Poema de Mario Quintana Decendo as Escadas
Quantas vezes alguém já lhe expôs toda a sua angústia, inveja, frustração e ainda chamou isso de opinião?
Cuidado com o que você permite em sua vida. Não se acostume com amores, afetos e amizades pela metade.
Decidi alimentar o “eu” que eu mesmo criei e deixar o “eu” dos outros sem alimento, cada dia que passa ele ficará inevitavelmente menor, mais fraco e mais feio...
A amizade recusa o abandono, o isolamento; é uma forma de se distanciar da sensação de estar sozinho.
Amizades que se supõem que existiam e, por conta da polarização, foram rompidas não eram amizade.
Uma das coisas boas da amizade é que ela é marcada por certa irracionalidade, as pessoas são nossas amigas e pensamos “como suporto essa pessoa na minha vida?”, uma pessoa que dá trabalho e tá sempre encrencando, mas você não larga.
A amizade não admite a traição; o amor admite, a paixão também. Mas a traição e a ingratidão são elementos que não cabem no conceito de amizade.
A amizade exige autenticidade. Eu posso ser de um jeito que você não gosta, mas fica nítido que sou assim para que você possa escolher se continua ou não, sem dissimulação.
Ter amigos e amigas é importante sempre porque lembra cada um que não somos estrelas solitárias.
Está firme na cadeira? Então escuta esta: deus não existe. É uma invenção compensatória. Quando falta o que comer e vestir, onde amar e trabalhar em paz, alguns compatriotas recorrem à entidade que seria capaz, se não de prover suas carências, de ao menos servir de consolo.
Sonhar é ter uma expectativa que se queira atingir, delírio é a incapacidade de construir um caminho viável para se chegar ao objetivo.
Pude dedicar boa parte do meu tempo a essa paixão, vício e maravilha que é escrever, criar uma vida paralela onde nos refugiamos contra a adversidade, que torna natural o extraordinário e o extraordinário natural, que dissipa o caos, embeleza o feio, eterniza o instante e torna a morte um espetáculo passageiro.
Vale a pena viver, nem que seja só porque sem a vida não poderíamos ler nem fantasiar histórias.
Seríamos piores do que somos sem os bons livros que lemos, mais conformistas, menos inquietos e insubmissos, e o espírito crítico, o motor do progresso, nem sequer existiria.
Inventamos as ficções para podermos viver de, alguma maneira, as muitas vidas que queríamos ter, quando apenas dispomos de uma só.
A boa literatura cria pontes entre pessoas diferentes, fazendo-nos gozar, sofrer ou nos surpreendermos, nos une sobre as barreiras das línguas, crenças, usos, costumes e preconceitos que nos separam.
A literatura cria uma fraternidade dentro da diversidade humana e apaga as fronteiras que erguem entre os homens e mulheres a ignorância, as ideologias, as religiões, os idiomas e a estupidez.
A vocação literária nasce do desacordo de um homem com o mundo, da intuição de deficiências, vazios e impurezas ao seu redor. A literatura é uma forma de insurreição permanente e ela não admite camisas de força.
Ninguém pode ensinar ninguém a criar; na melhor das hipóteses, podemos aprender a ler e escrever. O restante precisamos ensinar a nós mesmos, tropeçando, caindo e levantando sem cessar.
