Poemas Lya Luft fim de Semana
Na carência, a alma implora; no excesso, o coração cansa; no meio, a paz mora.
A falta gera angústia: tudo aperta e grita; na vida aflita, o peito chora.
No excesso, tudo sufoca, tudo irrita; o fôlego vai embora.
Nos extremos, a busca é longa; no meio-termo, a paz vigora. O equilíbrio prolonga, serenidade aflora.
Paz de Espírito
No peito, um espírito despedaçado busca nas estradas o alívio esperado. Um acalanto, mas a alma sabe: é um breve encanto.
Onde o coração sangra em desalento, a mudança de lugar é um mero vento.
A dor, entranhada, não se cura na estrada; é uma ferida gravada na alma.
Por mais que se viaje, por mais que se ande, a enfermidade na alma permanece constante.
É preciso mais que mudança de cenário para curar o espírito; é um processo lento e diário, um luto necessário.
Um registro profundo das dores vividas, das lágrimas derramadas, das despedidas.
Um mergulho no íntimo, um olhar atento, um ombro amigo, um desabafo com o divino que traga a paz de espírito.
A vaidade obsessiva, vida vivida para os outros, refém da busca incessante por validação externa e da encenação, resultando no esquecimento de si.
A vaidade compassiva, valorização de si, sem negligenciar relações genuínas, promovendo o bem-estar, o equilíbrio na vida.
Comparações
Na vida, somos envolvidos em comparações. Pela vaidade, menosprezamos os menos afortunados. Pela inveja, repugnamos os mais privilegiados, num ciclo eterno de insatisfações e contradições.
Narcisistas, julgamos sem permissões, rotulando os outros com todo desatino. Ambicioso é quem nunca se satisfaz, acomodado é quem com pouco faz.
Cegos nos afetos, esquecemos as razões, que, para além das comparações, encontra-se a verdadeira paz.
Tirania Infantil
Com medo de perder o amor dos filhos, pais renunciam ao seu pátrio poder, entregando-se ao jogo sutil e hostil da tirania infantil, tornando-se frágeis e subservientes.
Colocados no trono por pais sem firmeza, sem voz, reféns de uma culpa atroz, acreditam que não dedicaram tempo e atenção suficientes para esses rebentos algozes.
Infantes exigentes, pais obedientes, autoridade enfraquecida, valência perdida, tirania fortalecida na culpa assumida.
No lar, o caos reina, pais sem direção, remorso que nutre em vão, jovens onipotentes em ascensão determinam o refrão.
Transfigurados em pais dos pais, esses pequenos tiranos comandam cada vez mais, numa inversão de papéis onde os filhos mandam e os pais apenas obedecem.
Conversa Franca
Não adianta!
Com a alma armada,
A conversa franca
É sempre cilada.
Peito blindado,
Olhar desviado,
Cada frase dita
Um golpe desferido.
O diálogo sincero
Não encontra abrigo,
Na alma ferida
É sempre mal visto.
Peito em defesa,
Olhos cerrados,
Palavras se tornam
Lanças afiadas.
Coração cercado,
A mente em tormento,
O diálogo sincero
É sempre mal interpretado.
E até quem ama,
Se vê afastado,
Pois a conversa franca
Machuca o amado.
Dualidade Simplista
Em um mundo desbussolado e polarizado, o homem pós-moderno vagueia entre sonhos e dilemas, sem rumo certo. Cobranças o cercam, expectativas tolhem, e sua alma se perde em profusão, entre o tradicional e o contemporâneo.
Na dualidade simplista, toda masculinidade é toxicidade, toda sensibilidade é fragilidade, todo incisivo é insensível, e todo o sensível é deprimido.
Importante frisar que ainda temos muito que evoluir. O homem ainda é visto como um ser que não pode falhar, fracassar e falir, sob o peso de expectativas irrealistas.
Pôr fim à opressão masculina, sem emergir a tirania feminina. Superar os estereótipos, que limitam e aprisionam, buscar a igualdade e o respeito, é um passo crucial nesse caminho.
Buscar soluções em diálogos abertos, evitando o jogo de acusações, é fundamental para criar laços de compreensão e união.
De certo, nem herói nem vilão, nem certo nem errado; somos todos humanos, em constante processo de aprimoramento.
Opressão do Lar
No casamento, ao despertar, dez mandamentos a executar,
Na opressão do lar, sem questionar, todo compromisso entregar.
Concordar é preciso, evitar o conflito, no domínio do lar, esse é o rito.
Seja primeiro a levantar e o último a dormir. Não parar, sempre agir.
Descansar? Nem pensar.
Mesmo em silêncio, sempre envolvido, errado ou certo, permanecer contido.
Adultos infantis
Na era de adultos-meninos, a imaturidade vigora, uma epidemia aflora.
Buscam-se significados divinos num mercado que promete felicidades sem cessar.
Um futuro disperso pairando no ar, na publicidade, anunciam-se sonhos de cetim para deslumbrar.
Marketing de existência vazia, oferece significados efêmeros, para almas ávidas por algo além do ser, parecer e agradar.
Adultos infantis seguem iludidos, buscando significados na existência do papel machê que aprisiona, impede o amadurecer.
Vazio Consumista
Mesmo tendo tudo, sentem-se como se nada tivessem. Conquistas são poeira ao vento; no horizonte se esvaem.
Desencontros internos, entre o ser, parecer e ter, erguem muros. Expectativas não cumpridas, sonhos naufragados, sentimentos afogados jazem.
Pressões sociais, padrões a seguir, na busca frenética pelo que se deve possuir.
Traumas e cicatrizes, marcas do passado, no presente, um grito abafado que faz deprimir.
Consumo desmedido, tentam em vão encobrir o vazio existencial que faz parte do existir.
Há uma pressão para ser feliz, um fardo pesado, que a alma castiga.
Se não alcança o ideal prometido, sente-se à margem, na solidão perdido, uma dor profunda, na alma entristecida.
Reflexões sobre a pós-modernidade
Na pós-modernidade, a humildade, muitas vezes confundida com apatia disfarçada, e a autoestima, tornam-se virtudes almejadas.
Relações são desfeitas por novidades fugazes, onde a vaidade frequentemente supera a dor das verdades sagazes.
A cultura exige a perfeição, o triunfo em cada gesto, em uma competição eterna onde ser o melhor se torna seu manifesto.
Homens efêmeros temem a quietude interior; refletir sobre a vida é encarar o próprio temor.
Redes sociais exigem validação e louvor, enquanto o retrato de perfeição muitas vezes esconde muita dor.
Diálogos verdadeiros são raros na disputa de egos do mundo pós-moderno; monólogos se tornam únicos no roteiro.
Juvenil sonha com tempos de serenidade e sabedoria, enquanto o senil suspira por dias de juventude e euforia.
O paradoxo sutil da incapacidade de viver o momento.
Nas redes sociais, a autenticidade se perde na hipocrisia do "parecer ser", onde a quantidade de likes é o que satisfaz.
Navegar disfarçado torna-se uma arte nesse espaço fabricado da internet.
Cena digital
Nas redes sociais, a integridade perde o seu valor. Corpos não se encontram mais; a libido se desfaz, o amor pelos likes nos satisfaz.
Precisamos de habilidades digitais para evitar o cancelamento. E, simultaneamente, buscar o sucesso com o maior número de curtidas possível.
A política agora se faz entre cliques, pixels e bytes, onde robôs e falsas mensagens se multiplicam, prejudicando a integridade do debate político.
Muitas vezes falamos sem realmente prestar atenção ao que dizemos.
Quando alguém nos repete o que falamos, isso nos dá a oportunidade de refletir sobre nossas palavras.
É uma forma de autoconhecimento através do feedback proporcionado pelo outro.
O machismo estrutural reflete a disparidade de percepção entre características similares atribuídas a homens e mulheres.
Por exemplo, enquanto um homem com personalidade forte é elogiado, uma mulher com características semelhantes pode ser rotulada como áspera.
A desvalorização da escola pública e dos profissionais de educação, arte e cultura é nítida, manifestando-se na diminuição de salários e na ridicularização social.
Atribuir a culpa exclusivamente à população é uma simplificação capitalista.
A felicidade atrelada à satisfação dos desejos é um paradoxo numa cultura obcecada pela busca constante por mais e mais.
Nenhum objeto traz plena gratificação.
O desejo incessante por bens materiais como carros, joias ou viagens é como uma ciranda interminável.
Assim que realizados, novas aspirações emergem, alimentando tanto o capitalismo moderno quanto nossa incompletude.
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