Poemas de Tomas Tranströmer

Cerca de 12 poemas de Tomas Tranströmer

Encontro-me de pé sob um céu estrelado
E sinto como o mundo rasteja
no meu sobretudo, para fora e para dentro,
qual um formigueiro

RETRATO DE MULHER – SÉCULO XIX

A voz sufocada no vestido. Os seus olhos seguem
o gladiador. Então, ela mesma aparece , altiva,
na arena. Será livre? Uma moldura dourada
segura o retrato, no cavalete.

E o que era "eu"
É uma simples palavra
Na boca das trevas de Dezembro

Em Março de 79

Farto de todos aqueles que com palavras fazem palavras mas onde não há uma linguagem;
Dirigi-me para a ilha coberta de neve.
A veação não conhece palavras.
As páginas em branco dispersam-se em todas as direcções.
Eu dei com vestígios de cascos de corça na neve.
Linguagem, mas nenhuma palavra.

O penhasco da águia

Por detrás do vidro do terrário
os répteis
estranhamente imóveis.

Uma mulher pendura roupa
em silêncio.
a morte é uma calmaria.

Pelo fundo da terra
a minha alma escorrega
silenciosa como um cometa.

GRAUS NEGATIVOS

Encontramo-nos numa festa que não gosta de nós. Ao fim, a festa deixa cair a sua máscara e mostra-se tal como é: uma estação de manobras. Colossos gelados estão de pé, sobre os carris, no nevoeiro. Um pedaço de giz riscou as portas da carruagem.

Não se devia mencionar, mas aqui há muita violência reprimida. Por isso os pormenores são tão pesados. E é tão difícil vermos o outro, que também existe: um raio de sol reflectido que se movimenta por cima do muro da casa, que desliza através do bosque ignorado, de rostos cintilantes; uma frase bíblica que nunca se escreveu: "vem até mim, pois eu sou contraditório como tu".

Amanhã trabalharei numa outra cidade. Eu corro para lá, através da madrugada que é um grande cilindro negro e azul. Oríon está pendurada por cima da geada. Crianças num montão de mudez esperam pelo autocarro, crianças pelas quais ninguém reza. A luz cresce, pouco a pouco, como o nosso cabelo.

Quieta, a formiga acorda, espreita para dentro do
nada. E para além das gotas da escura folhagem e
do murmúrio noturno, profundo no desfiladeiro do verão,
não se ouve mais nada.

Fim de estação. Eu continuei a viagem
Para além do fim da estação.

Quantos eram? Quatro,
Cinco, poucos mais.

Casas, caminhos, nuvens,
Enseadas azuis, montanhas
Abrem as suas portas

No meio da vida acontece que a morte surge e mede o homem. A visita é esquecida e a vida continua. Mas o fato está feito, silenciosamente.

Nós não o conhecemos, mas sentimos: existe um irmão barco para a nossa vida que leva uma rota completamente diferente.

O Casal

Eles desligaram a luz e o seu globo branco brilha
um instante e depois dissolve-se, como um comprimido
num copo de escuridão. Depois a ascensão.
As paredes do hotel elevam-se na escuridão do céu.

Os seus movimentos crescem mais suaves, e eles dormem
mas os seus pensamentos mais secretos começam a conhecer-se como duas cores que se conhecem e correm juntas no papel molhado de um desenho do rapaz da escola.

É o escuro e o silêncio. A cidade no entanto está mais próxima esta noite. Com as suas janelas fechadas.
As casas vieram.
Eles permanecem embalados e esperam muito próximo,
uma multidão de gente com faces em branco.
no

Insegurança Nacional

A sub-secretária inclina-se para a frente e desenha um X
e os seus brincos balançam como espadas de Damocles.

Como uma colorida borboleta é invisível contra o chão
Assim o demónio funde-se com o jornal aberto

Um capacete desgastado por ninguém ganhou poder
A mãe tartaruga foge voando por debaixo da água.