Poemas de Antonio Mota
Nesta quarta estação que tem o ano,
aprecio este mundo ultramoderno,
e nas chuvas que me sobram do inverno
faço um esboço de um poema puritano...
No inverno tudo soa a transparência,
desde os dias que antecedem o Natal,
porque um homem exercita a paciência
e até o frio nos parece mais natural…
Sacudo os altos ventos que me restam
para cima desse frio que me regela,
tentando dar à luz uma só estrela
enquanto os vendavais se manifestam…
Farei uma caraça de improviso,
com a lama que abunda no meu rosto,
e prometo modelar um bom sorriso
no Entrudo que aí vem com todo o gosto…
Será honesta a grande quadra de folia,
os borguistas nunca foram tão sinceros,
pois deixamos de adorar pantomineiros,
adorando um vasto mundo de alegria…
E hoje, com tais nuvens tão cinzentas,
neste dia tão cinéreo quanto breve,
vou sair e reforçar a vestimenta,
porque a chuva pode vir em tons de neve.
Não me espanta a impunidade
nem tampouco me admira
que na nossa sociedade
valha menos a verdade
que o engano da mentira.
O Amor é uma chama,
que ilumina a nossa sorte:
quem tem Amor sempre ama,
quem não tem nasce com a morte.
Nacib da Silva Tião Barra Daço
tem nome de turco de antigas novelas,
com mais de quarenta, tem ar de vivaço
e outras tantas moças que são gabrielas.
Bate as festas todas de calças rasgadas,
camisas com estilo, surradas do espelho,
sapatos da moda, num conto de fadas
tirado à medida do bolso do velho.
Enrola por dia dois ou três cigarros,
daqueles pra rir, sem ninguém saber,
e assim vai a vida, montado em bons carros,
dizendo que os outros não sabem viver.
Estudou na cidade, é quase formado
num curso daqueles com ar superior,
faltam-lhe as cadeiras para estar sentado
aonde se sentam todos os doutores.
Nacib viaja, respira outros ares,
vai a Monte Gordo, Peniche e Melgaço,
aventa-se à estrada e em todos os bares
há sempre a garrafa que diz Barra Daço.
E há sempre histórias também pra contar,
esses tais enredos que o fazem feliz...,
Diz sempre que os outros devem trabalhar
pra darem sustento e riqueza ao país.
Lá vão os mascarados, podem vê-los,
de tantas formas, no seu modo subumano;
levam caraças e disfarces nos cabelos,
mais os embuços que escondem todo o ano...
Vão prá folia, vão alegres, satisfeitos,
como histriões dos nossos tempos mais modernos;
esquecem normas, estatutos e conceitos,
em prol dos cultos aos assuntos subalternos...
Lá vão os mascarados prá rambóia,
pulam e troçam nesses grupos a granel;
é Carnaval, deixai-os ir, que vão com a nóia,
como as estrelas contrafeitas de papel...
Tanta alegria, tanta farra no Entrudo,
tanta folgança que não é o que parece;
riem-se plantas, animais e quase tudo,
sem que a memória leve a mal, mas que não esquece.
Amigos, meus amigos, e achegados,
conhecidos desta vida em comunhão,
não quereis que eu seja vossa coacção,
pois seremos sempre entes separados.
Amigos, meus amigos, gente honesta,
parceiros desta luta em convergência,
que não vos falte essa santa paciência
e toda a complacência que vos resta.
Sou grato à vossa soma de amizade!
Cada qual merece aquilo que vos digo,
Com muitas mais palavras que dissesse.
Amigos, meus amigos, e de verdade,
sabei que em todos vós e cada amigo
quiseram que estes versos escrevesse.
Tanta hipocrisia, Deus me valha!
Detractores da falsidade, Deus me proteja
das infâmias, das trapaças, da escumalha,
das intrigas maldizentes da inveja.
Tanta hipocrisia, Deus te digo!
Imaculada falsidade deste vulgo
rezai por todos os pecados que aqui julgo
para aceitar a hipocrisia que mastigo.
É tanta hipocrisia, tanta, tanta!
Apregoada, celebrada, consentida,
como dieta de uma sexta-feira Santa
abalroada na consciência de uma vida.
Falsa hipocrisia, flor sem sumo!
Alimento virulento em comunhão,
rogo-te, hoje, que te vás nesta oração
e que te afastes para sempre do meu rumo.
Amém!
Se vão prá Páscoa, pois bem,
tenham muitas alegrias...
E lembrem que a vida, porém,
sempre que vai mais além,
pode não ser só três dias.
Escarneio de mim próprio - com prazer -
rindo das muitas figuras de parvo que fiz nesta vida.
Dá-me a lástima encoberta, e por dizer,
nesse tempo, dessa minha delusão tão bem cumprida…
A chacota que me dou ao manifesto,
faz-me escarnecer das muitas figuras feitas com bastante alegria…
E a lograda zombaria, e todo o resto,
são apenas um bom motivo para rir desalmadamente.
Se me dão licença, claro está! Se me deixarem rir, é evidente!
Porque, no parecer de certa gente, vá que não vá…
O riso é um privilégio que somente pertence aos que não são de cá,
ou então, quem ri goza com toda a gente.
Escarneio de mim mesmo para não ser mal-educado
para com todos aqueles que nem dizem Obrigado! Se faz favor! Com licença!
Perante a indigna presença de quem se sujeita a um carrasco,
essa cavalgadura sem casco - com respeito e sem ofensa -
vinda dos lados da soberba, onde moram todos os que não riem de si mesmo,
por suporem que a vida lhes reserva essa dita sorte medida a esmo.
E, assim, rio eu por todos aqueles que não podem caçoar da sorte deles.
Naquela casa eu pintava sonhos
felizes, risonhos, inventava histórias...
Naquela casa guardo o sentimento
em cada momento das minhas memórias...
Naquela casa estão os azulejos,
esses meus desejos da minha razão....
Naquela casa vi a liberdade,
vi tanta verdade, que hoje não o são...
Naquela casa vejo as laranjeiras,
as mesmas pereiras, o mesmo endereço....
Naquela casa tudo em mim se encerra,
dou serviço à terra que tão bem conheço...
Hoje o quintal contínua igual,
um tanque central, uma mesa rasa,
o forno a um canto,, e para meu espanto
quando me levanto estou naquela casa.
Por nada quererem fazer,
não mexem nem uma palha,
os que tudo querem saber
da vida de quem trabalha.
Este povo é um sorriso,
simulado de antemão,
transmitido às descendências...
Até que ganhe o juízo
que perdeu na ilusão
de viver prás aparências.
Após o conluio feito no sinédrio,
seguiu-se o homem, do que é capaz,
sobrando o exemplo dado por Caifás
aos muitos que bebem do mesmo remédio.
O povo, inseguro, ignora, a preceito,
as frases de Cristo, na sua missão,
o seu a seu ego, em cada oração,
pra ter mais orgulho em cada defeito.
Confundem-se os justos com os vendilhões,
num vasto sinédrio de todas as cruzes,
acendem-se as trevas, apagam-se as luzes,
e fecham-se as portas dos bons corações.
Brincamos com a Natureza,
que nos cria e nos consente,
mas algum dia, com certeza,
Ela vai brincar com a gente.
Aqui, neste silêncio, aonde grita
o mal sobre a matéria, o mundo gera;
Aqui, não há sinais da primavera,
há Deus e a liberdade circunscrita.
Aqui, o mal se espalha, o bem se cerra,
as ruas, antes fartas, estão desertas;
aqui, todas as horas são incertas,
no mal que leva a paz e traz a guerra.
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