Poemas de Antonio Mota

Cerca de 100149 frases e pensamentos: Poemas de Antonio Mota

Se cumprires a quarentena
com mil sopas de tomate
achas a casa pequena
e a cozinha um disparate.

Inserida por AntonioPrates

Tem a casa mais pequena
e a cozinha um disparate
quem resiste à quarentena
com mil sopas de tomate.

Inserida por AntonioPrates

Acho estas horas esguias,
horas sem corpo e tamanho,
quiçá o tempo mais estranho
que tive em vinte mil dias...

Nos muros que não se deitam,
não há vestígios de pontes,
e em todos os horizontes
há outros muros que espreitam...

Ninguém tem culpa de nada,
todos são bons inocentes,
muitos são donos e crentes
das secreções praticadas...

Esses sem rumo, sem esperança,
gente da estrela amarela,
transportam em cada criança
o quanto lhes pesa uma estrela...

Inserida por AntonioPrates

Tentou a multidão prender-me a pena,
com muitos subterfúgios mal pintados;
peguei na lapiseira mais pequena,
pintei dez mil pavões pelos montados.

Inserida por AntonioPrates

⁠Toda a arte, no futuro,
há-de ter na inspiração
qualquer coisa de obscuro
para ter aceitação.

I
Do modo que a evolução
toma conta dos humanos,
de pouco valem os planos
por obséquio à união…
e no meio da confusão
vai-se o génio do ar puro
para o negro quarto escuro,
onde a arte pouco medra,
e será feita de pedra
toda a arte, no futuro…

II
Meu perdão às esculturas,
de talento absoluto,
oposto da pedra em bruto
que citei nas conjecturas
destas linhas mal seguras
ao fim da premonição,
dedicada à multidão
que me mostra, na remessa,
o que o monstro, sem cabeça,
há-de ter na inspiração…

III
E haverá num só poeta
muitos ais enfurecidos,
como os cromos repetidos
da mais longa caderneta…
bramirá todo o planeta
os rugidos que auguro,
de cabeça contra o muro
da fronteira irracional
Deixando ver, afinal,
qualquer coisa de obscuro…

IV
Nas árias inteligentes,
as notas são escusadas,
se o barulho das cabeçadas
são graves e estridentes...
os sinais são evidentes,
ante a turva ebulição,
destinada à profusão
do humano em estado bravo,
e o artista será escravo
para ter aceitação...

António Prates

Inserida por AntonioPrates

⁠De política pouco entendo,
mas uma versão somítica
diz-me o pouco que aprendo
a respeito de política.

I
Neste mundo de artifício,
cabem todos os que querem
as licenças que lhes derem
em favor do benefício,
e as finuras do ofício
são água que vai correndo
para as leis que vão cosendo
pró bem-estar e prá miséria,
porém, eu, nesta matéria,
de política pouco entendo...

II
Quando oiço, em certos tons,
o clamor do tabernáculo,
me parece um bom espectáculo
a favor dos “homens bons”…
e como são belos os tons,
em versão sempre analítica,
sobre a causa Neolítica
discutida sempre a rodos,
que deixou de ser de todos,
mas uma versão somítica…

III
Portanto, em conformidade
com o ganho e o conforto,
a politica é um desporto
e um culto de vaidade,
dando uso à qualidade
do que, assim, vai promovendo
ante as causas que defendo
dentro da minha justiça,
porém, a razão postiça
diz-me o pouco que aprendo…

IV
Talvez seja eu o culpado,
por não ter cumplicidade
com a lei da pravidade
onde o mau é bem tratado,
ou por ser mais desligado
da rotina quase mítica
destinada à boa crítica
(com dobrez e a podre paz)
a quem pouco ou nada faz
a respeito de política...

António Prates – 16/06/2016

Inserida por AntonioPrates

⁠Valente chão que me dizes
novidades da descrença,
nesse teu campo grisalho;
falas de seres infelizes,
sem confiança nem crença,
pedindo pão e trabalho.

Valente chão que me fazes
ser como o chão que tu és:
trigueiro, ermo e enxuto;
falas dos tais capatazes,
dos capitães das ralés,
com muitas falas de luto.

Valente chão que carregas
fardos de tais desertores,
cumulas culpas e faltas;
és contentor das bodegas
desses tão pobres-feitores
dessas patentes mais altas.

Valente chão sem emenda,
sem pegadas de mudança,
sem justiça e sem apuro;
pede a um deus que te atenda
com a tocha da esperança
para os pobres do futuro.

Inserida por AntonioPrates

⁠Quando o pão se justifica
com as botas que lambemos,
muito pouco dignifica
as açordas que comemos.

I
Em tão grande brutidade
os homens parecem meigos,
pra que os filhos sejam leigos
de uma outra sociedade...
Todos andam à vontade
num bordel que se aplica
a quem teme e não critica
as tais botas obscuras,
ignorando as ditaduras
quando o pão se justifica.

II
Entre bola e pouco mais
sobram livros nas escolas,
porque faltam sempre bolas
nas justiças sociais...
Foram filhos, serão país
neste chão onde vivemos,
onde rimos e aprendemos
a cartilha dos descrentes,
quando a vida nos dá dentes
com as botas que lambemos.

III
É assim, estão na moda
essas línguas produtivas,
criam calos nas gengivas
e lambem com a boca toda...
São tacões da alta roda,
sorvedores de uma só bica,
arraial que não se explica,
sementeira da nação,
mas aqui, onde há bom pão,
muito pouco dignifica.

IV
Alentejo, este celeiro
nobre, digno, tão honrado,
não deixa de estar minado
por quem lambe o dia inteiro...
Lambe quem chega primeiro
o calçado que aqui temos,
e ademais o que devemos
é um fardo Inda mais bruto,
que tempera sem conduto
as açordas que comemos.

Inserida por AntonioPrates

⁠Será Natal onde não há grandes festas?
Será Natal onde as ruas não estão iluminadas?
Sei que é Natal nessas praças enfeitadas,
e que é mais Natal onde há grandes "orquestras".

Onde uma criança não tem pão, não pode haver consoada;
onde um mendigo passa frio, o Natal é mais escuro!
Tampouco será Natal onde um coração é duro,
nem tampouco terá Fé quem não acredita em nada.

E por vermos andar os outros, fazemos o nosso Natal,
com presépios e estrelas da divina ostentação;
e desta maneira, ninguém quer uma festa igual às dos outros,
que, com garbo, também querem distinção.

Não obstante, com mais de dois mil anos de atraso,
numa modesta manjedoura dos arrabaldes de Belém,
se Jesus Cristo levantar a cabeça, por acaso,
constatará que o seu Natal não é quase de ninguém.

Inserida por AntonioPrates

⁠⁠A inveja é uma prisão
e um tal desassossego,
que na minha opinião
se fosse uma profissão
não havia desemprego.

Inserida por AntonioPrates

⁠Se és louco, continua
a subir nessa loucura,
porque a vida só mingua
quem não tem a tua altura.

I
Cada louco é um segredo
encoberto num mistério,
que se mostra num critério
comparado a um brinquedo…
Mesmo sobre um arremedo
a verdade é sempre nua,
e o sinal se acentua
no tino que sabe a pouco;
se és tu, és quase louco;
se és louco, continua…

II
Sabes bem tudo o que és
dentro da tua aparência,
que te tapa a consciência
e te abre de lés a lés…
Não encubras as marés
dessa tua compostura,
porque atrás dessa figura
de feição inteligente,
és um louco que se sente
a subir nessa loucura…

III
Já vais alto bem o sei,
vais aonde eu imagino,
bem acima do teu tino
no rigor que em ti criei…
Prometo, não contarei
a loucura que é só tua,
pois alteia, vai à lua,
como lobo num rebanho,
e revela o teu tamanho
porque a vida só mingua…

IV
Se és firme no ofício
de trepar até ao espaço,
voas livre - como eu faço -
neste curso vitalício…
Nunca há um precipício
onde há uma aventura,
e sendo tu uma criatura
sempre perto das origens,
enches sempre de vertigens
quem não tem a tua altura…

Inserida por AntonioPrates

⁠Cheiro a rosmaninho, macela e poejo
aroma da terra, que o campo reparte,
nesta agricultura, que sendo uma arte,
é sempre a primeira no vasto Alentejo.

Em cada avenida destas proporções,
saltam os coelhos, pardelhas e patos,
avistam se as pegas, as lebres, os ratos,
as águias, abutres, mochos e falcões.

E entre as colinas, na safra do vinho,
os bichos alargam os meus horizontes,
ao fundo a malhada, videiras e montes,
carvalhos de roble, de sobro e de azinho.

Crocitam os corvos, gozões do lugar,
pra lá do cabeço, onde as rãs aquecem,
no tempo dos celtas, talvez cá estivessem,
menos essas crias que hão-de chegar.

Assoma-se o sol, a pique e altivo,
detrás da promessa de uma trovoada,
as ervas pressentem a terra molhada,
tudo em pouco tempo fica mais esquivo.

O silêncio aquieta a fauna e a flora,
a terra abre os braços ao vento e à chuva,
deitando pra dentro dos templos da uva
a voz de um silêncio com parte sonora.

A chuva acalmou, ergue-se a labuta
piam passarinhos, alegres, felizes:
cartaxos, carriços, melros e perdizes,
em tons de harmonia pra quem os escuta.

Assim, vai a vida, nesta arte rural,
onde os grilos cantam, o trabalho aquece,
e onde a paisagem nunca se esquece
que a vida mais bela quando é natural.

Inserida por AntonioPrates

⁠Criança que és bela,
Sem nome nem raça...
És um ser que passa
Nesta vida singela...

I
Beldade inocente,
O sofrimento a consome...
Sem rumo, com fome
Na sociedade doente...
Dizem que és gente
Sem norte nem estrela...
Esta criança é aquela
Que não tem futuro...
Mergulhada no escuro,
Criança que és bela...

II
Tão terna, tão pura,
Tão cheia de vida...
De cabeça erguida
Derrama frescura...
Segue esta aventura,
Cresce na morraça...
Na rua e na praça,
À chuva e ao frio...
É só um vadio
Sem nome nem raça...

III
Não sabe brincar,
Tem outro juízo...
Falta-lhe o sorriso
Para se alegrar...
Já farta do azar
Que sempre a abraça...
É gente sem graça
Que é ignorada...
Consciência pesada,
É um ser que passa...

IV
Passa pelo mundo
Que é tão desigual...
Ou é marginal,
Ou é vagabundo...
É sempre segundo,
Eterna mazela...
Chora na viela
Pelo que não tem...
É sempre ninguém
Nesta vida singela...

Inserida por AntonioPrates

⁠Meço as palavras a eito
neste meu jeito contido
mas sinto falta de jeito
para rimar sem sentido.

Este mundo parece ter
uma estranha semelhança
destinada a fazer ver
o que o homem não alcança.

Em cada história contada
tudo se conta e resume
à vantagem retirada
do proveito e do ciúme.

Quando o pensamento é reles
e tortura a nossa voz
proferimos mal daqueles
que proferem mal de nós.

Oiço falar em progresso
aos que me falam de cor
mas depois de ouvir lhes peço
que me falem mais de amor.

O amor que queima e tece
as saudades repartidas
é amor que não se esquece
nem por duas ou três vidas.

Se o Homem tivesse arte
para ver o lado oposto
via paz em toda a parte
e lavava mais o rosto.

Todos nos falam de Deus
com sublimes teorias
rogam em nome dos céus
os seus favores e manias.

Se além da vida há eterno
e se Deus nos dá sentença
imagino que o inferno
é maior do que se pensa.

Deus nos dê o seu perdão
e qualquer coisa divina
porque as voltas que se dão
são sempre a mesma rotina.

Inserida por AntonioPrates

⁠Se esta chuva não parar
durante esta madrugada,
amanhã não faço nada
e tenho a terra pra cavar.

Se esta chuva não parar
o terreno fica alagado,
e não posso semear
o que não está semeado.
.
Se estou apoquentado
durante esta madrugada,
canto uma letra dum fado
ou um cante à minha enxada.

Esta chuva vem molhada
e promete a boa vida...
Amanhã não faço nada,
nem cuido da minha lida.

Talvez tome uma bebida
enquanto a chuva durar...
Cai a chuva bem caída
e tenho a terra pra cavar.

Inserida por AntonioPrates

⁠A noite escuta o mote afeiçoado
ao Céu que sobressai do varandim:
um cante com um mote apaixonado,
no amor do Anastácio Joaquim.

A bela cede ao cante, à bela prosa,
ouvindo os provençais no trovador;
um mago, um dom Juan, um Rubirosa,
que inflama os altos versos do amor.

Apruma a sua voz pela planície,
num modo açucarado e tão sucinto,
e enquanto diz da vida o que não disse,
traduz a inspiração de um Borba tinto.

O tom em dó maior - forte e conciso -
aflora a rouquidão que não lhe acode,
e diz: amor... amor…, nesse improviso,
por entre as largas pontas do bigode.

A bela afaga o nardo, emocionada,
com a voz que se evapora no relento,
e entre uma janela escancarada,
recolhe aos cobertores do aposento.

Inserida por AntonioPrates

⁠Lá nas sábias entidades
Desse vasto território
Faz-se algo apelatório
Para o dom das caridades
Falam essas sumidades
Deste rumo deprimente
Como quem esteve ausente
Daquilo que bem conhece
E o povo é quem padece
Nas garras de certa gente.

Um arrumo nos casacos
Um esgar, um arrepio
Um prenúncio deste frio
Num trejeito de macacos
A aragem nos sovacos
O tremor em corpos sãos
O mancar dos anciãos
No tributo à voz do vento
Cede a prova do momento
Com o frio das suas mãos.

Os ossos do dia-a-dia
Nas alturas de carência
São ensino, por excelência
Pela sua antinomia
Além da ortopedia
E do cerne da matéria
A corrente da artéria
Mostra fracas cartilagens
Para aquelas personagens
Que se fartam de miséria.

Todo o lobo na matriz
Da raiz da sua essência
Tem talento e apetência
pra fazer o que não diz
Dentro dessa bissectriz
Da paisagem dividida
Uma parte é dirigida
Ao engano da verdade
Enquanto a outra metade
Gere o pão da sua vida.

Companheiros de matilha
Aliados da má-língua
Fazem jus à sua míngua
Com aleives na quadrilha
Tudo soa a maravilha
Aos cordeiros aparentes
Forjam logros indecentes
A troco do seu proveito
E a torto e a direito
São por vezes inocentes.

Brilham como divindade
Dos altivos campanários
No mais visto dos cenários
Da estranha sociedade
Talvez por necessidade
Das vaidades assumidas
As prosápias exibidas
Não se mostram em segredo
Enquanto este povo ledo
Tem as palmas estendidas.

Inserida por AntonioPrates

⁠Após o conluio feito no sinédrio,
seguiu-se o homem, do que é capaz,
sobrando o espelho dado por Caifás
aos muitos que bebem do mesmo remédio.

O povo, inseguro, ignora a preceito,
as frases de Cristo, na sua missão;
o seu a seu ego, em cada oração,
pra ter mais orgulho em cada defeito.

Nem sempre a história os justos premeia,
nem sempre o juízo é como previsto;
se hovesse eleições no tempo de Cristo
talvez Barrabás governasse a Judeia.

Confundem-se os justos com os vendilhões,
num vasto plenário de todas as cruzes:
acendem-se as trevas, apagam-se as luzes,
e fecham-se as portas dos bons corações.

Inserida por AntonioPrates

⁠Chora Abril retalhado,
na doutrina do poder;
seguindo rumo ao passado,
com a liberdade a sofrer.

I
No florescer da pastagem,
perante um lençol mimoso,
avança Alentejo vaidoso,
respira desprezo e coragem...
Dá-nos ar da sua imagem,
num sorriso retratado;
disfarça o ser magoado
que sua alma entristece;
enquanto o povo padece
chora Abril retalhado.

II
Lágrimas já repassadas,
penando no leito do rio,
sente um enorme vazio
sofrido em tantas chuvadas;
brechas, enfim reparadas,
coisas que dizem fazer;
passa na água a correr
tal percurso viciado,
acena em caldo entornado,
na doutrina do poder.

III
Lições de memória pequena
que a consciência ditou:
nobre, o poeta trovou:
“Grândola vila morena...”
Aperta saudade amena,
num coração já cansado;
lembra sozinho no prado
as provisões do celeiro;
verga perante o dinheiro,
seguindo rumo ao passado.

IV
Veste em ar de graça
a sensação que promete,
lavrada no jet set,
semeada na lei que passa;
pobre é gente sem raça,
povo que sabe perder;
o seu contento é viver
na ambição do sustento;
esquecido no mandamento,
com a liberdade a sofrer.

Inserida por AntonioPrates

⁠Por cada lição cumprida
há um exemplo prematuro,
destinado ao bem da vida
e ao proveito do futuro.

I
Ante as muitas conjunturas
das voltas do meu trajecto
grafo cunhos do intelecto
com indícios de aventuras;
e entre vénias e mesuras,
sai-me a fé fortalecida,
numa crença concedida
aos desígnios do saber,
que me dão mais que fazer
por cada lição cumprida.

II
São sinais da existência,
do decurso das façanhas,
como gestas das entranhas
e do chão da paciência...
Em cada certa ocorrência,
vejo sempre um velho muro,
que atalha o que procuro,
tal como um animal veloz,
porque em cada um de nós
há um exemplo prematuro.

III
E então algo oportuno
dá-me força e claridade,
fez-me expor com liberdade
as valências que reúno;
lembro etapas do aluno,
dessa fase entorpecida,
comparando cada medida
na forma do seu tamanho,
como algo muito estranho
destinado ao bem da vida.

IV
Todavia, esse recurso,
ondulante e buliçoso,
é um exemplo caprichoso
das marcas do meu decurso;
mas depois, vejo o percurso
que sugere o meu apuro,
os paraísos que auguro,
neste afã da minha guerra,
dirigido à paz na Terra
e ao proveito do futuro.

Inserida por AntonioPrates

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