outono
Sobre a terra avermelhada
E no mais repousante sono
Num mundo livre sem dono
Suspirava a moça apaixonada.
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Ela viu chegar um lindo cavaleiro
Montado num cavalo branco
Ele a arrebatou por inteiro
E sobre o animal faceiro
Saíram a passear pelo campo.
.
Milhares de pássaros entoavam canções
Os jardins estavam floridos e perfumados
Não existiam as quatro estações
E ela sentiu muitas palpitações
Quando percebeu que o cavalo era alado.
.
Lá do alto ela via as serras
E as nuvens que as cobriam
Via também escorrendo pela terra
Alimentando as plantas e as feras
As águas que nos rios corriam.
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Ao pousar sobre uma colina
Nos braços ele a tomou
E olhando para cima
Viu-se refletida na retina
Do homem que a conquistou.
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Ela não resistiu aos encantos
E se deixou beijar pelo amante tão hábil
Mas acordou em prantos
Ao perceber que foi o vento brando
Que jogou folhas secas sobre os seus lábios.
ZUMBIS
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Enquanto um menino sonha ser craque
De futebol outro usa pedras de crack
Para se imaginar alguém feliz
E assim surgem times nos campos
E nos guetos das cidades entretanto
Surgem legiões de zumbis.
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São seres cujos corpos caminham
Enquanto suas mentes definham
Os transformando em armas vivas
Que para satisfazerem o vício
Fazem uso de qualquer artifício
Chegando até mesmo a tirar vidas.
.
A polícia com rigor os persegue
Usando bombas e cassetetes
E às vezes até os mata
Tal estratégia parece eficaz
Quando este procedimento se faz
Não contra gente, mas contra baratas.
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Estes zumbis que nos assustam
Nos tornam reclusos e nos furtam
Além do dinheiro a liberdade
Têm que ser retirados do convívio social
Criminosos na cadeia, viciados no hospital
Para que as ruas voltem a ser da sociedade.
.
Quero viver sem medo do perigo
E ao encontrar jovens reunidos
Sob o escaldante Sol
Sentar-me tranquilo na calçada
Apenas para ver a criançada
Jogar mais uma partida de futebol.
BATALHA DAS IDEIAS
.
Eu também quero me manifestar
Contra o que está a me incomodar
Neste País e também no Planeta
Uns marcham com gritos de guerra
Outros brigam como se fossem feras
E eu me manifesto com a caneta.
.
Criticamos os desvios do erário
Nas construções dos estádios
De futebol para a Copa
Mas só tem direito de criticar
Aquele que se põe a gritar
Estando do lado de fora.
.
Todo aquele que vai às arenas
É conivente com a triste cena
Do roubo do dinheiro do povo
Quem grita das arquibancadas
Não tem direito a mais nada
Além de considerar-se um bobo.
.
Eu quero um País sem corrupção
No qual a pacífica população
Possa ter acesso às riquezas
Traduzidas na saúde, educação
Segurança, transporte, recreação
E ao bom alimento na mesa.
.
Mas rechaço o oportunismo
De podres partidos políticos
Que promovem a baderna
Transformando as manifestações
Cheias de boas intenções
Em verdadeiros cenários de guerra.
.
Todo ato violento deve ser reprovado
Seja ele do povo ou do Estado
Para que a vitória se eternize
Porque as lutas inteligentes
Fazem surgir nas mentes
As mais profundas raízes.
.
Grite nas ruas e sussurre aos ouvidos
Ideias que criem conceitos definitivos
Mas que a nossa luta seja harmônica
E se lembre que a arma mais eficiente
Para mudar o que nos faz descontentes
É a poderosa urna eletrônica.
MACHADO DE ASSIS
.
Joaquim Maria Machado de Assis
Mulato carente em cuja cerviz
Pesava o opróbrio do preconceito
Filho de pais pobres
Mas dono de talentos nobres
E de originais conceitos.
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Criado pela madrasta
Suplantou a dor da desgraça
Da perda da mãe querida
Frequentou a escola pública
Mas sua sabedoria única
Adquiriu na escola da vida.
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Aprendeu francês e latim
Exerceu atividades sem fim
No universo da cultura
Mas o seu maior legado
Para sempre ficou gravado
Nas páginas da literatura.
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Foi jornalista, contista
Cronista, romancista
Poeta e teatrólogo
E na fundação da ABL
Foi distinto cerne
E mentor do seu prólogo.
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Chamava-se Carolina
A musa que inspirava as rimas
Dos seus versos de amor
Ela foi a sua obra mais perfeita
Mas que cometeu a desfeita
De morrer antes de seu autor.
.
A saudade abreviou os seus dias
E os textos que ele escrevia
Não o acompanharam ao cemitério
Ficaram espalhados como a fumaça
Que subia das fogueirinhas da casa
18 da Rua Cosme Velho.
VERSOS E AMARGURA
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Se de mim retirassem os enganos
Em mim apenas acertos restariam
Seria um poeta de versos levianos
Que como bolas de sabão se esvaziam
Prefiro ser alguém cujas conjecturas
Correm o risco de trazer amarguras
Do que ser um ser vivo sem opinião
Prefiro que me calem com mordaças
Do que ao me ouvirem achem graça
Por repetir os gracejos da multidão.
.
Prefiro ser chamado de subversivo
Do que receber afagos dos opressores
Porque tais afagos só são oferecidos
Aos fracos em troca de favores
Com os quais traem a sua dignidade
E ganham uma falsa felicidade
Como troféu para a covardia
Prefiro ter a honra da clausura
Nos frios porões da ditadura
Do que a desonra na democracia.
.
Se de mim retirarem os versos
Ainda me restarão os pensamentos
Que voarão na amplitude do Universo
Montados nas costas do vento
E baterão à porta de Deus
Que atendendo ao apelo meu
Mandará uma forte tempestade
Formada por poesias agudas
Que caindo regarão as mudas
Que aflorarão como liberdade.
O outono chegou!
E com ele, minha alegria...
Desculpe-me primavera,
mas é no outono:
Que meu jardim é poesia.
não enterrarei as minhas mãos
não enterrarei
as minhas mãos
por não caberem
na terra dos outros.
(Pedro Rodrigues de Menezes, "não enterrarei as minhas mãos")
malmequer negro
percorro pulsante o corredor
de pés mudos como muros
ergo o intransponível crânio
nascendo e dormindo prescrito
adio a translúcida sibilância
malmequer fulgente e negro
que levo ao peito como um sabre
recito pelo adejar rítmico dos lábios
salmos rituais ossos barro pó
fulgurante translação das veias
arde-me o míope sangue vertical
escorrendo pelo lantânio e lutécio
hei-de criar pedra sobre pedra
farei da luz dois vítreos ciclopes
pousarei nos pilares de hércules
a incorpórea maldição dos deuses
e levitando andarão as testas
dos homens e deuses
dos deuses homens
sit tibi terra levis[1]
requievit in pace.[2]
[1] que a terra te seja leve
[2] descansa em paz
(Pedro Rodrigues de Menezes, "malmequer negro")
Não sei amar
Não sei me relacionar
Não tenho paciência com nada
Não sou bom com gente nem com animais...
Nem comigo mesmo eu sei lidar!
Eu só sou bom com plantas
de preferência as que tem muitos espinhos
(Obvio, assim como eu!) muita cor e muito perfume!
Eu acho que o nome disso é cansaço...
Burnout!
Requiem for Adílio Lopes
Adília e Adílio, ambos Lopes
oferecer-te um poema
em forma de livro
de receitas
cozer-te pão
para o coração
há tanta falta de pão
para o coração.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes XV)
Adília
e
Adílio
comem
pão
de ló
pelos pés
Lopes.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XVI)
imagino-te
como vieste
ao mundo
de pano do pó
na mão
e sem mais nada
por cima
por baixo
mas cheia
de coração.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XVII)
Herberto Helder
convida
Adília Lopes
para jantar
duas solidões
uma doméstica
não domesticada
outro uma artéria
sem pressão arterial
ponto de interrupção.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XVIII)
o teu cabelo
Adília
o teu cabelo
Adília
é uma rosa
de ventos
ventania
poesia.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes XIX)
os capítulos
capitulam
esta história
no fim triste
cumpriu o destino
de Adílio Lopes
morreu nos braços
de Adília Lopes
no dia em que se conheceram
consta que morreram
Adílio Lopes
os gatos
e só sobreviveu
Adília Lopes
e as suas baratas
mas sobre os gatos
assassinos
que esgatanharam
(não confundir com esgadanhar)
o corpo de Adílio Lopes
ninguém escreveu.
(Pedro Rodrigues de Menezes, Adílio Lopes, XX)
Nota: termina a história de Adília e Adílio, ambos Lopes.
vodu
por entre os dedos da terra
sem pressa
sem deter
discorre sem forma
e incolor
o deus terrível
profundo
silêncio cálido
que inebria e incapacita
que engole
sem mastigar
os ásperos calos
deformando
as minhas trémulas e gélidas formas
encerrando os olhos
com o capim
e as pedras
e as folhas tardias
do longo inverno
na caverna aberta deste crânio quartzítico
incandescente luz que me atravessa
imobilizado pelas asas abismais
ouço e vejo o temporal
contra a gruta do meu próprio templo
eu sou o templo e a sua ruína
os seus antepassados futuros
isto é o princípio do meu renascimento
e por isso estou estendido nesta catarse
envolvido pelo frondoso sudário da floresta
aguardo a tácita palidez da minha própria morte
talvez eu próprio seja este terrível deus
porque ouço a voz da lua e o corpo do sol
invocando em extintas línguas os meus nomes.
(Pedro Rodrigues de Menezes, “vodu”)
Minha filha não conheceu meus pais
mas eu conheci meu neto
Por isso faço versos
para que ele saiba
o que meus retratos sentiam por dentro
baobá
procuro nos outonais trâmites do teu corpo
o insofismável vestígio das tuas raízes
salgueiro que jaz e se curva obliquamente
eterna a bênção, terrível o fim do tempo
deserto, areia, sol, miragem, saudade
serás sempre o antes e o depois de nós
e nós seremos tão pouco e tão poucos
depois de ti secarão todas as welwitschias
África não renascerá da força dos tambores
mil homens sangrarão entre solenes rituais
as grávidas abortarão com sede de terra
e o céu encher-se-á de conchas e espinhas
e virão os deuses deste mundo e do outro
velar a desgraça efémera da sabedoria
ninguém saberá mais falar, escrever ou viver.
Poema dedicado a Catarina Pereira do Nascimento
(Pedro Rodrigues de Menezes, “baobá”)
CORDÃO UMBILICAL
Quando nasci
cortaram-me o cordão umbilical,
só esqueceram de cortar
o fio que me deixou atado ao tempo
Perdi tempo perdendo tempo
em olhar o relógio com pressa de chegar
e nem me dei conta da paisagem
em que havia canteiros de jasmins
que não levarei comigo na memória
Ela é a cara da mãe,
que em tudo puxou de sua avó.
A avó, por sua vez,
é idêntica à mãe que um dia teve,
que vejo em apagados retratos,
e que, conforme antigamente contavam,
era cópia fiel da bisavó da mãe
da mulher que hoje amo,
e que é a cara esculpida da minha sogra.
Creio que me apaixonei
foi por uma mulher do começo do século XIX
Sempre fui curioso, abelhudo e bisbilhoteiro. Por isso ando pelo mundo cascavilhando no chão da vida versos que ainda não foram encontrados.
Todo poeta é um garimpeiro do invisível e do abstrato
Acordei,vesti os sonhos,
calcei os desejos,e sai de casa
fantasiado de realidade.
Quando voltei,
a roupa estava suada,
os sapatos estavam gastos,
deitei a fantasia de lado,
enxaguei os desejos manchados,
ensaboei meus sonhos molhados,
deitei-me na cama cansado,
encobri-me com o véu da noite
e esperei o corpo dormir
no acordar da minha alma
Já fui neve no mar, já fui espada na mão (José Afonso)
No passado sofri de algumas vaidades. Mas calei que prefiro ser neve no mar do que poeira pisada, caída no chão. Ser a neve que se funde com o mar é ser a frescura que sabe de antemão que muita gente lhe vai perguntar: quando cantaremos o Hino da Libertação?
No passado sofri de algumas vaidades. Mas agora, que vivo sem sedução, digo: ser neve que se fundiu com o mar é ser como a estrela que se fundiu com o céu (coisa que, antes, a estrela sempre temeu) e nele brilha mas sem chamar à atenção.
No passado sofri de algumas vaidades mas não falei de ser espada na mão. Hoje, que sou a neve caída no mar, muitas vezes me interrogo: ser lâmina afiada em ereção não será entrar no estranho jogo dos que põem pessoas a sangrar e querem sentir vida a pulsar no seu coração? Mais logo, quando a Musa Menina chegar, me dirá se tenho ou não tenho razão.
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