Poesia

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A Nave (Walmir Palma) p/ Oscar Niemeyer


Eu vi o traço do arquiteto incontinente

Insustentável tal leveza e o gênio ousa

No coração da pátria enfim inconfidente

A liberdade sutilmente as asas pousa


Sonho conjunto que a memória perpetua

Planta- se o sempre nos elãs da geometria

Unem- se retas ao milênio que acentua

A esperança mais presente que tardia


Cumpre- se a curva equilibra- se a mandala

Na convergência consciente dos vetores

A nave voa na amplidão aterrissada

Sucumbe a farsa onde a razão fincou valores


A criação desnuda o pêndulo no plano

Fundem- se ali o artista e o esteta

Em desafio qual esfinge ao olho humano

Deus quando faz das suas mãos as do profeta

(27 DE FEVEREIRO)

Dia e mês que levo os anos
Nas costas, cada vez maior
Sem fronteira e sem planos
Nos males e sonhos o suor

Levo com cuidado esta data
Num rígido e reto itinerário
Afinal não é ouro nem prata
Mas é especial no calendário

Nunca posso dar um até mais
Pois veloz já é naturalmente
Triste é ficar sentado neste cais

E sempre deixo um posposto pendente
Pois ficar mais velho, são fatos anuais
E ser lerdo, retarda receber o presente

Coração no Varal

Meu coração
Está pendurado no quintal
No varal, secando as lágrimas de aflição
Pingando agrura funeral
No sol, na chuva ao relento
Com a emoção amachucada
Frágil ao vento
Rangendo no peito de um jeito cinzento.

Luciano Spagnol

Da saudade

Saudade palavra agridoce
Contigo o mel e o amargo
Na secessão é tão precoce
No desengano desencargo

Da solidão

A solidão não é estar só
Seu silêncio é necessário
Tem seu charme seu xodó
Quietos no nosso breviário
Ter solidão é de ti sentir dó
E não ter qualquer destinatário

Da tristeza

De ti triste tristeza
Só nos traz incerteza
Afasta o belo da beleza
Ora nos traz profundeza
Ora nos traz aspereza
Que seja então breve
E nas tuas ruínas, leve

Da sabedoria

A sabedoria filha do entendimento
Tão desentendida pelos homens
Homens de guerras e sofrimento
Na ganância de ter bens
Como se fossemos dono de alguma coisa, somos momento.

Da alegria

Da alegria trago o sorriso
Gargalhar se faz preciso
Pro fado se fazer conciso
E o pleno prazer indiviso

Do amor

Do amor se espera encanto
Sem se frustrar na emoção
Do outro se quer santo
Se santo não é o coração
Então se cria o espanto
E no espanto a desilusão
Mesmo assim, queremos tanto, tanto...

Luciano Spagnol

Coração

Tu não sabes nada!
Sofre por impulso
Anuncia a estrada
Pulsa no ato do expulso
Acelera e contagia
Sonha, e tem o avulso
Sentimento, com ousadia
Fazendo-se de recluso
Na certeza da batida certa
Acredita, sendo tão confuso
Ai então fica alerta
Se desperta
Me sustenta
Apimenta
E volta a ser placenta
Frágil, cheio de ilusão
És tu coração!

Luciano Spagnol

Dia do médico

Ser médico...
É dar de si eternamente
Partilhar a dor do doente
Torna-lo confiante e forte...
É ser presente na vida e na morte.

Louco

Na alegria escarno a tristeza
Incógnito fico a rir e a chorar
Esta é minha louca realeza
Doido, verso e reverso o poetar

Cada desatino de ser violador
Chora a minha total lucidez
De um insano no seu fingidor
Onde mascara a loucura de vez

Se existir é que é muito louco
Então existo mais que o viver
Ser louco ainda é muito pouco
Nos acertos do normal saber

Sem rumo, louco, afortunado
Desatinado e cheio de muafo
Da vida, vivo para ser amado
De amor, louco, sem parágrafo
(Quero da loucura ser inventado!)

Araguari

(Parodiando "Cante lá que eu canto cá" de Patativa do Assaré)

Ô Araguari, arguem já te poetô
Eu sempre tenho poetado
E ainda poetando eu tô
Cadquê, chão amado
Ocê é trem bão dimais
E óio aqui os sêus mistério
Tão difícil, decifrá jamais
Tal arrilia é tão sério
Que o poeta proseia, proseia
E ainda fica o quê proseá...

ESQUIVAMENTE

Pensar é uma virtude pensativa
de quem pensar resolve em pensamento,
discernindo, pois tem discernimento,
e agindo, ativamente, na passiva.

Parece que pensar é coisa viva
que atinge por si só o seu intento,
porém, se de pensar morre o jumento,
pensarei em pensar de forma esquiva.

Eu penso, logo existo, diz contente
quem não existe mais pois já não pensa,
e, mesmo estando morto, está presente.

Pensar não é tão mau, mas é doença
se alguém põe-se a pensar constantemente,
e penso que pensar não me compensa.

Marcos Satoru Kawanami

.

Sou do tempo...

Que se beijava as mãos dos pais,
Avós, madrinha e padrinho pedindo a benção.
Sou do tempo...
Que tarefa dada era tarefa cumprida.
Sou do tempo...
Que acordava cedo para ir a igreja rezar.
Sou do tempo...
Que o lar era o local respeitoso e harmonioso.
Sou do tempo...
Que se rezava na ceia.
Sou do tempo...
Que se respeitava uma mesa farta,
Onde não existiam sobras, porque a comida era sagrada,
(a dedicação da mãe em prepará-la; não se podia jogar o amor fora e nem chamar de restos o alimento).
Sou do tempo...
Que se respeitava o ser humano, os idosos acima de tudo, que chamávamos de pessoas mais experientes.
Sou do tempo...
Das travessuras, das surras; isso não deixa ninguém revoltado, simplesmente era punido e pedia perdão.
Hoje o tempo meu ultrapassou e nem sei mais quem sou!

Libertação

À José Martí

Dar a vida pelo país,
Jorra o sangue em defesa do povo,
Lutar de corpo e alma, eis a vida
De quem batalha.
Querer a liberdade, e ser livre
Para escolher entre a liberdade
E a prisão libertar e libertar-se.
Eis, poesia a libertação,
Eis o amor a libertação,
Eis a vida em busca de liberdade,
Eis o viver a libertação,
Eis, viver e correr o risco.
Querer ser livre e ser livre
Sem roubar o direito do outro.
Revolucionar coletivamente,
Junto com o povo.
Saber que numa nação tem vida,
E preservar a vida é muito importante,
É lutar pelo porvir, e buscar o sorriso
Das crianças brincando na rua
Livremente.

quando estava só
nos meus vastos campos
de machucadas orquídeas
e silêncio
e à noite bebia em taças opacas
estrelas líquidas e passado
e o vento do deserto
me alcançava trazendo
o rumor dos mortos
você chegou
com vassoura de luz
varreu a casa e limpou os sinos

Beijos de jovens

Um canto
Que o vento leva.
Melodias,
Assovio de um pássaro,
Beijos de jovens
Apaixonados,
Amores, sentimentos,
Coração batendo,
Vida, e
Vivencias,
Sonhar ser eterno, gostar
Amar, que no coração
Jamais fique
Esse deserto!

Lembrança

Sensível esta a sua visão
Ao seu amanhecer,
O sol penetra por sobre
Os seus olhos, tentando
Mostrar a luz do dia...
Sentia um pesadelo...
Sentia um pesadelo,
Na escuridão da noite,
Mas amanheceu...
O sol tênue com a luz
Entra em seu coração!
A luz do sol tênue
Entro por entre
Os escombros da janela,
Mas em você
Ainda resta um vazio...

Olhos

Se as coisas morrem,
E de tudo as coisas
Entristece, e nada
Encontra sentido,
Mas sempre há algo
Que magoe,
Que mate a esperança,
Que mate o ser por dentro,
E de tudo, de tudo
Não abaixe a esperança,
Erga a cabeça, grite!
Grite e acredite, dite
Para o mundo que
A sua vida
Nasceu novamente.

E hoje

Sinto o aroma do café,
Vi o mar ferver,
Vi o sol brincar,
Vi o dia sorrir,
Vi um domingo sem fim,
Para quem quer vivê-lo.
E vi o seu amor passar
E vi o meu amor passar,
E vi o nosso amor se
Encontrar.
Vi o bem e o mal.
Vi a face e sua personalidade
Vi o viver, vi o impossível.
Hoje eu lhe beijei, e senti
O gosto de beijo, beijo
Gostoso, beijo bom.

Juntos

Fu-gi-dio
Es-ta-va o tem-po
A se esmaecer
Por entre o vento...
O beijo
Looooongo - veneno,
Fisgou em meus lábio -
Prazer! Corrompe por completo,
Meu ser.
So-le-tra meu peito a bater...
...
Fascinações noturnas.

Queremos paz

Matar friamente sem mais nem menos...
Ser brutal, doente, desleal
A sua própria espécie humana.
Tanta crueldade e falta de amor,
Como se o céu estivessem sem
As nuvens, e sem a
Sua cor original,
E assim se encontra o mundo,
Sem amor, mas com
Cor de sangue,
Tanto morticínio e dor,
Nesse mundo de desigualdade
O mundo subdividido,
Pelo ego humano,
E toda banalidade.

Por que tanta violência?

Por que tudo vai assim?
Parece que não tem coração.
É uma violência a dominar
O mundo, numa forma tão voraz.
Tantas pessoas sofrendo,
Tantas famílias chorando.
Tão triste pensar que não é um sonho
Que todo este pesadelo é realidade.
Escuto o desespero,
E o grito de quem faz a ,
Atirando para todos os lados,
Desumanamente.
Em que mundo
Estamos vivendo?

Vagarosa

Em todos os cantos encontro um soneto,
Palavras lapidadas, de amor,
Adjetivos que esquentam o corpo,
Numa forma ardente, como uma porção
De sensações, indo ao mesmo encontro.
Mulheres, que apaixonam a vida de um homem,
É capaz de torná-lo um cavalheiro,
Um grande buquê para a querida amada,
Uma pitada de vinho para adoçar o dia.
Escuta o cantar dos jograis,
Que cantam as composições dos trovadores,
Poemas a se espalharem por todos os cantos,
Sensibilizando no ar, todo o relento
Que vaga para o coração dos humanos.
Bate no peito, o calor profundo,
Um corpo em forma de escrita,
Curvos traço, corto palavras
Para mostrar a vida,
Os jovens podem viverem mais,
Eles sabem buscarem o amor,
E transformar tudo em poesia.