Poema para minha Irma Gemeas

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Minha vida não segue a regra dos padrões vendidos e idolatrados pela alienação social. Minhas escolhas, eu que faço.

Minha história é de uma escuridão tranquila, de raiz adormecida na sua força, de odor que não tem perfume.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

...Minha alma me parecia tão vasta e pura quanto a cúpula do céu que me envolvia.

Eu tenho medo de você melhorar minha vida de um jeito que eu nunca mais possa me ajeitar, confortável, em minhas reclamações. Eu tenho medo da minha cabeça rolar, dos meus braços se desprenderem, do meu estômago sair pelos olhos. Eu tenho medo de deixar de ser filha, de deixar de ser amiga, de deixar de ser menina, de deixar de ser estranha, de deixar de ser sozinha, de deixar de ser triste, de deixar de ser cínica. Eu tenho muito medo de deixar de ser.

Sabe, minha classe de lealdade era uma lealdade a meu país, não a suas instituições ou seus governantes oficiais. O país é algo real, é o substancial, o eterno; é algo pelo que vigiar e preocupar-se e ao que ser leal. As instituições são estranhas, são meras roupas e as roupas podem ser mudadas, se tornar ásperas, deixar de ser confortáveis, deixar de proteger aos corpos do inverno, a enfermidade ou a morte. Ser leal aos trapos, disparar pelos trapos, venerar aos trapos, morrer pelos trapos, isso é lealdade ao irracional, é puramente animal. Isto pertence à monarquia, foi inventado pela monarquia. Deixa que a monarquia os conserve.

Sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Armando Nogueira, futebol e eu, coitada.

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Quando me perguntaram o que realmente mudou minha vida há alguns anos, eu digo que a coisa mais importante foi mudr o que eu exigia de mim mesmo.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Quando eu te vejo, minha mão fica tão gelada e meu coração tão quente que eu pareço um petit gateau.

São palavras queimadas, não existentes, palavras em minha mente, frases, textos, você sabe, uma imaginação fértil pode fazer muita coisa, menos tornar reais os sonhos.

Se pronunciavam o teu nome diante de mim, corava e na minha perturbação julgava que tinham lido esse nome nos meus olhos ou dentro de minha alma, onde eu bem sabia que ele estava escrito.

Minha consciência é tranquila e meu coração é limpo. Por isso, prefiro ficar afastada de gente que passa a perna nos próprios sentimentos. Que trai, que distorce, que fofoca. Não te desejo coisas ruins, mas o mundo vai girar e vai te mostrar coisas que você não enxerga hoje. Tenho pena de quem vive um relacionamento mentindo, traindo e, principalmente, fingindo. Bom mesmo é ter sucesso e fazer contatos com as próprias pernas, sem precisar de estepe ou escada.

Que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano – já me aconteceu antes.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica A lucidez perigosa.

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Nossa Senhora, me dê a mão. Cuida do meu coração. Da minha vida. Do meu destino. Do meu caminho, cuida de mim!

Muito incidentes marcaram minha vida, mas um dos que mais me deixaram angustiada foi com Tommy Retting, o garotinho de que trabalhou comigo em O Rio das Almas Perdidas. Era introvertido e certo dia perguntei-le porque nunca falava comigo, ele respondeu: É que minha mãe disse que a senhora não é boa companhia. Mas até que eu me acho muito boazinha

Tem que sofrer muito minha filha, tem que ser largada por um milhão de homens e vê se aprende que amor não se implora. Vê se aprende que se ele gosta, uma frase no orkut não significa nada. Vê se aprende que se ele não gosta, você pode escrever até o RG dele no seu facebook, ele nem vai ter a capacidade de ler. Aprende. Aprende. Aprende que dói menos.

De repente ouvi teu nome. E quase que imediatamente te procurei a minha volta. Não te encontrei, mas me dei conta de que eu estava sorrindo.

Minha vontade hoje é curtir a minha vida e mesmo que isso não inclua quem eu acho que deveria. Ter a oportunidade de ver quem se preocupa comigo, quem está comigo mesmo que seja em pensamento, refazer velhas amizades e passar a reescrever a minha história à minha maneira. Parar de sobreviver pela felicidade de outros ao invés da minha. Mesmo que pareça egoísta, eu hoje quero ser feliz.

Por esses longes todos eu passei, com pessoa minha no meu lado, a gente se querendo bem. O senhor sabe? Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de ideia e saudade de coração…

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Sei, é ruim segurar minha mão. É ruim ficar sem ar nessa mina desabada para onde eu te trouxe sem piedade por ti, mas por piedade por mim. Mas juro que te tirarei ainda vivo daqui – nem que eu minta, nem que eu minta o que meus olhos viram. Eu te salvarei deste terror onde, por enquanto, eu te preciso. Que piedade agora por ti, a quem me agarrei. Deste-me inocentemente a mão, e porque eu a segurava é que tive coragem de me afundar. Mas não procures entender-me, faze-me apenas companhia. Sei que tua mão me largaria, se soubesse.
Como te compensar? Pelo menos também usa-me, usa-me pelo menos como túnel escuro – e quando atravessares minha escuridão te encontrarás do outro lado contigo. Não te encontrarás comigo talvez, não sei se atravessarei, mas contigo.

Clarice Lispector
A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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