Poemas Vinicius de Moraes Patria minha
Profundezas
Eu tô cansado de águas rasas,
de passos curtos na beira do mar,
de conversas que evaporam no vento
sem nunca chegar a um lugar.
Quero mergulhar em oceanos,
sentir a correnteza da alma,
descobrir segredos guardados
onde a superfície se acalma.
Quero pessoas inteiras,
com luz e sombra a brilhar,
com histórias que falam de vida
sem medo de se revelar.
Não me venha com meio sorriso,
com frases feitas, vazias no ar.
Quero a verdade nos olhos,
um mundo inteiro num simples olhar.
Ainda que use flores artificiais,
Você não as poderá regar todas as manhãs;
Ainda que se alimente de sabores artificiais,
Nunca os poderá colher em pés de uvas e maçãs;
Ainda que se criem versos artificiais,
Eles nunca sairão de um coração.
Compasso
Vasculho pelo lago
traços de meu reflexo que,
Malgrado o aparente nada,
Trepidam,
como que conscientes
de um Primeiro Motor que,
a cada compasso,
conduz o nosso comportamento,
conquanto pensemos estar livres.
Ô cólera
Por que razão te compraz sentir tanto ódio?
Tão facilmente mergulhas em águas ociosas
perambulando por cenários de descomedida cólera,
onde anseias por justificar,
em meio a razões inóspitas,
o seu ódio infundado.
Deixas, por fim, este caminho sinuoso,
assim como um rio que,
a todo momento,
já não é mais,
pois tudo passa, efêmero que é,
e deixa de ser.
Eu estou triste. Perdi meu grande amor, não por deixar de me amar, mas sim por não ter sido no momento certo desse amor existir. É difícil aceitar que você tem que se separar de algo que te traz felicidade, te faz crescer, te mostra que a vida é muito mais do que você pensava e ensina que você pode ser amado quando não tinha mais esperança de conseguir isso. Perder algo assim faz você se sentir impotente, frustrado, insuficiente, bagunçado, pois doí, mas também demonstra a força que ela possui, até porque você não é o único que está perdendo algo e não sabe como foi difícil para quem teve que tomar a decisão.
Amar não é simples, vão haver milhões de motivos de querer se separar, como também vão haver milhões de motivos de querer estar junto, nunca vai ser uma equação exata, existem muitas variáveis que podem mudar em um instante o que se sente, como se sente e porque sente. Mas, ao mesmo tempo, não viver essas variações faz você perder o sentido de estar vivo, como viver sem amar, sem sentir a dor de perder um amor, mesmo estando triste te faz sorrir ver aquela pessoa que se ama bem, você ainda se sente triste de não ser você ao lado, mas feliz de saber como seu amor está bem.
É muito estranho estar ao lado e sentir falta e muito gratificante por saber que continua ao lado. Que conflito. Amar é lindo e triste ao mesmo tempo, te olhar e continuar vendo esse brilho que fez eu me apaixonar.
Eludir-se
Das vinhas enraizadas
Corria o sangue,
fruto do pecado original,
Sangue corruptível e devasso.
Na gestação, concebeu discursos,
Justificando os vis atos
A seu modo apologético.
Das causas semeou,
Das consequências colheu
Perenes infortúnios.
Baldado o coletivo,
apelava à autocomiseração.
De si lograria, ao menos,
nem que ínfima simpatia.
O paraíso não está aqui.
Conflituosa escrita
Seguro em minhas mãos um cilindro afunilado vermelho. Com ele percorro as alvas páginas listradas de um diário anônimo, lançando mão de palavras alvejadas de valor. Seu comprimento se estende para além do alcance de minha mão, embora metade do corpo cilíndrico afigura-se circundado por esta, cuja pegada firme não é possível testemunhar, salvo os momentos de afetada intencionalidade: o montante que permanece da vontade subjugada pela mente, que flui sob luz de pensamentos descomedidos.
Flor de lótus
Envolto por uma redoma percebo estar.
Refratam-se os raios de luz que,
ao tocar a borda,
se voltam para os materialistas que aqui vivem,
e cuja visão meu espírito deixou-se apegar,
pois, contrário ao que era aparente,
não havia livre arbítrio, e eles sabiam,
pois assim o desejavam.
Tudo isso, que jaz dentro da redoma,
me acorrenta, iludindo-me,
mas algo me transcende, mesquinho tempo,
para fora dessas paredes cristalinas,
cingindo-me de sensações estranhas,
das quais não me é possível nomear
nem apreender pelos sentidos.
Tudo isso, que jaz dentro da redoma,
turva minha visão, desnorteia-me,
como uma flor de lótus,
mas em guarda me ponho,
ávido por mais uma vez
pôr os pés naquele mundo das ideias,
pois apenas lá meu espírito edifica-se
e permite-se enxergar
aquilo que de belo nunca pôde ver.
Da caverna quero sair,
em busca da verdade.
Sensações
Arrebata-me a visão
tonalidades infinitas de cores.
Destas, meus olhos
captam a mais pura essência de sua forma.
Não obstante, os sentidos se cruzam,
como se atrelados uns aos outros estivessem.
Assim, uma visão ou cheiro particular
são passíveis de evocar
memórias esquecidas no tempo,
e dessa forma, nos vemos possuídos
por sensações variadas,
cujo caos não nos permite distingui-las.
Imiscuem-se, por conseguinte,
todos os sentidos possíveis,
reavivando memórias, como se,
ao abrir a janela do quarto,
testemunhássemos o desenrolar
de eventos inteiramente alheios a nós,
revelando-nos memórias de um passado
longínquo e nostálgico.
Ter memória é bom e ruim.
Porque você sempre vai lembrar da pessoa que propositalmente te enganou e usou.
E mesmo tendo ciência do que te aconteceu, mesmo com o aprendizado, você vai ficar triste.
O que era real pra você, e foi, pro outro não passou de um jogo que você não tinha como ganhar nada.
Você mais uma vez se sente usado, enganado.
Você jura pra si mesmo que é a ultima vez... Nunca é.
Mas você segue sua vida. Se fecha à novas pessoas. Até se sentir preparado para novas aventura.
O engraçado é que é uma experiência gradativa.
Você vai se especializando no próprio ser, se entendendo melhor.
Um dia.. um dia.
Essa história de que amor acaba é pura insanidade.
Dizem isso por pena, ou simplesmente pura maldade.
Infelizmente algumas pessoas não conseguem viver com o saber de que vão carregar pro resto da vida um sentimento do qual não vai embora.
Então, talvez, seja melhor que acreditem que um sentimento tão verdadeiro e doente quanto amor pode acabar. Ter saúde e se manter são é mais importante no final das contas.
Agora dizer que acaba, ou que o tempo tudo apaga por puro prazer. Não é só de uma maldade desumana, é um desrespeito com o sentimento de quem uma dia sofreu por alguém.
Amor verdadeiro não acaba.
Ele pode até se transformar, pode virar carinho sem desejo, boas lembranças, uma boa amizade e esperança de que aquela pessoa tenha uma vida satisfatória mesmo estando longe.
Ou se transforma em raiva, amargura, nojo. E não tenha medo de sentir isso, faz parte da sua experiência de vida.
Mas nunca, NUNCA, se transformará em apatia ou indiferença.
Se for caso, essa pessoa nunca amou.
Respeite sua memória. Respeite sua história. Respeite seus sentimentos.
Pelo pouco que eu entendo da vida, não à melhor caminho para se curar de um amor.
As coisas mais simples da vida são, de fato, as mais bonitas. As mais extraordinárias, as mais desejadas.
Um beijo, um abraço, uma gentileza. Saudade, vontade. Lembrança.
O irônico é que em tudo nessa vida existe uma complexidade infinita.
Em um beijo, existem duas mentes extremamente complexas, e, por vezes, bagunçadas, atraídas uma pela outra, dentro de corpos que se unem com os lábios.
No ronronar de um gato existe um cenário, um contexto, no qual o animal se sente confortável para fazê-lo.
Para existir uma saudade também é preciso existir a angústia de um tempo ruim, assim, valorizamos o tempo bom e a consequência é saudade.
Que demos valor as coisas simples da vida mas sem sermos ignorantes a sua absurda complexidade.
Quando eu pensei que estava tudo acabado...
Percebi que só estava começando, e eu teria que enfrentar aquilo e levar a vida adiante.
O que eu deixei de perceber foi que a vida adiante é cheia de surpresas. E a única coisa que acabou, foi uma fase.
paradoxo do simples;
as coisas mais simples da vida
são, de fato, as mais bonitas,
as extraordinárias, as mais desejadas:
um beijo, um abraço, uma gentileza,
saudade, vontade, lembrança.
e na ironia do cotidiano,
em cada ato, uma complexidade infinita:
um beijo, onde dançam duas mentes,
extremamente complexas e às vezes bagunçadas,
atraídas, unidas pelos lábios.
num suave abraço,
um universo se revela:
o conforto que cria a música,
um cenário onde tudo se encaixa.
e a saudade?
ela exige a angústia de um tempo ruim,
para que possamos valorizar
o brilho dos momentos bons,
e assim, sua ausência ecoa em nós.
que possamos dar valor
às coisas simples da vida,
sem ignorar sua absurda complexidade,
pois é nela que reside a beleza,
na dança sutil entre o simples e o profundo.
erros;
bastou um olhar e me vi preso
neste espelho ocular que banhei em lágrimas.
malditos olhos.
em frações de segundo, vi tudo que fiz.
a única coisa que não queria
era ver, em seus olhos, a minha imagem.
um sorriso amarelo, uma despedida,
mergulhado em remorso,
um lembrete de que eu erro.
queria gritar; gritei, por dentro.
queria chorar; chorei, por dentro.
queria morrer.
morri, por dentro.
para nunca mais nascer de novo.
ódio;
quero brigar.
te nocautear com um abraço,
te cobrir de porradas de amor,
quebrar tuas costelas com cócegas,
rasgar tua pele com carinhos,
te asfixiar com um beijo,
te matar de afeto.
eu te odeio.
reticências;
algum dia, em um supermercado,
vamos nos encontrar,
eu escolhendo um vinho,
e você, frutas.
comentaremos sobre a vida,
sobre como tudo mudou com o tempo,
como éramos imaturos,
e as chances que perdemos.
te olharei com um olhar triste
e um sorriso meia-boca,
feliz em saber que você está bem,
mas direi que preciso ir,
enquanto olho para baixo,
para o meu carrinho.
personificaremos reticências,
eternas reticências.
pra sempre...
...
armazenando lembranças;
passou-se o momento
de colocar tudo que me lembra você
na caixa de sapatos do esquecimento
e enfia-lá no fundinho escuro
do meu guarda-roupas.
só por tempo suficiente
para eu esquecer
essas memórias.
quando decidir organizar
as minhas coisas,
abrirei a caixa,
reviver cada fragmento,
cada riso, cada dor.
decidir se te dou
ou se te jogo fora,
pois você não pode morar
aí pra sempre.
talvez, um dia, eu consiga
libertar essas lembranças
e deixar que o espaço
se encha de novas histórias.
vira-lata
mesmo sem carne,
roo o osso —
rosno
para mim.
mostro os dentes —
ninguém encosta.
curvo, cavo,
te enterro.
quebra os dentes,
não enche estômago.
tutano egóico,
só por ser meu.
vitoria
talvez seja só um reflexo do que nunca alcancei.
se um dia te encontrar —
te reconhecerei?
havia algo insaciável,
a fome me corroía.
me entreguei a camas rasas,
onde o calor de corpos alheios
me deixou de barriga vazia.
(será que sua gengiva é mel?
ou é puro piche?)
procurei no asfalto cinza,
nos vidros pretos
dos carros brancos.
encontrei vestígios dela
em lençóis úmidos,
bordados em amarelo.
segui por caminhos
que não prometiam chegadas.
repetiam-se em silêncio:
cicatrizes que voltam.
e o nome permaneceu —
nas sombras do tempo,
na hipoderme:
gravou.
sangrou.
escorreu.
(meu estômago morreu.
de fome.)
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