Poesia Completa e Prosa
Domingo Depois do Amor
Já semeei as pequenas mudas de arco-íris
em nosso céu de nuvens férteis e selvagens
Roubei dos vizinhos as roupas dos varais
pra reservar mais espaço aos passarinhos
Tingi minhas palavras de poeta e sonhador
com os odores de um jardim em flor
Também bordei girassóis nos lençóis
pra clarear nossas noites de insônia
Recordei aventuras e inventei estórias
pra tentar adormecer sua alma cansada
As mãos dadas, os pés selados...
o sopro de duas vidas que jamais será tirado
Fitamos o abismo e continuamos a brincar:
nada apagará a ansiosa paixão no olhar
Daqui de Cima
Daqui de cima te vejo com clareza:
ansiedade e desenvoltura.
Você está linda e sorri como uma criança feliz.
Daqui de cima seu olhar parece mais atento,
parece buscar a aventura sem perder o momento,
como os olhos de um predador.
Daqui de cima tudo parece estar em um movimento sincronizado:
tudo se encontra e se despede sem receio ou dor.
Há uma dose de justiça em cada queda
e uma força incansável que faz recomeçar.
Daqui de cima vejo o caminho
e ouço uma doce canção que enternece meu coração.
Daqui de cima até o ataque fatal de um crocodilo é bonito,
assim como é tênue a dor da presa.
Daqui de cima,
sobre a névoa turva que cobria meus ombros e me cegava,
a vida encontra seu lugar através de pequenos gestos
de amor e caridade,
que ecoam como uma prece que se faz em silêncio.
Daqui de cima eu te vejo e te cuido
e te aguardo serenamente,
para beijar sua alma inquieta sem argumento,
no seu tempo.
A Notícia
O telejornal começou com a instigante notícia:
_ A ciência explica o amor!
O jornalista ainda disse com pesar em seu discurso:
_ Para a tristeza dos poetas, cientistas afirmam que o amor nada mais é do que uma cadeia de reações químicas do cérebro...
Podre jornalista. Pobre notícia. Pobres cientistas.
Como poderiam os cientistas decifrar o amor se ainda nem conseguiram explicar a existência dos dragões?
Ora, o que sabem esses cientistas se nunca cavalgaram em um unicórnio ou discutiram sobre os Guadalupes?
Eles nem mesmo puderam descobrir onde moram as fadas e os duendes e nunca escreveram para o Papai Noel. Pobres cientistas!
Aliás, eles nunca se pronunciaram sobre as intervenções salvadoras dos anjos da guarda ou sobre os olhos atentos de São Longuinho.
Por acaso esses sujeitos já viram extraterrestres ou se assustaram com fantasmas? Então como seriam confiáveis?
Podres cientistas que nunca puderam falar com Deus através do amor.
Podres cientistas que amam por reações químicas cerebrais.
Podres cientistas que nunca puderam amar, simplesmente.
Pobres cientistas que se preocupam em explicar o amor.
Afinal, quem disse que o amor pede explicação?
O Vinho
O vinho é o maior amigo do amor
E o melhor remédio pra dor
Se faz, se refaz: é transformador
E à vida empresta cor
Respira, transpira...
Transita no silêncio e inspira
O vinho carrega o cheiro da saudade
E a sofisticação da verdade
Como a mulher é paixão e mais nada
O vinho é poesia engarrafada
Para que seu Sonho nos Guie
Desejo que sua busca obtenha resposta,
que sua luta possua um propósito
e que seu amor alcance a paz.
Desejo que sua palavra ache a melodia
e que sua fome nunca se sacie,
para que seu sonho nos guie.
Desejo que você tenha amigos
e que a amizade renasça em cada abraço
e seja um acalento para o seu coração.
Desejo que seu dom ecoe e
que não destoe ou se perca na soberba.
Desejo que sua vitória não almeje glória
ou apenas se sobressair por vaidade.
Desejo que sua fé encontre Deus
e que Ele te reconheça
para que a esperança prevaleça.
A Minha Alma I
A minha alma tenta se encaixar,
mas não reconhece o seu lugar.
A meu ver, não pretende ficar.
É que ela se fere ao flertar
com a vida
em uma conversa despretensiosa
ou assistindo a bela mulher que passa ansiosa
ou em qualquer despedida.
A minha alma não se acalma!
Minha alma é assim:
ela voa como um abutre
em círculos sobre mim,
olhos atentos espreitando a morte
e desejando a sorte
de ser livre, enfim.
O meu corpo não tem alma,
é minha alma que tem um corpo.
E, não fosse por ele,
estaria por aí, agora calma,
sentada em um galho torto
de uma grande árvore, sob um céu dormente.
Quem sabe?
Talvez tivesse se tornado outra lua
ou aberto uma rua
entre nós, entre todos. Em um segundo
ela teria achado um corpo que lhe cabe,
do tamanho do mundo.
É que minha alma não se acalma,
anseia o combate,
quer se lavar na lama
de Marte.
Minha alma é como um soneto
pulsante.
Intriga como um lugar incerto
e distante.
Instiga como o suave gemido
da amante.
Os Santos que Você Invoca
Eu levo comigo todos os santos que você invoca na despedida
e guardo seu adeus como um retrato em minha retina.
Com suas lições construí uma catedral de pedra e luz
e tento honrar o chão firme em que você caminhou.
Da verdade que sempre lecionou fiz um escudo e um colar
e me banhei no oceano de um amor invencível.
Eu rezo seu terço e canto sua novena.
Homenageio seus mortos e saúdo seu passado árduo,
de dias vencidos pela mais pura vontade de ser família.
Uma mãe é um castelo, uma torre, uma ponte.
É um rochedo onde o mar chora sua solidão, cansado dos dias.
É a música que o vento toca no entardecer, saudoso.
Uma mãe é a nascente límpida de um rio que não tem fim.
Tenho-a como um campo sereno na tempestade da vida,
sua lembrança é meu lar em qualquer lugar.
A Árvore
Era só uma árvore no meio de um pasto,
mas era tanta beleza
que eu não pude ignorar.
Parei. E fiquei ali por alguns minutos,
observando-a como a um aquário.
Era só uma árvore no meio de um pasto,
que vi de uma curva da estrada,
mas era tanta beleza
que não parecia real: talvez uma pintura
surrealista ou expressionista.
Seus braços abertos saudando o vento
e se embebedando de toda a luz.
Tão forte e paciente.
Era só uma árvore solitária,
mas era tanta beleza!
O Corredor
Uma sombra pede passagem
frente uma longa viagem.
É um corredor que passa voando,
com o vento se deleitando.
Como um cavalo testando os cascos,
ele carrega a liberdade nos passos.
Não procura uma verdade velada,
deseja correr e mais nada.
Há um lugar de elevada consciência
onde a glória está na vivência.
Um corredor não tem a alma cansada,
pois sua casa é a estrada.
Também não há temor em sua passada,
já que não busca a vitória na chegada.
Aprendeu sobre a jornada da vida
e que o êxito está na partida.
A Minha Alma II
Minha alma não quer sossegar:
vive alheia e sem lugar.
É como se tivesse acordado
em um hotel medonho;
é como se tivesse vivido
no limbo ou escuro sonho.
A minha alma não se acalma!
Ela deveria ter baixado em um distante planeta
ou em um cometa,
mas a este corpo ficou presa.
E este corpo virou presa!
Minha alma não é um castelo
ou um forte, é o oposto:
é a bala do canhão que destrói a muralha,
a torre e mata.
Minha alma sangra em cascata
e nenhuma paz cultiva, insensata.
Grita como a tempestade
que a proa do navio invade
e que só não o afunda por piedade.
Vagueia a céu aberto
como um nômade no deserto
fugindo da verdade.
Minha alma carrega a dor de uma infantaria.
E a mim cabe sufocá-la no ser
e ser,
com angustiosa calma,
o carcereiro de minh’alma.
Asas
Morre plantado quem veio gente,
mas se esqueceu de dar um passo à frente
(talvez devesse ter nascido árvore).
Atravesse suas divisas e se confronte
diariamente
e lembre-se que só é humano realmente
quem é capaz de sonhar
e só é feliz verdadeiramente
quem está pronto para mudar.
E é preciso seguir adiante, sempre.
Para tocar o céu com a mão
basta ter asas no coração!
O Andarilho
Enquanto um carro passa apressado
e lhe banha o corpo com uma rajada de vento,
ele atravessa uma ponte sobre um pequeno riacho
e para por um instante,
olhando a paisagem.
Ele segue seu caminho!
Passa por pequenas propriedades rurais
e avista um trator arando a terra no alto de uma serra:
_ Do que será aquela plantação?
Ele caminha...
Outro carro passa como uma flecha buscando um alvo
com o som no volume mais alto,
enquanto ele silencia para ouvir o solo de um canarinho
laranja como o entardecer:
_ Bom dia, Senhor Laranja!
Ele caminha...
Uma brisa lhe refresca e lhe dá fôlego,
mesmo com o sol ardendo e fazendo o asfalto suar.
Está muito quente,
mas mesmo assim ele caminha.
Ele sente a dor de seus pés dentro da velha bota rasgada,
mas mesmo assim ele caminha.
Ele caminha...
Ele caminha...
Crianças jogam futebol num pequeno campo de terra
com traves de bambu amarradas com corda,
ele para e observa.
E depois de alguns minutos, ele segue sua jornada,
ouvindo, ao longe, o grito de gol e a farra dos meninos.
Ele continua caminhando...
Na curva da estrada ele passa por uma casa branca
de janelas azuis abertas
e um velho cão vira-lata começa a latir,
correndo em sua direção.
Ele aperta o passo:
_ Sai! Vai deitar, Campeão!
O cão é distraído por duas motos que passam devagar
e ele já foi.
O cão o procura com olhos inquietos.
Outro carro passa
e duas crianças se viram no banco de trás:
_ Pai, para onde vai aquele maluco? De onde ele vem?
Ele caminha...
Ele passa por um pequeno vale
e para em frente uma cruz de madeira na beira da estrada.
Faz o sinal da cruz e uma prece:
_ Descanse em paz, meu filho. Logo estarei com você, mas não agora. Ainda não.
Ele segue seu caminho carregando algumas lágrimas no rosto sujo.
Ele caminha...
Livremente, ele caminha.
De lugar nenhum ele veio
e para lugar nenhum ele vai.
Ele somente caminha.
Livremente, ele caminha.
ANTIALEXANDRINO
De João Batista do Lago
Inclino-me a quebrar
todas tuas santas regras
Não há coisa mais ve-
lha que tê-las presente
Todas as suas amar-
ras são paletas negras
Que prendem o pensar
livre em virtual corrente
A tua linguagem sô-
frega afasta o ser jovem
Espírito sui ge-
neris... indiferente…
Avesso do teu ver-
so tão insignificante
Que nada faz sentir…
pois é tudo desordem
Deixa-me aqui liberto trovador vetusto
Toma teu veludoso fardão nobre bardo
Mortalha ele será para tua pobre lira
Não me queiras tu indicar novos caminhos
Seguirei os meus com os meus pergaminhos
As pedras do meu caminho eu mesmo as tirarei
Coisas Urgentes
Hoje, novamente, terei que resolver coisas urgentes.
Aliás, ao que parece, é só o que tenho feito ultimamente:
resolvido coisas urgentes.
E, na pressa, tudo mais ficou indiferente.
Ontem, hoje e amanhã...
dias tomados de desespero,
mal abro os olhos de manhã
e já espero meu enterro.
Na minha agenda, com tanta coisa importante,
esqueci de anotar sobre felicidade e amizade.
E, na vida, nada é mais urgente!
Sobra tempo pra nada e tudo é saudade.
Ficam na boca e no coração um amargor:
eu nem me lembro o que é amor.
Porém, o que eu posso fazer?
Tenho coisas urgentes pra resolver.
Gosto de Você
Gosto da voz e de te ouvir falar
E de ser a paisagem em seu olhar
Gosto da energia que você transpira
E da sensualidade que me inspira
Gosto da poesia que te rodeia
E da ingenuidade maliciosa em sua teia
Gosto de seu abstrato caminhar
E de sua verdade debochada a provocar
Gosto do seu cheiro de liberdade
E de seu humor sem piedade
Gosto de sua roupa desencanada
E de sua paixão incontrolável pela estrada
Gosto da sua fé invencível
E de sua felicidade incorruptível
Realmente gosto de você!
A Morte
Estive em um funeral ontem e ouvi repetidas vezes sobre a tristeza da morte, mas como podemos ver a morte com tamanho sofrimento? Tudo tem que ter um fim e esse é o combustível que mantém a engrenagem do mundo ativa. É isso que nos faz acordar e batalhar a vida. Ganhamos um grande presente e nada nos foi exigido. Cada um está livre para fazer o que achar melhor e se transformar no que quiser ser. Somos livres. A morte é somente um “até logo” e logo vamos nos reencontrar na próxima festa. A morte é o momento em que as cortinas se fecham e o público fica ali paralisado, pensando sobre a incrível experiência que foi presenciada. É a angústia que se sente antes de se constatar o milagre. Não se deveria sentir dor ao se brindar uma grande existência, uma vida de glória e a glória da vida. Só há dor e decepção nas histórias insignificantes, daqueles que nada fizeram; que não se apaixonaram; que não correram perigo; que não se doaram; que não erraram e tentaram novamente; que não se machucaram e arriscaram outra vez; que acalentaram uma mágoa como um filho bastardo em vez de abraçar o perdão. Ora, o que você espera de uma criança quando lhe dá um brinquedo? Apenas que ela se divirta e seja feliz. É isso, simplesmente!
Insônia
O negror é frio e pesado
como um cobertor molhado.
O silêncio está mais calado,
como um retrato apagado.
E eu aqui acordado...
Não passa carro,
não canta um pássaro.
Os minutos adormeceram
e as horas se esqueceram
que estou aqui acordado.
Uma solidão tenebrosa.
Uma paz nervosa.
Alguém falou nada,
nem uma alma acordada:
ninguém me ouve?!
O que houve?
Quero embarcar na viagem,
mas não há mais passagem.
Há paredes, teto e ansiedade,
mais o terror da saudade,
um travesseiro apenas,
eu e meus poemas.
O Poeta
Caminho pelas ruas
em noites silenciosas:
insone!
Bebo da lua e circulo as luzes
para brincar com as mariposas
que não têm nome.
Me sento na calçada e observo
- um bêbado –
a embriaguês do mundo.
Com toda a dor e amor,
vejo poesia em tudo.
Abro o peito e me reviro,
batizo cada estrela sem cair do telhado:
estou sempre apaixonado.
Mundo Doente
Para Ryan e todos os refugiados mortos pelo descaso
Se era noite ou se era dia, você nem se lembra.
Talvez tudo fosse apenas uma brincadeira
para uma criança inocente
em um mundo doente.
Mas você nem se lembra...
Seu sono matou um sonho.
Não restaram manha nem manhã,
nem lágrimas a viajar no mar:
o terror se leva no olhar.
Carregar toda a culpa é pouco
pelo pouco que se faz,
já que vida e morte não tem diferença
neste mundo doente.
Todos devem um bocado
pelo trocado que não se dá.
Morrem soldados, inocentes, eu, você,
todo dia, assim como cada refugiado,
que não teve isso planejado.
Vivo ou afogado,
pouco importa, todo amor foi sepultado.
Aleppo
Havia uma cidade
E uma população
Padarias, doces e cores
Flores e odores
Famílias vendo televisão
Havia felicidade
Havia uma cidade
Havia um país
Casas, crianças e cães
Mas o ódio fincou raiz
Choram todas as mães
Pelo que restou da humanidade
Já não há cidade
Nem casas nem nada
Fez-se a destruição e o caos
Levando vidas pela metade
Já não há amor nem nada
Só ganância sem piedade
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