Poemas de Arnaldo Antunes
Ninguém considera a sua ventura superior ao seu mérito, mas todos se queixam das injustiças dos homens e da fortuna.
As épocas perturbadas fazem perder tempo. Só se pensa em salvar a cabeça, e não há tempo para fazer mais nada.
Quanto mais independentes formos, devido à fortuna, tanto mais escravizados seremos pelos sentimentos e pelos deveres.
Os moços, por falta de experiência, de nada suspeitam, os velhos, por muito experimentados, de tudo desconfiam.
Os anarquistas são como os jogadores infelizes ou inábeis, que, baralhando muito as cartas, ou mudando de baralhos, esperam melhorar de fortuna e condição.
A probidade, que impede os espíritos medíocres de atingir os seus fins, é mais uma forma, para os astutos, de conseguirem o que querem.
As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objectos.
A vida humana é uma intriga perene, e os homens são recíproca e simultaneamente intrigados e intrigantes.
Para bem conhecer os homens, é necessário primeiramente vê-los e praticá-los de perto, e depois estudá-los e meditá-los de longe.
A mocidade expande-se para conhecer o mundo e os homens, a velhice contrai-se por havê-los conhecido.
Mudai um homem de classe, condição e circunstâncias, vós o vereis mudar imediatamente de opiniões e de costumes.
