Poema para uma Amiga que se Mudou

Aquilo a que chamamos o nosso desespero é frequentemente a dolorosa avidez de uma esperança insatisfeita.

Passarei a minha vida a provocar as confidências dos loucos. São pessoas de uma honestidade escrupulosa e cuja inocência só encontra um igual em mim.

A vida, para os desconfiados e os temerosos, não é vida, mas uma morte constante.

Idealista é quem, notando que uma rosa cheira melhor que um repolho, conclui que é também mais nutritiva.

Louco é quem espera que a nossa razão / possa percorrer a infinita via / que tem uma substância em três pessoas.

A calúnia é como uma vespa que o importuna e contra a qual não se deve fazer qualquer movimento, a não ser que se tenha a certeza de a matar.

A juventude passa e o crepúsculo espalha-se no seu sorriso. / A vida exilada do seu sonho é uma viagem sombria.

Só um homem inexperiente faz uma declaração formal. Uma mulher convence-se de que é amada muito melhor pelo que adivinha do que pelo que se lhe diz.

Ser médico é uma tarefa ingrata. Quando é pago pelos ricos, corre o risco de ser considerado como um criado, quando é pago pelos pobres, um ladrão.

Uma razão fútil diminui o peso das boas razões que antes se tinha apresentado.

Aquele que sabe muito e que não é capaz de conter a língua é como uma criança armada com uma faca.

Será um conforto pensar que a fraqueza pode ser uma força, como uma saúde delicada é uma defesa contra as doenças graves?

Estou de uma vez por todas perdido para estas cerimónias religiosas: todos estes esforços para tornar verdadeira uma mentira parecem-me do mais insípido. Não há nada maior que a verdade e a menor verdade já é grande.

A prosperidade é apenas um instrumento para ser usado, não uma divindade para ser adorada.

O artista que troca uma hora de trabalho por uma hora de conversa com um amigo sabe que está a sacrificar uma realidade a algo que não existe.

Contrariamente ao que crêem os chorões, todo o erro é uma propriedade que acresce o nosso haver. Em vez de chorar sobre ele, convém apressar-se em aproveitá-lo.

As obras de arte são uma infinita solidão: nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica.

Dos meus antepassados gauleses tenho os olhos azuis pálidos, uma firmeza limitada e a falta de habilidade na luta.

Há que trabalhar, ainda que não seja por gosto, ao menos por desespero, uma vez que, bem vistas as coisas, trabalhar é menos aborrecido do que divertirmo-nos.

Ele respeitava muito o meu saber que aos seus olhos me envolvia como uma veste consagrada, e eu fazia de modo que os numerosos buracos não fossem muito visíveis.