Poemas que Falam sobre o Racismo
Bolinhas de gude
Jorginho foi preso
quando jogava bolinha de gude
não usou arma de fogo
nem fez brilhar sua navalha
Jorginho era criança igual às outras
queria brincar
O brinquedo poderia ser um revólver
uma navalha
um pandeiro
quem sabe um cavalinho de pau
Jorginho queria brincar
Jorginho viu um filme americano
no outro dia
fez uma quadrilha de mentirinha
sempre brincando
a quadrilha foi ficando de verdade
Jorginho ficou grande como Pelé
todos os dias saía no jornal...
Televisionado
só não deu autógrafo
porque estava algemado
Ele era o facínora
que brincava com bolinhas de gude.
Civilização branca
LINCHARAM um homem
entre os arranha-céus
(li num jornal)
procurei o crime do homem
o crime não estava no homem
estava na cor de sua epiderme
Íntimo Dado (A Senha)
Cada vez que gritam: pobre!
me assusto. Recuo ao canto
mais perto do rés do chão.
Negro, fico sem cor.
Fúria, fico sem fala.
Pois sei que as balas dos patrões,
que as balas dos políticos, da polícia
correm atrás de mim sem-terra,
correm atrás de mim sem-teto,
correm atrás das minhas razões
por esses labirintos finitos
enredados de justiça e democracia,
só para eu sair nos jornais,
morto na foto,
sangue vazando pelos ouvidos.
Toda vez que eles gritam: pobre!
é a tortura, é o estampido, é a vala.
É a nossa dor que tranquiliza os ricos.
Alô rapaziada... tem de antenar o dia:
o vento que venta lá, venta cá.
Porque tanta variedade de flores?
Tanta variedade de cores?
Tanta variedade de tamanhos?
Se as pessoas parecem que só enxergam
em preto e branco
e colocaram ordens nas formas
não tem graça sermos todos da mesma cor
não tem graça sermos todos da mesma forma
o que encanta são as diferenças
Qual seria a graça,
de correr por um jardim sem cores
ou qual a graça se todas frutas
tivesse os mesmos sabores?
Aceite as diferenças
ame as diferenças
porque você é diferente!
Disse o criador a primeira pessoa
“Vieste do pó e ao pó voltará. ”
E como isso lhe soa?
Temos todos o mesmo principio
e o mesmo fim
Ele não criou raças
Criou humanos
Criou a humanidade
Deveríamos ser uma grande fraternidade
Olhe para o solo
Tem uma variedade de cores
Solo da terra
Então por que entrar em guerra
Assim só causamos dores
Basta!
Plantemos esperança
Plantemos flores
De todas as cores
Consciência Negra
20 de novembro é uma homenagem a Zumbi dos Palmares
Mas devemos lembrar...
consciência não tem cor!
Sonhos livres pelos ares
que buscam conquistar
o respeito e o amor.
O negro ajudou a construir
a sociedade brasileira,
A ele nosso obrigado,
E pedido de desculpas por tão amargo labor.
Que hoje saibamos reconhecer seu valor
junto com o europeu
o nego e índio valente
tornou nossa gente
uma nação diferente!
Temos uma multiplicidade racial
Temos a beleza de todas as raças!
Democratizamos a beleza!
Agora precisamos democratizar
o respeito ao ser humano.
Eu tive cada vivência, virei referência
Pros amigo que morreram só pela pobreza
Mas é que a gente pensa, pensa se compensa
Estuda quatro anos e vê racismo na tua empresa
Minha essência
Minha essência
Minha etnia
A minha vivencia
Vem do dia-a-dia
Se minha cor não te julgas
Por que tu julgas a minha?
Sou negra, mulata, preta!
Sou tudo isso sim
Tudo isso é minha essência
E tenho orgulho de mim
E quanto ao padrão de beleza
Pra que rotular?
Tem gente bonita em todo lugar
Esse papo da sociedade
De defender e defender
vem viver nosso perrengue
pra saber se vai doer
Cansamos de ser rebaixados
Todos nós temos direitos
E pra que preconceito?
É hora de mudar
Esse tempo já passou
Ser ignorante não vai rolar
Já dizia a princesa
"Se mil tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para por fim a escravidão"
Então pra que protestar irmão?
E por fim vou deixando minha mensagem de paz
Pra te conscientizar
Que ser negro não é defeito
Afinal somos todos iguais.
Covid-19
Há relatos de portugueses agredidos além-mar,
Culpando-os do novo vírus propagar.
Muitos media não noticiam estas atrocidades, nem encontram os culpados.
Coitados… permanecem por lá, assim, desamparados!
Será que estas hostilidades não revelam racismo,
Ou, de certa forma, desejo de vingança ou segregacionismo?
Pois, muitos povos vivem no recato e tranquilidade
E, sempre, imunes a qualquer atrocidade…
by António Vilela Gomes
PRECONCEITO
Esse tema é complicado,
Só falando se dá jeito,
Conceito desfavorável
Que se tem a seu respeito.
Quando alguém lhe desmerece,
Mas nem mesmo lhe conhece,
É o mal do preconceito.
Tem gente que acredita
Numa tal religião.
Catolicista, budista?
O que vale é a adoração!
Quem é certo? Cristianismo?
Ou seria o Islamismo?
Todos povos são irmãos!
Quem seria a melhor raça?
A que vem de tal cidade?
Qual Estado? Qual país?
Quem tem superioridade?
Negra cor? Ou branca pele?
Bem melhor que se nivelem
E se tratem na igualdade!
Haveria menos guerra
Se o homem pensasse mais.
Não é tão difícil assim,
Vamos ver o mundo em paz?
Basta você respeitar.
Diferenças? Aceitar.
Todo mundo é capaz!
BARULHO
Um minuto….
A cada três
Um minuto…
de silêncio,
pela mãe pretaSeverina
Que encara de frente,
mais uma vez,
A sua sina
Quinhentos,
Quinhentos anos de silêncio
Sob o jugo do capitão do mato
Os grilhões,
as correntes
Cento e trinta
Quem aguenta?
Quase um século e meio
De tormenta
Livres das correntes de ferro
presos às correntes sanguíneas
à miséria da favela
asfixia!
Moral, letal!
Vão-se Pedros, Joãos, Marias, Anas
Silvas com suas histórias interrompidas
...“pow”
Três ou treze,
A bala
Sempre perdida
Só se recorda do caminho errado
E, de três em três
Minutos
Lá está
Um minuto de silêncio? Por quê?
Apenas mais um,
Somado a uma vida
Que se findou
Calada
Somado ao grito calado
De um coração materno arruinado
Pela sede de vida e de morte
Que levam às polarizadas
Extremidades
Correntes elétricas
O desespero...
Alocado ali, entre o peito e a garganta
Junto a tudo que jamais se pôde dizer
Não!
De silêncio…
Basta!
É preciso barulho
É preciso muito barulho!
Para que, das entranhas da devastação
Reverbere a igualdade
A voz com gosto de sangue
Retida
Barulho que desnude
O gosto amargo
Da falta de sabor
Da vida de milhões…
Que, vivos
Morrem um pouco
a cada minuto de silêncio
Muitos...
Muitos Minutos de Barulho!
Preta não é parda,
Lugar de mulher é onde ela quiser,
Gay pode usar saia,
Respeite o nosso candomblé.
O machismo mata,
O feminicidio só aumenta,
A bala perdida dízima,
Só derrama sangue vermelho.
Amar ao próximo pelo visto jamais,
Homofobia mata em praça pública,
A xenofobia parece ser eficaz,
Pra jogar milhões e milhões nas ruas.
Já escolheu quem deve morrer ?
Já decidiu quem vai viver?
Você tem o que comer ?
E quem mora na rua como vão sobreviver?
O silêncio grita,
Criança abusada veste rosa?
É melhor abortada ou abandonada?
De um jeito ou de outro ela está morta,
Se você não fizer nada,
Por dentro e por fora.
O sonho de um rei
No canavial dorme um rei à sonhar,
com a fouce malhada pelo trabalho,
tendo em suas mãos o cetro da dor,
mostrado em açoite; amarrado no tronco.
Curvando a cabeça sem coroa, mas
tendo a verdadeira nobreza em seu peito,
seu peito preto de sangue vermelho
igual de seus algozes que impedem sua voz,
mas sua mente sonha e seu rosto chora,
lembrado do torrão natal… cor de sangue,
é a terra de sua terra, a onde era rei...
Na África era o seu punhado de alegria,
alegrando e sonhando com palmeiral verde escuro…
No sonho este rei era de novo livre,
com o pé no chão firmado de coração real,
numa marcha de contos reais sobre si,
longe de tudo e perto das correntes,
sua alma livre da escravidão voava simplesmente…
Contudo, sua alma arroubada panteia,
lembrando a negra rainha que em sonho vozeia,
das lágrimas que molham seu rosto
tem o nome de todos seus filhos,
em seu sonhos não há chicotes em seu corpo
apenas o beijo na face de seus filhos…
De joelhos, de mãos estendidas asseguram,
tudo está livre dentro do escravo que sonha,
cortando em seu rosto uma lágrima dorida,
que de insensível bebia a terra de sua agonia.
Mas o rei que sonhava, sonhava livre, sem correntes,
gritava para si e para outros: - Não apagará a minha história!
Hoje seu sonho ainda é sonho, na mente dos sonhadores,
escravidão de correntes invisíveis nos prendem,
açoites do racismo machucam a pele negra,
que ainda sonha o sonho do rei que sonhou….
Que o seu corpo fosse tão livre quanto sua alma.
Graças à cor
Graças à cor eu choro,
Pensando nos sofridos
Deste país onde moro
Graças à cor eu grito,
Pelo desejo de uma vida
Onde o respeito é mais bonito
Graças à cor, o mal corre
Eles sofrem, eles sentem
E este maldito do racismo
Machuca até que um morre
Graças à cor, graças à cor
O preconceito só traz tremenda dor
Graças à cor, graças à cor
Alguém por favor,
salva-nos deste temor!
... Jesus amado, ele é praticamente um branco, tão bom é seu caráter. Para mim, ele é a prova viva de que um homem pode ser preto de pele e branco de alma. O fato de ser negro não significa o fim, basta se esforçar para ser um branco em suas atitudes, e é nisto que reside a esperança de um homem de cor.
... Alimento a fé de que mesmo um preto pode receber o perdão divino - com ressalvas, claro -, e quem sabe, até herdar o paraíso, isso, se de coração sincero, desejar ardentemente embranquecer a alma. Afinal, para o Senhor mais vale um injusto arrependido que dois justos que não necessitam de perdão.
Todo brasileiro é mascavo
Pertencem a essa terra.
Vieram, de não sei onde;
De não sei do que;
E, não sei porque....
Mas vieram e construíram essa nação.
Mistura do mundo novo.
Que se precipitou há nascer.
No solo da terra brejeira.
Não se colocou: nem ; e fronteira.
De alguma cabeça. De quem queria aparecer.
Sabemos a cor de nossa bandeira.
Somos todos mascavos.
Viemos de todo lugar.
O pé no barro e olho no
Futuro. Bons frutos plantar.
“Respeito. Respeito”
Isso é preciso.
O dinheiro juntado no jarro.
Não fica na mão de bandido.
Verdadeiros ladrão da Nação.
Onde o canalha, apropria.
Sobra para o pobre, agonia.
Já fazem 500 anos.
Crescer e amadurecer.
Preconceito. Nunca se admitir.
Afinal , ninguém é tão perfeito.
No seu modo de agir.
Mas , somos todos mascavos.
E podemos encaminhar
Nossa nação.
É o Novo Mundo a emergir.
Se, antes, encaminhado não foste.
No dégradé de suas cores
Nova história. Há de surgir.
Marcos fereS
Melanina
Triazina
Minha cina
Triamina
Triste cina
Proteína
Protestei
Melanina
Me apeguei
O sol sinaliza
A célula sintetiza
A pele alcalina
Protegida por queratina
Me faz negra retinta
Envelhecer depois dos trinta
O estigmas que a mim atribuíram
Eu rejeito
Eu recuso
Eu reestruturo
O normal de mim atacar
Em exceção vou transformar
O normal de rejeitar
Vou fazer me aturar
O normal é menosprezar
Vou fazer deslumbrar
Do meu poder
Do meu amor
Da realidade, que me faz igual a tu
Mesma realidade que me faz diferente de tu
Diploma, ordem, emprego, empresa
O preço do meu suor
O preço do sangue da minha avó
Tenho o que preciso, por isso, aceito tu
Aceito como igual, não como inimigo
Não trafiquei gente
Não invadir países
Não matei inocentes
Não escravizei ninguém
E por que me tomas como bandido?
Logo eu, a sequestrada, a traficada,
a abusada, a inocente,
a vítima da sua doença
Por que me olhas como se fosse teu espelho?
Carne rasgada
O povo brasileiro
Com fama de hospitaleiro,
guerreiro,
Não se importa com a morte de um negro
nascido e crescido
Na pátria amada brasil
Mas se importa com armamento
Acredita em fake news
Agride adversários
E acha que é lixo
Quem luta por igualdade
A carne rasgada e ferida,
atrocidade maldita,
Mostra racismo e violência
Na terra do deus acima de todos,
Desnudo de caridade e cheio de maldade
Na patria amada, sangrada
Onde a mentira e tirania
escancara o brasil
Que se desfaz para uns e previlegia os demais
