Poemas do Século XIX

Cerca de 1378 poemas do Século XIX

Pela minha parte creio na ciência como uma poesia, mas há exceções, amigo. Sucede, às vezes, que a natureza faz outra coisa, e nem por isso as plantas deixam de crescer e as estrelas de luzir. O que se deve crer sem erro é que Deus é Deus; e se alguma rapariga árabe me estiver lendo, ponha-lhe Alá. Todas as línguas vão dar ao céu.

Machado de Assis
Esaú e Jacó

Digo aos moços que a verdadeira ciência não é a que se incrusta para ornato, mas a que se assimila para nutrição.

Machado de Assis
A nova geração. Rio de Janeiro, RJ: Revista Brasileira: Jornal de literatura, teatros e indústria, 1879.
...Mais

Amai, rapazes! e, principalmente, amai moças lindas e graciosas; elas dão remédio ao mal, aroma ao infecto, trocam a morte pela vida... Amai, rapazes!

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

Eu podia comparar a ambição às flores que primeiro abotoam e depois desabrocham.

Machado de Assis
Balas de estalo. Rio de Janeiro: Vermelho Marinho, 2019.

Obsequiava sem zelo, mas com eficácia, e tinha a particularidade de esquecer o benefício, antes que o beneficiado o esquecesse.

Machado de Assis
Iaiá Garcia

A felicidade estava nas minhas mãos, presa, vibrando no ar as grandes asas de condor, ao passo que o caiporismo, semelhante a uma coruja, batia as suas na direção da noite e do silêncio...

Machado de Assis
ASSIS, M. Obra Completa, Vol. II. Rio de Janeiro:Nova Aguilar, 1994

De um ato do nosso governo só a China poderá tirar lição. Não é desprezo pelo que é nosso, não é desdém pelo meu país. O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco. A sátira de Swift nas suas engenhosas viagens cabe-nos perfeitamente. No que respeita à política nada temos a invejar ao reino de Liliput.

Machado de Assis
Diário do Rio de Janeiro, 29 dez. 1861.

Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; e ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.

Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Typografia. Nacional, 1881

O arvoredo dos morros fronteiros estava coberto de flores-da-quaresma, com suas pétalas roxas e tristemente belas.

Capitu falou novamente da nossa separação, como de um fato certo e definitivo, por mais que eu, receoso disso mesmo, buscasse agora razões para animá-la.

Machado de Assis
Dom Casmurro

Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios.

Machado de Assis
Dom Casmurro (1899).

Se achares três mil-réis, leva-os à polícia; se achares três contos, leva-os a um banco.

Machado de Assis
Notas semanais, 7 jul. 1878.

Os sapateiros não fariam mais sapatos, se acreditassem que todos iam nascer com pernas de pau.

Machado de Assis
Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 24 mar. 1885.

⁠É próprio das famílias numerosas brigarem, fazerem as pazes e tornarem a brigar; parece até que é a melhor prova de estar dentro da humanidade.

Machado de Assis
Páginas recolhidas. São Paulo: FTD, 2012.

Nota: Trecho da crônica O velho senado, publicado na "Revista brasileira", em junho de 1898.

...Mais

A natureza tem suas leis imperiosas; e o homem, ser complexo, vive não só do que ama, mas também (força é dizê-lo) do que come.

Machado de Assis
A mão e a luva (1874).

A imaginação multiplicava os zeros; com um grão de areia construiria um mundo.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

Os cabelos, cor de prata fosca, emolduravam lhe o rosto sereno, algum tanto arrugado, não por desgostos, que os não tivera, mas pelos anos. Os olhos luziam de muita vida, e eram a parte mais juvenil do rosto.

Machado de Assis
A Mão e a Luva (1874).

(…) era tão diversa de si mesma, ora isto, ora aquilo, que os dias iam passando sem acordo fixo, nem desengano perpétuo.

Machado de Assis
Quincas Borba (1891).

⁠É difícil estar entre políticos muito tempo sem adquirir a febre que os devora.

Machado de Assis

Nota: Trecho do conto Rui de Leão, publicado no "Jornal das Famílias", em 1872.

⁠Quando uma criatura ama, (...) todos os meios de poupar-lhe as comoções são nulos.

Machado de Assis
Não é mel para boca de asno (1868).