Poemas e Poesias
Mãe
Não consigo adormecer
Já experimentei tudo. Até contar carneirinhos
Não consigo adormecer
Nem chorar
(Que maior tragédia poderá acontecer a um homem do que a de já não ser
capaz de chorar?)
Quando me levantei já as minhas sandálias andavam a passear lá fora na relva
Esta noite até os atacadores dos sapatos floriram
As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.
O perdão está dado;
O traidor está curado;
O amor sentou-se
de pernas abertas
diante de mim.
Vem cá, morena.
Ele é brega.
Vá, são todos iguais,
mas uns são mais.
Lamento,
mas, se virar poema,
já é vantagem.
Melhor que virar
pura bobagem.
Peças de madeira em pau-marfim
A linha dos olhos
faz flechas da cor de futuros
As mãos formam conchas
de pegar contentamentos
Os pés são grandes como
as telas holandesas realistas
O corpo inteiro é um tabuleiro
de jogar jogos de azar
As costas quadriculadas
As coxas quadriculadas
A boca quadriculada
Onde eu me finjo
de dama
Trágica
meu galego
não conhecia minha ira
era dono do meu corpo
meu espírito de porco
sabia minha ginga
minha pletora, minha míngua
conhecia cada fresta
cada trinca, cada aresta
cada vinco, furo, fissura,
mau humor, amargura
mas da minha ira
condenada ira
ira da maldita
ira de mulher
fêmea exata
ana saliente
uterina, enfezada
ele não sabia nada
(meu galego dorme esta noite num cemitério improvisado)
EU NÃO TENHO A ALMA DE UM CORRIMÃO
Eu sou mais elo, de liga e do laço.
Respeito para mim é coisa fina,
assim como o abraço.
Mais do que as transas e os beijos,
as mãos dadas me parecem mais sinceras.
Tão ruins quanto as promessas
são as esperas.
Somos a terra e a semente
carne de aluguel em alma de rainha
as submissas as bacantes
as que procriam e as que não
Somos as que evitam o desastre
as que inventam a vida
as que adiam o fim
mulher
multidão
Todo corpo é uma casa
cada corpo é um frasco onde se lê: frágil
onde se lê: força
onde se lê: entre sem bater
Há entre nós silêncios confortáveis
e conversas transparentes
palavras feitas de dedo e vapor
palavras que só acordam com o calor
Netuno
Crê em trilhas,
insólitos anéis,
luas diversas.
Adagas sustentam
frágeis
estalactites.
Entre o gélido
e os ventos
o corpo filtra:
o meio.
Nem grande,
nem pequeno,
Nem perto,
nem longe,
o mais pesado:
o centro.
Tracionada a ferrugem dos ferrolhos
reage ao sol
e rescende o cheiro dos carvalhos
no escorrer das ocras:
o ferro a menstruar no tempo.
Transversa
a luz revela o desenho das teias:
colcha prateada de neurônios
– esses nervos da vida.
Firmes ali sem mais estar
mãos invisíveis no ensaio do tear.
Cachimbo de domingo
Cadê o gado?
Buscar na Índia.
E o pasto?
Derrubar árvore, plantar capim.
E o capim?
Braquiária: buscar na África.
E a fome?
Come carne, toma leite.
Vila verde
fome saciada.
Escorre água,
mareja areia.
Pasto pisado de gado.
Casa de capim.
Rio doce assoreado.
Calores!
O coração como engrenagem
Uma passarinha voava
Um passarinho olhava
A gravidade do ar acabou
Passarinho ficou flutuando
Passarinha caiu de amor.
Quero porque te quero
Nas formas do bem-querer.
Querzinho de ficar junto
que é bom de fazer doer.
Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.
Tapuia
As florestas ergueram braços peludos para esconder-te
A tua carne triste se desabotoa nos seios
recém-chegados do fundo das selvas.
Pararam no teu olhar as noites do Amazonas
mornas e imensas
E no teu corpo longo.
ficou dormindo a sombra das cinco estrelas do Cruzeiro.
O mato acorda no teu sangue
sonhos de tribos desaparecidas
- filha de raças anônimas
que se misturam em grandes adultérios!
E erras sem rumo assim pelas beiras do rio
que os teus antepassados te deixaram de herança
O vento desarruma os teus cabelos soltos
e modela o vestido na intimidade do teu corpo exato.
À noite o rio te chama.
Chamam-te vozes do fundo do mato.
Então entregas à água
demoradamente
como uma flor selvagem
ante a curiosidade das estrelas.
Sempre foi um sonho
Que queria realizar
Foram tantos pensamentos
Que eram impossíveis externar
De repente
Por você me apaixonei
Foi um erro que cometi
E cometeria outra vez
Só por ser inteligente
E bondoso coração
Que facilitou na conquista
Pois chamou minha atenção
Te respeitar
É o que mais quero
Por isso se eu te pedir em namoro
É um sim que espero
Você é,
Estressada meiga e as vezes impaciente,
De atitudes extraordinárias
E de beleza atraente
Se a mais bela estrela falasse,
Falaria seu nome
Pois ele é belo,
Igual o seu sobrenome
Tudo que queria alcançar
Dedicadamente alcançou
Porém em uma coisa não deu sorte,
E foi o amor
Mas a vida é breve
E você ainda pode apreciar
Pois há tantas belezas
Em homens que ainda sabem amar.
Ao falar com você,
Vem sobre mim uma boa sensação,
Sensação essa
Que me chamou a atenção
Seus olhos são como uma luz cintilante
sorriso é radiante,
Seu jeito e sua beleza
Mais que cativante,
Se a lua fosse uma pessoa
Se apaixonaria por você,
Pois só em te ver
Já queria te ter
Se eu fosse o mais belo entre os homens,
Só pensaria em te ter
Mas se eu tentasse e te tivesse,
Jamais queria perder você
Se o velho ditado não fosse considerado um dogma
Viraria algo também não questionado
E tudo de bom,
Externaria e não ficaria guardado
Mas ele existe
E nada posso fazer
Mas o bom mesmo é está aqui,
E falando com você.
( Querer não é poder "ditado popular" )
Escrevo versos banhados de dor e angústia de ser eu,
Escrevo sujo, sujo e imundo como mero plebeu.
Após escrever vou nadar intensivamente em piscinas de lama,
Saltarei do penhasco que mais magoa,
Não me lavarei por uma semana
Apenas para me olhar ao espelho e não ver a minha pessoa.
Mas ao esfregar o olhar
Volto a ver o meu reflexo
Então atiro-me ao mar,
Parado, estático, perplexo.
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