Poemas quando eu me Amei de Verdade
Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quando eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito: "Não"
Nota: Trecho do poema "A última cantiga".
AMOR BASTANTE
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o Carnaval chegar
Eu sou branco. Você é vermelho.
Quando estamos juntos somos rosa.
Antes de eu conhecer você, eu não sabia o que era rosa.
Até que eu vivia bem sozinho:
comia o que e na hora que eu queria;
saía na hora quando bem entendia para ir ao lugar que tinha vontade de ir,
numa liberdade, independência e auto-suficiência.
Quando eu vi você, fiquei vermelho de paixão
e nem me incomodei com os meus brancos.
Até perceber-me que eu já não era mais o branco.
Foi quando o vermelho começou a me sufocar e então, brancamente, me protegi.
Mas às vezes eu me irritava e brigava com você.
No fundo, era porque você era vermelha e não branca igualzinho a mim.
Percebi-me em alguns variados momentos querendo mudar a sua cor.
Ainda bem que você soube permanecer-se vermelha, ter suas próprias emoções,
sentimentos, comportamentos e pontos de vista.
Caso contrário, você seria também branca.
Mas tive minhas reticências,
pois estava acostumado ao meu ritmo e modo de vida branco.
Temi perder minha individualidade.
Mas aos poucos fui descobrindo que o branco para se transformar em rosa
não é perder, desestruturar-se e desaparecer, mas é completar-se com o vermelho.
O rosa me atemorizou, mas hoje vejo quanto é gostoso conviver,
relacionar-me, amar e ser amada.
Dá mais trabalho porque nem tudo pode e deve ser feito brancamente,
mas sem dúvida tudo pode ser mais gostoso e rico com o vermelho.
Frequentemente, um bom lanche branco
não é tão agradável quanto um singelo jantar rosa.
Um mundo muito Cor de Rosa a todos....
- Quando eu uso uma palavra - disse Humpty Dumpty num tom escarninho - ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique ... nem mais nem menos.
- A questão - ponderou Alice – é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem coisas diferentes.
- A questão - replicou Humpty Dumpty – é saber quem é que manda. É só isso.
Aí teve aquela cena também, de quando eu fui te dar tchau.
(…) E você olhou e me perguntou: "Não to esquecendo nada?" E eu quis gritar: "Tá, tá esquecendo de mim."
E você depois perguntou: "Não tem nada meu aí?" E eu quis gritar: "Tem, tem eu. Eu sempre fui sua."
Só
Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha!...
As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas
Só a triste, coitadinha...
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha...
Eu chego então à janela:
E fico a olhar para a lua...
E fico a chorar com ela! ...
Quando rever é reviver
Preciso reviver, eu bem sei,
mesmo que só na lembrança,
voltar à minha antiga casa,
rever a minha infância
e todos os momentos felizes que lá passei.
Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava.
A palavra morre
Quando é dita,
Alguém diz.
Eu digo que ela começa
A viver
Naquele dia.
Quando eu te vi andava tão desprevenido
Que nem ouvi tocar o alarme de perigo
E você foi me conquistando devagar
Quando notei já não tinha como recuar
E foi assim que nos juntamos distraídos
Que no começo tudo é muito divertido
Mas sempre tinha um amigo pra falar
Que o nosso amor nunca foi feito pra durar
Por mais que eu durma eu não descanso
Por mais que eu corra eu não te alcanço
Mas não tem jeito eu não sei como esperar
Desesperar também não vou
Não vou deixar você passar
Como água escorrendo nos dedos
Fluindo pra outro lugar
Ninguém pode negar que o nosso amor é tudo
Tudo que pode acontecer com dois bicudos
Não são tão poucas as arestas pra aparar
Mas é que o meu desejo não deseja se calar
Até os erros já parecem ter sentido
Não sei se eu traí primeiro ou fui traído
Não te pedi uma conduta exemplar
Mas é que a sua ausência é o que me dói no calcanhar
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Eu não sei quem sou
Nem porque "faço"
E às vezes me sinto vivo
Quando quebro um desses objetos chatos
Que a gente esbarra sem querer
Daí escreve como quem levasse uma topada.
Tercetos
Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
"Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!
Como queres que eu vá, triste e sozinho,
Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!
Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!
Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!
Morrerei de aflição e de saudade...
Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!
Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! deixa que amanheça!"
E ela abria-me os braços. E eu ficava.
Eu encontrei-a quando não quis
mais procurar o meu amor
e o quanto levou foi pra eu merecer
antes um mês e eu já não sei
e até quem me vê lendo jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei,
e ninguém dirá
que é tarde demais
que é, tão diferente assim
do nosso amor
a gente é quem sabe, pequena...
Deus, que será de ti quando eu morrer?
Eu sou teu cântaro (e se me romper?)
A tua água (e se me corromper?)
Sou teu agasalho, teu afazer.
Vai comigo o significado teu.
Quero quando eu morrer, tuas mãos em meus olhos:
quero a luz, quero o trigo de tuas mãos amadas
passar uma vez mais sobre mim essa doçura:
sentir tua suavidade que mudou meu destino.
Quero que vivas enquanto, adormecido,
espero que teus olhos sigam ouvindo o vento,
que sintas o perfume do mar que amamos juntos
e que sigas pisando a areia que pisamos.
Quero que o que amo siga vivo
e a ti amei e cantei sobre todas as coisas,
por isso segues florescendo, florida,
para que alcances tudo o que meu amor te ordena,
para que passeie minha sombra por teus cabelos,
para que assim conheçam a razão de meu canto.
Viver é o meu código e o meu enigma. E quando eu morrer serei para os outros um código e um enigma.
Despenhadeiros.
Eu não sabia que o perigo é o que torna preciosa a vida.
A morte é o perigo constante da vida.
PROFISSÃO DE FEBRE
quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento
CINCO COISAS
Quando um dia eu for embora
Quando então me despedir
Pedirei apenas silêncio
E mais cinco coisas
Minhas cinco verdades perfeitas
Cinco coisas e nada mais.
A primeira é o amor sem fim
Amor pelas pessoas
Pelas árvores pelas flores
Amor pelos animais.
A segunda é rever o outono
Com suas folhas sopradas
Sobre a terra à qual voltaremos.
A terceira é o inverno rigoroso
A chuva que amei, o calor do fogo
A aquecer nossas noites eternas.
Em quarto lugar, o verão ardente
Redonda fruta vermelha
Pairando sobre o meu paladar.
A última coisa que eu peço
São teus olhos, meu amor,
Não quero dormir sem os olhos teus
Não posso viver sem o teu olhar
Eu trocaria o sol da primavera
Para que continuasses me olhando.
Isso, enfim, o que mais quero
É quase nada e quase tudo.
Nota: Adaptação de trechos do poema "Peço silêncio" de Pablo Neruda
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