Poemas Olavo Bilac sobre Patria
"'Respeitar' uma opinião da qual discordamos só é possível em questões muito obscuras e difíceis -- por exemplo, o alcance ontológico da física quântica, ou as causas das mudanças climáticas -- nas quais, não sendo possível chegar a conclusões definitivas, temos de admitir que certas opiniões que nos parecem erradas podem ter sido úteis e valiosas na busca progressiva da verdade. Opiniões erradas dignas de respeito são comuns nas ciências e na filosofia. Mas, nas discussões populares, onde a maioria não busca a verdade e sim apenas a persuasão, nada disso é possível nem necessário. A afetação de respeito por qualquer imbecilidade que se pretenda contestar é um fingimento que só serve para tornar o debate mais confuso do que ele já é."
Se há uma coisa que, quanto mais você perde, menos sente falta dela, é a inteligência. Uso a palavra não no sentido vulgar de habilidadezinhas mensuráveis, mas no de percepção da realidade.
Quanto menos você percebe, menos percebe que não percebe. Quase que invariavelmente, a perda vem por isso acompanhada de um sentimento de plenitude, de segurança, quase de infalibilidade. É claro: quanto mais burro você fica, menos atina com as contradições e dificuldades, e tudo lhe parece explicável em meia dúzia de palavras.
NADA estupidifica mais perfeitamente um ser humano do que o uso habitual do vocabulário das ciências naturais em contextos que escapam ao horizonte cognitivo próprio delas. O sujeito tem a impressão de que está nomeando a realidade das realidades, quando está apenas fazendo metáforas e metonímias muito vagabundas.
A primeira e mais notável característica do ensino da filosofia no Brasil é o seu amor idolátrico aos "textos" e seu total desprezo aos assuntos dos quais eles tratam. O sujeito passa anos esmiuçando o pensamento de Descartes ou de Nietzche, e quando você pergunta "Mas isso que eles estão dizendo é verdadeiro ou falso?", ele olha para você com a cara de quem estivesse vendo um recém-egresso do Pinel.
Todo sujeito incapaz de apreender um problema filosófico pode, no entanto, perceber por mera leitura como esse problema aparece formulado em Kant, em Hegel ou em Nietzsche. Assim, cria-se uma filosofia sem assunto próprio e reduzida a "uma atividade com textos", como dizia o prof. Gianotti. É um fenômeno exclusivamente brasileiro, desconhecido no resto do mundo.
No meu modesto entender, todo diploma de letras ou ciências humanas obtido numa universidade brasileira deve conferir ao seu portador o direito de cortar cana pelo resto da sua vida.
Iluminismo e liberalismo estão certos nos valores que afirmam e errados naqueles que negam. Leibniz já havia observado que isso acontece com muitas filosofias.
Quem se arrepende perante Deus é o topo do seu ser, a sua parte mais elevada e altiva, o núcleo mais luminoso da sua autoconsciência. Se não é daí que vem o arrependimento, não é arrependimento, é só vergonha de estar nu. O arrependimento verdadeiro não se refere a nenhum dos seus miseráveis pecadinhos cotidianos, grandes ou pequenos, mas à suprema e única tentação, da qual nascem todas as outras por reflexo longínquo: a tentação de sentir-se uma entidade espiritual autônoma, sem raiz no eterno.
Só aquele que se conhece, que domina o panorama da sua alma desde o topo da sua autoconsciência pode saber o que é o arrependimento verdadeiro, e esse arrependimento é total e instantâneo, é uma graça indescritível, que muitos só alcançam na hora da morte mas que às vezes, por uma espécie de graça em segunda potência, se torna acessível em vida.
"A fé sem as obras é morta" não quer dizer apenas que a fé sem obras é uma fé diminuída, incapaz de salvar. Quer dizer que ela NÃO OPERA como verdadeira fé, que é mera crença ou idéia e não fé, isto é, que ela não existe de maneira alguma. Se a fé mesma já não é em si um agir, um trabalho, uma OBRA no interior da alma, ela não existe exceto como hipótese.
O princípio de TODA compreensão histórica e sociológica é o amor ao próximo, incluindo a preocupação pessoal com o seu destino eterno. Ignorando isso, o estudioso não se coloca na posição real de indivíduo humano concreto, mas na de um observador divino hipotético, na qual toda a sua visão da realidade histórico-social se reduz a uma dança de estereótipos.
"Uma criança pequena pode aprender matemática, gramática, ciências naturais, desenho, música, dança e esportes sem grande dificuldade. Mas a História e sobretudo a filosofia dependem de uma compreensão mais madura da vida."
É no mínimo curioso, para não dizer cômico, que alguém se considere filósofo por ter cursado uma faculdade de filosofia. Pela lógica, o que o sujeito é se define pelo que ele faz e não pelo que recebeu pronto dos outros. A qualificação numa atividade profissional prova-se no seu exercício e não na mera autorização recebida para exercê-la. Um diploma de letras não faz de você um escritor, um diploma de Direito não faz de você um advogado. Tudo depende do que você faz depois de recebê-lo. Isso é tão óbvio que ter de explicá-lo já prova que o nosso interlocutor é um jumento. Escreva pelo menos três livros de filosofia que os outros filósofos considerem importantes, ou dê cursos onde as pessoas sintam encontrar algum ensinamento filosófico valioso, e aí sim diga que é filósofo. Um diploma prova apenas que seus professores o consideraram apto a tornar-se filósofo, e não que você já o seja efetivamente.
A coisa mais difícil e arriscada, na vida intelectual, é apreender um sistema, uma ordem, uma rede de conexões por trás de dados fragmentários e inconexos. No mínimo é preciso experimentar muitas hipóteses contraditórias até encontrar a que seja menos inviável, e essas hipóteses só acabam se revelando bastante tempo depois dos fatos transcorridos, quando várias tentativas já falharam (as famosas 'opiniões dos sábios', que segundo Aristóteles são o começo de toda investigação). Mas, no Brasil, as coisas mal acabam de acontecer e já aparecem mil espertinhos desvendando as conexões mais espetaculares por trás de tudo, sem nem mesmo cogitar de outras hipóteses possíveis.
Se aparece um cidadão que dá ordens à tempestade e ela obedece, manda os peixes caírem na rede e eles caem, manda as doenças sumirem e elas somem, manda um morto voltar à vida e ele volta, é mais sensato acreditar nesse cidadão ou numa comunidade de profissionais que estão a todo momento cavando verbas colossais, disputando prestígio e se desmentindo uns aos outros? Só um cretino acha que a comunidade científica é mais confiável do que Nosso Senhor Jesus Cristo.
Por que meditar a Paixão de Cristo? Porque o padre mandou? Para se fazer de santinho? Para fazer um bonito sermão? Para sofrer sem motivo? Nada disso. Meditá-la porque ela é o centro, o eixo em torno do qual tudo gira, o único acontecimento, desde a Criação do Mundo, que se passou sem jamais passar; que está sucedendo eternamente a todo instante quer você pense nele ou não.
Se as leis da razão não têm em si mesmas o princípio da sua própria inteligibilidade, então recebem essa inteligibilidade de fora [...], o que é autocontraditório. Mas, se a razão universal ou conjunto das relações lógicas possíveis tem inteligibilidade em si mesma, ela própria tem de ser inteligível a si mesma, portanto é não só inteligível, mas também inteligente. Qualquer tentativa de negar isso leva a contradições insuperáveis.
Não faz sentido explicar o universo físico em termos de relações matemáticas e ao mesmo tempo condicionar essas relações à existência do mesmo universo, como se fossem meros fatos empíricos e não leis incondicionalmente válidas, independentes de qualquer universo. Ou as leis da razão são eternas, ou toda e qualquer explicação do que quer que seja é história da carochinha.
Eu não poderia jamais ser um filósofo universitário. Não há praticamente debate universitário de filosofia que não me pareça errado desde a base, porque não parte da 'presença total' e sim da divisão universitária das disciplinas. E estou falando das universidades sérias.
Toda idéia de tempo cíclico, se tomada ao pé da letra, é autocontraditória, já que uma sucessão de estados de coisas, se volta exatamente ao ponto em que começou, não sucedeu de maneira alguma, pois sucessão é alteração. Nenhuma sucessão volta ao início. Nossa narrativa dela, ou a contagem que fazemos dos seus momentos, é que subdivide num número limitado de etapas aquilo que, por si, segue em frente ilimitadamente.
A espiral é também somente uma figura de linguagem, pois um “mesmo” ponto do ciclo, tomado em dois níveis diferentes, NÃO É o mesmo ponto, exceto analogicamente e do ponto de vista da narrativa ou contagem.
Se a consciência que tenho de mim mesmo — a identidade do meu “eu”– fosse um efeito da continuidade corporal, ela seria inconstante e mutável como os sucessivos estados do meu corpo, e não haveria por trás destes uma consciência constante capaz de registrar, comparar e unificar num conceito geral estável as mudanças que o meu corpo sofre. Se fosse um produto da impregnação linguística, um simulacro de identidade introjetado pelo uso repetido do nome e do pronome, como faria eu para saber que o nome pelo qual me chamam e o pronome pelo qual me designo se referem a mim? Se, por fim, fosse um resultado da abstração que por trás dos estados apreende a unidade da substância, QUEM, pergunto eu, operaria o mecanismo abstrativo? Conclusão: a identidade do meu eu é independente e transcendente em face do meu corpo, da linguagem e das operações da minha inteligência abstrativa. É uma condição prévia sem a qual não pode haver identidade corporal, nem linguagem, nem pensamento. A identidade do “eu” é a própria unidade do real que se manifesta na existência de uma substância em particular que sou eu. Nenhuma explicação causal tem o poder de reduzi-la a qualquer fator, pois é ela que unifica todos os fatores. A existência do “eu” é o inexplicável por trás de tudo o que é explicável.
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