Poema Nao Ame sem Amar
me abrace !
me abrace
quando eu estiver
inquieta
mas não deixe de
suspeitar de meu silêncio
quando meus
olhos marejarem
e eu não possuir mais o
controle de minhas águas
quando meus olhos
estiverem cansados de
não se sabe o quê
e ainda quando você
sentir que meu nariz ardeu
quando eu não puder me
sustentar devido à certas
avalanches ;
quando eu reclamar
de dor externa , pra não
falar daquela que
corrói nos ossos
quando eu não souber
sorrir
quando não aguentar
falar
e a respiração passar a
ser controlada
na verdade
não meça esforços
nem deixe que
surjam razões
apenas me abrace
me abrace por abraçar
por estar feliz
me abrace por nada
apenas me abrace ,
eu suplico !
nem que tu cries o
motivo mais sem nexo
na face da terra
a ponto de que
minha estranheza
se assimile à tua
e eu não tenha medo
de te pedir um abraço
mesmo que seja porque
tu sorriste pra mim
ou porque gostei
de tuas falas
de tua alma
mas …
me abrace
te suplico !
Não era amor
Em sombras veladas, trilhamos caminhos,
Não era amor, eram enganos mesquinhos.
Na teia ardilosa, um jogo de ilusão,
Não era amor, era cilada em ação.
Promessas vazias, como vento a soprar,
Não era amor, era um ardil no ar.
Em laços frouxos, a confiança se desfaz,
Não era amor, era cilada que se faz.
Sob o manto da sedução disfarçada,
Não era amor, era armadilha armada.
Em palavras doces, mentiras tecidas,
Não era amor, era ilusão, eram feridas.
Na dança perigosa, corações na mira,
Não era amor, era a trama que conspira.
Um jogo traiçoeiro, paixão simulada,
Não era amor, era cilada, era farsa encenada.
Assim, no labirinto de enganos traçados,
Não era amor, era o fio dos dias cortados.
Desvendando a miragem, a verdade se revela,
Não era amor, era cilada, uma história que se degela.
A menina que queria tudo e que queria nada:
as vezes eu não sei se o problema sou eu
ou eles
normalmente eu
eu acho
a minha cabeça é uma bagunça arrumada
aos olhos alheios parece tudo organizado,
mas se vc abrir as gavetas la no canto,
você vê a verdade
as minhas emoções são instáveis
minhas reações também
minhas relações também
eu nao sei o que sou
o'que quero
quem eu quero
ou por que eu quero
Eu quero tudo.
e não quero nada.
Eu quero todo o amor
toda a beleza
a luxúria
e a riqueza
mas não quero nada de conflitos
nada de repreensões e rigidez
nada de frieza
nada disso
Na minha bagunça organizada tem tudo
eu eu quero que não tenha nada
mas se tiver nada, vai ficar vazio
dando espaço pras brechas de infelicidade que eu mesma crio
esse fungo que é a infelicidade
essa substância mortal que eu gero
é quase um suicidio
estou me matando com esse fungo
logo baratas se juntam ao quarto
e o nada se torna tudo
e outra vez eu torço para que o tudo se torne o nada
Uma ferida não fecha assim tão rápido. E, se não for tratada corretamente, pode infeccionar e contaminar o resto do corpo. Pode ser tarde até que se note a infecção.
Eu perdoo o passado na maioria dos dias. Em alguns, não. Cada pequena ocorrência ativa minha memória, e os meus sentimentos logo assumem o controle.
Ainda estou me curando.
Persistir é uma tarefa árdua porque você não sabe até quando vai ter que aguentar. Não somos invencíveis. Não damos conta de tudo. Parece que nada está mudando realmente.
Estou cicatrizando, eu acredito.
"Siga em frente." Deixe a ferida se fechar e não fique cutucando, não vai mudar o que aconteceu. Pegue todo aquele amor e cuidado que você tem e aplique em si próprio. É hora de desacelerar, olhar para si e passar a se enxergar. Esse processo é só seu.
𝗔 𝗗𝗲𝘀𝗽𝗲𝗱𝗶𝗱𝗮
Quando eu falecer,
Quando eu tiver de morrer,
Não me deixem ao apodrecer,
Me deixem ao amanhecer.
Não me façam velório,
Pois não irei ver,
E nem conversar,
Com os que querem me visitar.
Não me tragam flores,
Não me façam funeral,
Para não derramar as lágrimas dos que me queriam bem,
E não tirar o sorriso dos que me queriam mal.
Não me façam lápides,
Nem túmulos,
Pois não demonstram,
Se importar quando estive nesse mundo.
Cifras
O grito veio do fundo mudo
e ecoou oco, aos poucos.
Não era um grito de susto,
não era um grito de raiva,
tampouco era um grito de empolgação ou de alegria.
Era, sim, um grito ressentido;
era, sim, um grito gritado para que todas as lágrimas fossem choradas.
O mais belo de todos os gritos,
feito de um fôlego só,
de uma só dor,
Ade uma dor só,
DEUS É BRASILEIRO
.
.
Dizem que Deus é brasileiro
(que se desespera,
que também não mora,
que também tem fome,
que a si mesmo come).
.
Dizem que Deus é brasileiro:
que gosta de samba,
que gosta de praia
(que também não fala,
que também se cala).
.
Dizem que Deus (foi) brasileiro...
Morreu aos cinco anos de idade,
quando era uma criança retirante
– cumprindo a taxa de mortalidade.
.
.
[[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Insurgência, 2021]
Nasci e me criei no Ceará.
E tendo alma de poeta,
A dor não me afeta
Pois a sina é superar.
E se vejo alguém rimar
Sobre chuva no Sertão
Dou graças pelo feijão,
A canjica e o bovino.
Eu também sou Nordestino
Do jeito que vocês são.
NO CÔNCAVO DA MÃO MORTA
.
.
No côncavo da mão morta
havia uma chave...
não sei para que castelos.
.
Para qual porta, oh Deus Entranhas,
tal chave – tão triste chave –
em certo dia foi forjada?
.
Havia aquela chave
não como uma pedra
no meio do bom caminho,
mas no côncavo da mão morta.
.
E essa mão,
tão inerte e já bem morta,
cujo corpo era seu mero apêndice,
ao mesmo tempo oferecia
e segurava a chave.
.
O gesto, embora pálido,
tinha a cor dos desesperos!
Parecia dizer, nos entrededos:
.
Pega esta chave,
se tu és digno dela,
e cuida do seu metal
como se fosse cristal
precioso, de tão frágil.
.
Antes de tudo o mais,
colhe-a como uma fruta
já por mais do que madura.
A ela recebe – tão suculenta –
entre teus próprios cinco dedos.
.
A chave, no côncavo da mão morta,
parecia a mim implorar-assim:
“Leva-me... a meu destino,
que para isso nasci”.
.
E a mão côncava
acrescentava:
“Leva-a, que somente por isso
insisto em me entreabrir”
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Ipotesi, 2021]
O INVENTOR
DE IDIOMAS
,
,
Ainda adolescente,
inventou duas ou três palavras
que não se achavam em quaisquer idiomas.
Não faziam sentido em inglês, bielorrusso, javanês!
A bem dizer de todos os dizeres, não faziam sequer sentido
mesmo neste código mais do que secreto: o português.
.
Depois percebeu que as duas ou três palavras,
que àquela altura já eram quatro ou cinco,
não eram irmãs, nem distantes primas.
Estranhavam-se, umas às outras,
como se não fossem feitas
da mesma alma-carne.
.
Por causa disso
– da solidão de suas palavras –
demoradamente dedicou a sua vida
a inventar os idiomas que pudessem acolhê-las.
Fundou ainda uma escola de tradutores,
para traí-las umas nas outras.
.
Mais cedo do que mais tarde,
alguns ociosos fundaram cátedras
especializadas em ensiná-las e estudá-las
muito solenemente, com leveza ou gravidade.
Assim, ele ganhou o seu primeiro – e único – Nobel,
em uma nova categoria que não era a Literatura,
recém-inventada, especialmente para ele.
.
Quando por fim morresse
– do que dois ou três seguidores duvidavam –
alguém haveria de escrever na lápide, à maneira de epitáfio:
“gênio da humanidade”, “inventor de palavras”.
Mas um outro, ao perceber a injustiça,
certamente iria logo corrigir,
depois de um risco
no falso dito:
“Inventor
de
Idiomas”.
.
E o mundo
ficaria em paz...
– tal qual sagrado cálice –
como nunca esteve depois do Verbo.
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Decifrar, 2022]
Canção do amor impossível
Como não te perderia
se te amei perdidamente
se em teus lábios eu sorvia
néctar quando sorrias
se quando estavas presente
era eu que não me achava
e quando tu não estavas
eu também ficava ausente
se eras minha fantasia
elevada à poesia
se nasceste em meu poente
como não te perderia
Sinto a sua falta,
depois não sinto.
Te amo e não te amo...
Como pode ser possível?
Coisa de momento.
Quanto mais eu penso no que você fez,
pior eu fico.
Ah, como quero ter você!
Desisto.
Não vejo arrependimento,
não vejo sacrifícios,
ninguém abre mão de nada,
ninguém dá o braço a torcer.
Muito, muito difícil...
Perdoar? Quase impossível.
Quase...
Mas outra vez eu penso,
e logo desisto.
Será que não vê mais
Os mais do tempo
Os ais dos casos?
Que não sente mais
A mão que afaga
E apedreja outro olhar?
Não mais está no caso
Pelo ódio desprezar
O ar tirado?
*Poema do livro Anjo da Guarda, de Rafael Rodrigo Marajá.
Sonho. O desejo,
sonho o desejo
que desejo e não vejo
realizar pra mim.
O sonho que sonhei
nem mais sei,
sonhei outra vez.
Sonhe novo,
sonhe um
novo sonho,
Sonhe um sonho sem fim.
Para ela, é azul,
Para ele, cor de mar,
- Para mim, cor de vinho,
Ele, ele não descreve o que vê.
Até o momento, não sei por quê,
E ele também não sabe dizer.
- Oras, é azul!
- Oras, é cor de mar!
- Não, é cor de vinho!
Que costume mais mesquinho, de a tudo nome dar!
Para ela, é azul.
Para ele, cor de mar.
Para você, cor de vinho.
E para ele, bem, para ele tudo pode ser.
Se sabedoria fosse tudo nessa vida
Eu não teria passado tanta parte do tempo pensando
''o que é tudo para essa vida?''
Seria Deus?
Mas, se Deus fosse, eu não estaria ignorando toda sua criação?
Lembro Deus está em tudo, até em mim
Ai de mim me colocar no centro.
Relembro Deus está em tudo, e é vida
Tudo tem vida
Logo, a vida é tudo para se viver
E qual o melhor jeito de se viver a não ser em cristo?
Sabedoria só é usada em momentos que necessitam
O que não é o comum de nós
Mas a vida, quando ela se torna importante?
Hanahaki
Sinto que estou vomitando flores
Rosas com espinhos
Infelizmente, isto não vai com minha dores
Apenas com meu espírito
Lápide
Quem você procura, por que veio?
Ele não está aqui, não existe mais.
Apenas seus restos mortais,
Símbolo da fragilidade da vida,
Que é uma dádiva, mas se esvazia,
Como um jarro d’água ao regar uma planta,
Entrega o sabor da vida, mas se esvazia.
Quem você procura, não está aqui,
Somente em sua memória ele vive,
Cada gesto, cada olhar,
A palavra que ecoa como o vento nas árvores,
Produzindo sons que se perdem no tempo.
Quem você procura, não está aqui,
Mas em outra vida, no passado,
Nos ecos das histórias que deixou,
Marcadas em suas lembranças.
Quem você procura, não está aqui,
Mas em você, todos os dias,
Ao dormir e ao levantar,
Ele estará presente.
Ele estará sempre vivo enquanto você se lembrar que ele não esta mais aqui.
A dor do não dito
Paixão, afeto,
Não sei ao certo,
Só sei que o que sinto,
Não está escrito.
O peso que carrego,
Ou o medo de ser arrastado por ele.
É um nó que sufoca o peito,
Em tudo que lhe diz respeito.
Que machuca no fundo do ser,
Por não encontrar palavras, que se façam entender,
O tanto que eu gosto de você.
É sobre esconder,
O que minh'alma implora.
É sobre amar,
Sem poder se entregar.
É como se isso fosse me matar,
Mas se eu gritar,
O que será de mim?
Um louco? Um tolo?
Ou apenas alguém perdido em seus próprios sentimentos?
E ainda assim, estando contigo, posso ser eu mesmo...
Só sei que, se isso continuar,
Eu não irei aguentar.
Mas sei,
Que meu ser é um eco vazio,
Um reflexo que se desvanece,
E se perde,
Na névoa do que sou.
