Poema para uma Amiga que se Mudou
Aqui, cada emoção é sacerdócio,
cada lágrima, um rito oculto,
cada impulso, uma esfinge que guarda
o nome secreto do despertar.
Somos, então, harpas da gravidade invisível,
vibrando entre o abismo e a aurora,
entre o punho da raiva e a palma do afeto,
entre a sombra que fere e o verbo que liberta.
A tristeza — carvão para o ouro.
A alegria — sol que canta sob a pele.
O medo — vigia e labirinto.
A culpa — espelho que sangra
quando se nega a olhar.
Não somos senhores do sentir,
mas portais por onde o sentir se revela.
E o caos, tão temido,
não é ruína — é catedral em construção.
No ventre da dor germina a lucidez.
No silêncio do trauma, a chave.
No desequilíbrio, o mapa.
Na dúvida, o mestre disfarçado.
Que tua alma, ao ler-te,
não tema as marés que a erguem ou afogam —
pois toda emoção, quando escutada com reverência,
é alquimia.
E todo caos, quando acolhido com presença,
é caminho.
O TEMPO
O tempo é único para cada indivíduo — uma experiência íntima, subjetiva, impossível de padronizar. Mas o sistema neoliberal construiu uma instituição imaginária do tempo, regulada por servidores do relógio, que impõem engrenagens invisíveis sobre nossos dias.
Dentro dessa prisão simbólica, o tempo deixa de ser vivência e vira moeda, produtividade, controle. Quando o povo se liberta desse tempo artificial, ele volta a ver o passarinho, a sentir o cheiro da flor, a estar presente.
O tempo, então, se revela como ansiedade e depressão na mente de quem não consegue se libertar dele. O tempo é muita coisa — menos uma definição simples, menos um ideal absoluto.
✨ “Ainda Que Eu Não Seja Escolhida”
(uma oração em forma de poesia)
Senhor,
eu fui entregue antes do tempo,
me deram como se eu não valesse nada,
e eu aceitei…
porque pensei que amor era isso:
doar-se até sangrar,
esperar retorno onde só havia migalha.
Amei com o corpo e com a alma,
como quem implora pra ser vista.
Meus olhos buscaram nos homens
aquilo que só o Teu olhar podia me dar.
Meus pais não sabiam,
meu irmão tentou me proteger,
mas eu fui com o coração aberto
para um caminho que me feriu.
E hoje, Senhor…
Eu carrego em mim o peso do que foi,
e o medo de nunca ser escolhida por ninguém de verdade.
Mas é aí que me lembro…
que mesmo quando eu estava no vale,
Tu estavas lá.
Mesmo quando me entreguei sem saber quem eu era,
Tu me chamavas pelo nome.
Enquanto ninguém me escolhia…
Tu já tinhas me separado.
Enquanto eu esperava um beijo que me curasse,
Tu me oferecias um amor que salva.
Hoje, eu entendo:
não sou rejeitada,
sou guardada.
Não sou esquecida,
sou promessa em construção.
Porque a menina que chorava em silêncio,
agora ora de joelhos.
Aquela que buscava carinho,
hoje busca Teu Espírito.
E ainda que ninguém me escolha neste mundo,
Tu me escolheste antes da fundação do mundo.
Me chamaste de filha,
me lavaste com o Teu sangue,
e prometeste um amor que não trai,
um cuidado que não falha,
um propósito que não morre.
Então eu espero…
não por alguém que me ame de qualquer jeito,
mas por alguém que veja em mim
o que Tu já vês todos os dias: valor, beleza e fé.
E até lá, Senhor,
me ensina a me amar como Tu me amas.
A me guardar como Tu me guardas.
A ser templo…
e não abrigo pra amores passageiros.
Amém.
Eu precisava pular fora
Mesmo sem saber nadar
Mesmo me afogando
Uma hora ou outra
Eu iria me salvar
E imagina?
Não me salvei
Morri.
Eu sempre disse que ao chorar
O motivo tem que ser importante
Ontem eu tive uma crise alérgica a você
UM AMOR MAIOR (soneto)
Depois que te beijei, depois, nada mais importou
notei que senti uma sensação que não tem preço
um sentimento, o melhor, que ainda não passou
e, palpita na emoção, se tem tanto, não conheço
Ternura intensa, viva, velada no abraço espesso
em um tom maior, que depois do súbito brotou
na fascinação do coração, no mais doce apreço
e nesta ventura és o versar poético que te dou
Depois que te beijei, depois, tudo é satisfação
sem você é saudade, que aperta, tão estreito
sentir, que invade a alma em uma louca paixão
de te querer, de estar junto a ti, é tão melhor
enredado assim, e com tão ardente candura
só depois que te beijei, senti um amor maior.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13 abril, 2025, 14’34” – Araguari, MG
O Vento Me Chamou, e Eu Respondi
Às vezes ouço passar o vento,
e nele mora uma voz antiga,
como se o tempo em brisa lenta
soprasse o segredo da vida.
Ouço a alma do mundo em silêncio,
num sussurro que embala o pensar,
e só de ouvir o ar se mover,
já sinto que valeu respirar.
O vento não fala por acaso,
ele toca os que sabem sentir.
Carrega lembranças, promessas,
e sonhos que não querem partir.
Nas folhas que dançam no chão,
nas sombras que voam nos muros,
eu vejo a beleza do instante
e o eco de mundos futuros.
Ah, quem dera todos ouvissem,
o que o vento vem revelar:
que viver é mais que seguir...
é saber parar e escutar.
Tem uma frase que diz:
"tudo que você deixa sem atenção, vai se desfazendo aos poucos."
E isso é muito real.
Ausência sempre me gerou desinteresse, você some e eu te esqueço.
Simples assim.
Fragmento VII - Algea
Uma vez que a tristeza é violentada em sua sutileza, nem mesmo Hélio, em sua rogativa, pode amainar seus ventos, de sorte que, barafustar é seu penúltimo ato antes da atimia.
Aquilo que o homem desconhece de si, intui do outro, sendo tal conhecimento, desrespeitoso e inclemente.
Asseguro-te, diante da tristeza, o aninhar de um abraço possui mais poder transformatório que a faculdade de entender o abstrato de outrem.
A meia lua
Um lugar tão longe.
Ao ser, um vazio.
Uma lua ao distante.
Um distante tão sombrio.
Foi da lua tal o brilho
Que do ser, um lugar
Um vazio tão distante
Foi-se longe ao luar.
Alfétena II - Fuga
É a verdade que devoro ou talvez o tempo, quem dirá?
Sou uma prisão da qual não posso escapar!
E, caso fosse possível, para mar ou além?
Em um mundo de tão pouco, há de considerar-se a pena.
Lealdade de uma decisão
Parece que o amor traz consigo muitas alegrias, e somos nós quem nos encarregamos do sofrimento. Toda condição para amar é uma estrada para sofrer. Se rejeita, machuca e maltrata o amor, até mesmo pelo desafio de conhecer o limite do outro, entretanto, poucos aceitam o desafio de amar com o equilíbrio de quem deseja o bem, estando ou não em uma relação. Há quem entre na nossa vida sem trazer nada, mas ao sair acaba levando muito; e há quem venha para nos devolver aquilo que não tirou, sem esperar recompensa ou gratidão. Eu acredito, há muito tempo, que o amor não é um sentimento, mas uma prática que, como tal, necessita de encorajamento e disciplina, em síntese; da lealdade de uma decisão.
Máscaras do apresentável
Há sempre uma oportunidade, um convite à observância do nosso homem interior, pois se o deixarmos ao tempo, o tempo o tornará estranho até mesmo para nós.
Quem não molda seu interior acaba se acostumando às máscaras do apresentável, passando a viver em uma constante emulação do subjetivo, ou seja, uma intimidade oportunista e concomitantemente contraditória.
A Sátira Escarlate
Em meu coração, onde o verde se veste em festa,
Nosso amor nasceu, uma piada indigesta.
Romeu e Julieta, farsa em dois atos,
Nossa paixão, risível em seus estratos.
Loucos varridos, num abraço apertado,
Pela sátira cruel fomos laçados.
O amor nos cegou, comédias sombrias,
E no palco da vida, a morte nos via.
Insano o querer, frenesi desmedido,
Um drama grotesco, jamais esquecido.
Um espetáculo vil, de risos macabros,
Onde os amantes caem, como bonecos fracos.
No século findo, a razão ditava,
Que o amor era entrave, que a alma embaraçava.
Psicológico erro, desvio profundo,
Das metas da vida, um estorvo imundo.
Assim nos amamos, na contramão da história,
Um gracejo amargo, de efêmera glória.
E a sátira implacável, no final da jornada,
Nos cobrou o preço: a vida roubada.
(Inspirado em Romeu e Julieta de William Shakespeare)
Mais uma vez, a história se repete:
O ano acaba e tudo está diferente.
Mesmo assim, não me acostumo…
O ciclo se reinicia e existe mais um ano pela frente
Talvez, o fato de tudo mudar, significa que nada se repete
Ou talvez, eu seja o mesmo do ano passado
Disfarçado com a roupa da moda e o corte de cabelo renovado
Mas é nessa dicotomia que eu sempre me pego
Não fujo de mim, não me faço de cego
Mesmo que, às vezes, os erros abalem meu ego
Olho para trás, vejo amigos distantes
Amores que não amei o bastante
E percebo meu ser errante, minha alma claudicante
Contudo, sigo adiante
Permaneço contente,
Mas… será que ano que vem vai ser diferente?
Vivemos em uma sociedade irônica…
Os sábios possuem muitas dúvidas,
Mas os ignorantes têm certeza de que estão certos.
A Vida parece uma Comédia
A vida, meu bem, ela é meio doida,
Em um dia é samba, no outro ela é boiada.
Num dia você acorda pronto pra vencer,
Já no outro tropeça no chinelo sem perceber!
As vezes não sente nada, as vezes passa horas sentindo doer.
Duneida tem boleto chegando com data vencida,
E o café, claro, acaba na corrida.
O Wi-Fi cai bem quando precisa, sem motivo ou razão.
E você disfarça com cara de patrão.
É dieta que começa na segunda,
E termina com pizza na madruga
É academia paga com fé e suor,
Mas que você visita só no amor. Isso pra não dizer uma palavra sem pudor.
Tem dia que tudo dá certo demais,
Você até pensa: "tem coisa errada por trás!"
Mas relaxa, respira, e vai na moral,
A vida as vezes é caótica — mas ela além de presente divino ela é sensacional.
Então ria do caos, abrace no improviso,
E siga sempre em frente com seu charme e um sorriso.
Viva cada instante que há,
Com alma aberta, sem medo de errar.
Pois a vida é breve, feito um pôr do sol —
Brilha intensa… depois, se vai.
A vida é como uma peça sem ensaio,
E o segredo é: rir antes do desmaio.
"Casa de Dentro"
(por um coração com janelas)
Tenho em mim uma casa que não fecha,
onde o vento entra sem bater —
e cada suspiro é uma porta que range
pro lado de dentro de mim.
Nessa casa mora um rio calado,
que chora baixinho à meia-noite,
mas também ri com o sol da manhã,
quando a esperança põe a chaleira no fogo.
As paredes têm cheiro de infância,
de pão na manteiga e de colo quente.
E quando a tristeza visita,
dou café e deixo sentar um pouco.
Porque aprendi — com o tempo e os tombos —
que até a dor tem poesia
se você souber escutar com o peito
e não só com os ouvidos do dia.
Nessa casa, amor não é hóspede:
é morador antigo,
que plantou hibiscos no quintal
e rega o silêncio com paciência.
E há um jardim nos fundos,
onde tudo que morreu floresce de novo,
de mansinho,
como quem entende que a beleza
não tem pressa nem endereço fixo.
Sou casa, sou rio, sou flor.
Sou verbo que ainda não foi escrito,
mas que vive sendo sussurrado
no coração de quem sonha.
E se um dia bater na minha porta,
vem leve.
Descalço.
Com alma lavada.
Porque aqui dentro,
a gente vive como se o mundo fosse poesia
e cada encontro, um milagre.
Tenho dentro de mim
uma Clarice que duvida,
um Drummond que espreita as pedras,
um Vinicius que ama até o adeus,
e um Shakespeare que sonha com os olhos abertos.
Fui casa caída, bandeira ao vento,
fui rua sem nome e jardim sem dono.
Mas reguei minha ausência com esperança,
e plantei amor até no chão do abandono.
Não me peça lógica — sou flor.
Sou verbo em carne viva.
Sou reza de Cora no silêncio da cozinha.
Sou verso de Mario escapando pela fresta.
E mesmo quando a dor fizer morada,
ainda assim —
com olhos molhados e alma lavada —
deixarei a porta aberta.
🎓 Da Bússola ao GPS: A Jornada do Saber
A faculdade é como uma bússola. Ela não mostra todos os caminhos com precisão, mas aponta a direção certa. Com passos lentos, ela nos ensina a olhar para o horizonte com esperança, disciplina e propósito. É nesse tempo que ganhamos noções de mundo, de carreira e, acima de tudo, de nós mesmos.
Mas se engana quem pensa que se formar é cruzar a linha de chegada. Na verdade, é ali que começa uma nova fase. Ao concluir a faculdade, a bússola precisa evoluir. Agora é hora de transformá-la em um GPS — um instrumento mais preciso, direto e confiável. Isso significa buscar conhecimento contínuo, adaptar-se ao mercado, aprender com a prática e agir com maturidade.
Porém, mesmo com o melhor GPS, existe um alerta importante: não podemos perder o sinal. Em termos simples, não podemos perder o foco, os valores, a ética ou a conexão com aquilo que nos move. Porque sem sinal, não há progresso. Sem direção, nos desviamos do nosso destino.
A jornada do estudante não termina com um diploma. Ela apenas muda de forma. Por isso, siga com coragem, atualize sua rota sempre que for preciso, e mantenha o sinal forte — ele é alimentado pelo seu esforço, seus sonhos e a vontade de fazer a diferença.