Poemas e Poesias
Seja qual for o processo da criação artística, uma certeza: os artistas são seres especiais enviados para iluminar a existência terrena.
As atitudes que espera de uma pessoa, muita das vezes tem que ser tomadas por você e as perguntas que você faz, você mesmo tem que responder.
Carrego em meus ombros um peso que curva minha postura. Um cansaço na alma que há quem escute. Os dedos dos meus pés são tortos como as árvores do cerrado, carga genética, ancestral. Meu coração certamente é feito de metal, única explicação para aguentar tanta dor. Abandone os meus versos se sua linguagem delicada não encarna a dor. Não mentirei e não direi que tenho mãos delicadas que a ti se oferecem. Minhas mãos são pesadas como meus versos. E meu pulmão sofre a ação do tempo viciado. Meu corpo é largo, encorpado, como se mostrasse o tamanho da minha dor. Ninguém entenderia, eu sei. Acusariam-me de vítimas também é eu já não posso chorar. Preciso encarar a vida sem lágrimas, porque um dia sucede ao outro. Eu não fui feita para o amor. Todo o meu corpo é minha alma é feita do pó da paciência. E apesar de tudo meu cérebro segue um mantra de um dia tudo será melhor. Oh Pandora, que guardou a esperança. Sigo meu destino traçado nas linhas de minha mão e já é tarde para falsear que a vida me arde, como uma febre. Espero que um dia a brisa me leve.
Já não sei dizer se sou muito para o mundo, ou se o mundo é demais para mim. Tento confortá-lo em meu peito e não acho espaço. Estou cansada de florear a dor para agradar o seu estilo. Eu sofro muito mais que seu Instinto. E minha dor não é bonita, não tem início, meio, nem fim. Ela brota no agora como uma semente se rasgando para brotar. Nunca fui compreendida, nem por mim mesma. E assim vou atravessando a vida, porque ela é visceral e me exige. A vida se impõe como uma tortura, e já não sei quem me traz os males. Hoje acordei em carne viva e a luz do sol ardeu em meus olhos. Palavras de um coração que sangra. Perdoe-se se não te ofereço promessas de alegria. Minha vida é um rio que flui sem olhar para trás. Não tenho tempo para o passado. Urge em mim uma emergência. Eu estou doente e a única linguagem que posso oferecer são essas palavras descrentes. Se alguém me entendesse a mão, mas só recebo julgamentos. Vão dizer que minha dor é falta de fé, que eu posso me curar com a força do pensamento. E meu coração arde de uma dor bruta e antiga. Não te levarei comigo, nem contigo irei. Essa dor é minha e de mais ninguém. Talvez um dia eu fale de paz, esperança mórbida que carrego e me faz suportar a passagem do dia e a noite com seus pesadelos. Ainda sim, acredito em Deus. E tenho fé na ciência. Sonho com o dia em que todo o meu ser será convalescença, como um vento suave sussurrando que tudo há de passar. Eu creio que um dia essa dor será lembrança remota, esquecivel. E distraidamente me pegarei cantando e sorrindo. E a terra será meu paraíso.
Bem posso falar que a linguagem tem sido minha companheira. Uma forma de me desnudar de mim e me transmutar em palavra. Quando escrevo a dor que sinto, ela se esvai lentamente, como uma catarse de mim mesma. E a dor é relativizada e procuro meus pares. Como fazer amigos se me afundo em pensamentos lúgubres? Enquanto me entrego ao sofrimento, as pessoas aproveitam o lado bom da vida. Viajar, apreciar a natureza. Eu consigo compreender a dialética da minha dor e a felicidade de tantos. E penso que preciso ser mais flexível, como uma estrela do mar que se regenera. Agora escrevo e a paz se aproxima de mim e me observa como um espelho, o meu inverso. Eu estou calma e a calma é um sentimento a ser reverenciado. É quando a dor se recolhe e encontro refrigério em minha alma. Sei que meus sentimentos não são estáticos. E quando a paz me alcança, procuro senti-la em toda a sua essência. Quando estou triste, eu olho um gato, e vejo apenas um gato. Quando eu estou me sentindo bem, eu vejo um gato e me encho de ternura. Um animal que me transmite boas sensações. O gato tem um linguagem peculiar. Hoje acordei com muita dor emocional. E como refúgio, comecei a escrever. E essa escrita terapêutica foi silenciando um sofrimento inominável. Eu estudei teologia, mas foi a vida quem me fez acreditar em Deus. Não tenho religião, mas faço minhas orações. E mesmo na dor profunda, Deus me leva a um tempo de paz. Em agradeço em silêncio. E sei que o poder superior olha por mim. E sinto gratidão.
A aurora se enche de plenitude, e no além céu, acordam as criaturas. Eu tenho as cores da aurora nos dedos, quando a escrevo e ela vira linguagem. Através das palavras posso ser tudo o que a imaginação descortina. Em um instante sou aurora, e no outro ser crepúsculo. O claro é o escuro marcam tempos da natureza. Um tempo etéreo que ultrapassa a velocidade da luz. Admiro a paciência da tartaruga e a memória do elefante. A natureza se encontra dentro de mim, quando observo que também sou diversidade. Observo uma pintura e a pintura também me observa. Nesse momento absorta pelas imagens já não distingo se sou um ser humano ou um quadro na parede. Afinal, nada é tão simples assim. Tudo que eu observo, também me observa e nesse momento somos um. Somo um ponto de interrogação. Eu sonho ser quem sou, e ao mesmo instante sou mesa, cadeira e parece. A paisagem também sonha. E quem sonha se torna aquilo que sonha. Quando olhei nos seus olhos e seus olhos me olharam, a partir desse momento, já não sabemos quem é quem. O corpo é palpável, mas a alma é fluida e se constrói naquilo que vemos. Tantas vezes perdi meus olhos no seu. E se mesmo descrente eu falo em amor, é porque parte desse amor ficou em mim. Mas já não posso contê-lo no momento em que questiono quem sou eu. Sou um conjunto de imagens, visões e percepções. E se escrevo é porque busco a mim mesma no espaço tempo de universo infinito. E isso transcende todos os acontecimentos e te devolvo seu olhar que um dia se perdeu no meu. É uma metáfora justa de quem liberta e segue inteiro frente à manifestação da realidade. Eu não te esquecerei porque tenho memória, mas será para sempre uma lembrança abstrata, frágil demais para se concretizar. E me distancio com suavidade, que o tempo recolha o que é do tempo.
O abismo é o passado. O tempo machuca quem quer viver de nostalgia como um gato lambendo o rosto de seu filhote. A alma é para o corpo o que o fermento é para o pão. A alma alimenta o corpo como a água mata a sede dos que se perderam na luxúria inaudível dos pecados capitais. Ela não se comunicava com palavras, mas com silêncio e ausência. A raiz quadrada não tinha mais sentido na matemática da vida, antes fora a raiz de uma palavra, que também diz pouco. Resta nossa raiz como seres humanos, nossa ancestralidade inacabada que se perpetua quando respiramos. A memória é um vulcão, que passa anos adormecido, até levar tudo que vê pela frente com suas larvas de fogo. Espelho da alma é quando encontramos algo que reflita nosso estado interior, como a serpente é para a medicina. Espelho do tempo é algo que representa uma era, como o escritor, cuja escrita é espelho do tempo. Espelho da água, quando a água cristalina reflete suas suaves ondas de rio plácido. Tudo que abunda excede, como colocar no ceifeiro o arroz de muitas colheitas. O equilíbrio é como um girassol, cada folha se encontra no lugar exato, como Van Gogh pintando e encontrando o amarelo. Ele procurava uma ação que retratasse o fim de um ciclo, mas só encontrava perguntas cada vez maiores. O tempo mostra a sombra. A sombra repousa no esquecimento,enquanto a verdade se camufla.
Meu pensamento é um ato de resistência estética, filosófica e política. Portanto, não seria natural esperar aplausos imediatos. Ou buscá-los num tempo vindouro que repetisse o passado.
Somos folhas, água, vapor e memória. Somos corpo que pede colo e alma que encontra sentido em rituais simples.
O sol surge lentamente, anunciando um novo dia. Renovação na ponta dos dedos. Dedos que surpreendem com suas palavras inesperadas. A noite povoada de sonhos. Duas dimensões no mesmo tempo, no mesmo espaço. Observo. Meus olhos estão povoados de imagens e o coração distingue suas cores, nuances e tonalidades. Dia silencioso, tranquilo. Talvez isso seja paz. Lembro de pessoas que passaram por minha vida. E me parece como personagens de um livro de ficção. Eu sou a protagonista da minha vida. Deus é o escritor. Dias tristes. Dias alegres. Caminhando na corda bamba do circo da vida. Pão e circo. Nem tanto pão, nem tanto circo. Equilíbrio. Minha alma questionadora não para. A vida é como é. As pessoas falam, dormem e acordam. A vida é isso. Queria eu ver a vida assim de modo tão simplista. Eu quero sempre mais. Mas hoje eu estou em paz. Quero um bom lugar para sentar. Quero simplesmente olhar. Hoje eu só quero que o dia passe suave. Até mais.
Cai a noite silenciosa. Quantos mistérios existem em seu silêncio? O sol se esconde e a noite escura nos convida à reflexão. O dia foi suportável, ainda que em alguns instantes lágrimas molharam meu rosto. A felicidade é frágil e dentro dela se escondem temores. Mas também é nela que se esconde a esperança. Já quase não me movo. Essa apatia vem carregada de densas culpas. Talvez o tempo esteja cobrando seu preço. Sou um ser frágil, enfrentando uma densa poeira, que machuca meu rosto. Nascer diferente com uma frágil esperança de futuro. Entretanto sigo minha sina. Choro quando não é possível conter no peito uma angústia ardilosa. E sorrio de esperança, porque apesar de tudo, a felicidade mora em mim. Queria saúde, queria amor, queria tantas coisas. E às vezes a solução é não querer. Espero um medicamento que me cure de mim. Eu não sou mais a mesma. Desconheço sorriso largos e como uma largarta vou rastejando nesse solo árido. Esperando que um dia enfim eu seja como uma borboleta, grande, colorida e leve. Espero o tempo que esse dia chegará. Até então, não vou descansar. Que venha a noite, escura e densa, meu peito suporta, forte como uma gaivota.
Às vezes eu não sei até quando eu vou aguentar. Minha cabeça me tortura vertiginosamente. Meu coração parece ter mil toneladas o comprensando. Esse vazio que ressoa como uma música hipnotizando o ambiente. Música que não é mais que ruído. Eu estou me rasgando de dor. E ninguém se importa. Lágrimas negras escorrem no meu rosto e as pessoas fazem anedota. Eu estou doente, profundamente doente e não há ouvidos que me ouçam. Não há mãos que apertem a minha. Não há palavras. Não há ninguém. Apenas eu sozinha à noite me contorcendo de dor. Faço mil orações e me pergunto onde está Deus que parece não me ouvir. Transtorno bipolar. Duas palavras e um trator atropelando minha alma. De onde virá a ajuda. Estão todos envolvidos com seus lares. E meu lar, que é minha alma transborda como em uma enchente. Por que dar um fardo tão pesado para mim que sou tão frágil. Deus meu, que mora nas estrelas, abrande essa dor carnal. Tantas vezes eu tentei partir, mas continuo aqui como rocha. Eu sou frágil na superfície, mas sei quantas noites escuras eu superei. Peço um fôlego a mais. As vezes me pergunto porque sou tão resistente. Poderia partir leve como uma ave que some no céu. Partir como um peixe que se esconde em oceanos profundos. Sinto dor. Uma tristeza asfixiante. Mas só por hoje eu não vou partir. Beberei um copo d'água e dormirei. Em meio a meus pesadelos eu vou me contorcer. Ao acordar não vou querer me levantar. Mas levantarei, tomarei um café e pensarei que sobrevivi, sem nenhuma empatia alheia. Eu me olharei no espelho e pensarei em esquecer os tolos e os insensíveis. Eu resistirei e dessa terra só parto quando meu tempo acabar. Eu sou rocha, pedra de ribeirão. Eu suporto a dor, porque em mim mora um flor delicada, prestes a desabrochar.
Como uma pluma, meus sentimentos flutuam no ar assim como uma folha levada de um lado a outro. A dor se dissipa lentamente e já não reconheço palavras lançadas no ar. Vida minha, que tanto me dá e tanto me tira, tira dos meus pensamentos as perguntas e me deixa flutuar. Eu quero a leveza da carícia de um gato. Eu quero o canto dos pássaros. Estou cansada da minha dor, desse peso inútil. Estou cansada do meu peito carregado. Deus meu, tire-me o peso de viver. Tira essa angústia inútil que desfaz os meus mais belos pensamentos. Eu quero a paz de uma coruja, silenciosa, com seus grandes olhos. Dai-me a graça de sentir o mundo como uma árvore que brota, anunciando que mais um fruto promete fartura. Queria a paz de tudo que é belo no mundo. Senhor, dai-me sua paz.
Paira em meus dedos de pássaros, viagens longínquas. Em minha mente de águia, prevejo o futuro. O futuro que já entardeceu enquanto estamos ainda em plena manhã. Que saudade eu sinto do futuro. Tudo novo de novo. Posso então me entregar ao instante, presente inerente. E me libertar das dores que me oprimem. A medicina divina me libertará de cada passo doente. Com a saúde restaurada, viajarei por todo o mundo. E tudo será novo para mim. O presente requer paciência e a tão falada resiliência. Quero ser livre. Quero te asas. Quero abandonar o ninho e voar como uma gaivota. Tanto quero e tanto será. É só esperar.
No ciclo da vida, novamente é noite e me proponho a escrever sobre a escuridão, interna e externa. É na noite escura que podemos ver as estrelas. E é na escuridão interna que percebemos que somos mais fortes do que pensamos. Da dor nascem flores. Nascem saídas e belezas. Apenas quem cruzou a dor pode apreciar as pequenas delicadezas. Selecionar o que vale a pena. Conviver com a dor, para supera-la. E ser luz celestial para aqueles que não sabem apreciar o belo no mundo. A dor me mostrou que sou mais forte do que eu pensava. A dor fez com que eu me amasse mais. Somos poeira cósmica, na imensidão do universo. Somos também estrelas que cintilam. Hoje o dia foi sereno, ocupado por pequenos afazeres. A alma esteve calma. Lembro-me do passado, quando eu tive mais energia. Agora amadureci e me aproximo da velhice. Duas etapas, a juventude que passou e a idade que se apresenta. Se eu pudesse voltar no tempo, eu cuidaria melhor dessa estrelinha que sou. Teria me amado mais e não teria permitido tanto desrespeito. Daria e receberia o amor que eu mereço. Teria autocompaixao. Aquela menina bonita, sincera e determinada. Mas o tempo não volta. Hoje consigo ver com mais clareza meus erros e acertos. Agora na maturidade meu coração é mais calmo. Minhas emoções estão mais estabilizadas. E percebo que minha estrela nunca se acabou. Estava apenas piscando alta e resplandecente. A estrela que sempre fui.
Minha escrita é sobre como traduzir com palavras o silêncio. Como traduzir um instante vago, pleno de lembranças e memórias. Aqui nesse espaço eu falo o que a realidade me apresenta. Falo sobre a dor, mas falo também em esperança. Esperança de dias melhores, de saúde e afetos. Meus versos são livres e seguem os meus pensamentos. Sou honesta. Escrevo o que é real para mim. Escreve o que eu sinto, sem tentar mascarar o mundo que me cerca. Falo sobre saúde mental de forma lírica. Falo da força humana para continuar viva e pulsante. Todos os dias a vida me apresenta desafios de sofrimento, mas eu respondo com palavras e versos. É assim que eu proteja das falácias da mente.
Ao dizer “Não sou bom com as palavras” e ao agradecer a Deus, a
pessoa revela a sinceridade de seu coração.
