Poema para uma Amiga que se Mudou

O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.

Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal.

Não se aproxime de uma cabra pela frente, de um cavalo por trás ou de um idiota por qualquer dos lados.

Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns.

Ousa dizer a verdade: nunca vale a pena mentir. / Um erro que precise de uma mentira, acaba por precisar de duas.

Diante de uma larga frente de batalha, procure o ponto mais fraco e, ali, ataque com a sua maior força.

Cuidado com as pequenas despesas: uma fenda diminuta pode fazer afundar um grande navio.

Para muitas pessoas a felicidade é semelhante a uma bola: querem-na de todo jeito e, quando a possuem, dão-lhe um chute.

Decididamente não compreendo por que é mais glorioso bombardear de projéteis uma cidade do que assassinar alguém a machadadas.

Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira.

Um ancião é uma grande árvore que, já não tendo nem frutos nem folhas, ainda está presa à terra.

Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro.

O dinheiro não nos traz necessariamente a felicidade. Uma pessoa que tem dez milhões de dólares não é mais feliz do que a que tem só nove milhões.

Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela.

Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo.

O dinheiro representa uma nova forma de escravidão impessoal, em lugar da antiga escravidão pessoal.

Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só.

O egoísmo não é amor por nós próprios, mas uma desvairada paixão por nós próprios.

Escrevi uma vez que era um cético que só acreditava no que pudesse tocar: não acreditava na Luiza Brunet, por exemplo. Cruzei com a Luiza Brunet num dos camarotes deste Carnaval. Ela me cobrou a frase, e disse que eu podia tocá-la para me convencer da sua existência. Toquei-a. Não me convenci. Não pode existir mulher tão bonita e tão simpática ao mesmo tempo. Vou precisar de mais provas.

Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e, em catorze dias, perdi duas semanas.