Poema da Geladeira Elisa Lucinda
O dia vestiu-se de luto,
e transformou-se em noite.
Apagou seu lampião do céu,
e acendeu seu abajur de prata.
Chegou cansado,
Arquejante,
Enlutado.
Deitou-se, mas não dormiu.
Ligou o rádio
Eram seis em ponto.
''Santa Maria, mãe de Deus,
Rogai por nós pecadores''.
Desligou
Acendeu um cigarro,
fez fumaça,
e desenhou São Jorge.
Na luz quarto crescente
Do abajur de prata.
A terra seca
O vento que não sopra
os pássaros que não cantam
o sol que estremece as árvores;
Secas.
Maria na janela.
o sol queimando o vento
o vento que não sopra
o sol queimando Maria na janela
o bem-te-vi que não canta
Soalheira e silencio
Ar morto e viscoso
o céu sem nuvens
janela sem Maria
Um fim de janeiro, nos confins do sertão.
Me aprontei para acolher a Primavera
deambulei pela cidade
flanei pelo campo, pelo bosque e pela praia
e no aguardo de respirar o nascer das flores
inalei o despertar de uma dor amainada
foi então que tirei a poeira do olhar
abri a janela da alma
e querendo abraçar a vida
cruzei os braços e me apertei num abraço...
E as ondas , como sempre,
irrompem impetuosamente
na mesma proporção que o cenário
- esse meu alinhamento vertebral de versos irracionais -
permanece sereno e pacifico
no horizonte frenético da inspiração...
Perguntei ao Pai Oceano
o que era o silêncio
e Ele me respondeu com o rumor das ondas...
Perguntei a Mãe Selva
o que era o silêncio
e Ela me respondeu com o farfalhar das plantas...
Por muito tempo
estive a ler uma saudade
que o tempo nunca se cansou de me escrever
e hoje jà nao sei muito bem
se leio a saudade de um tempo
se é a saudade que se escreve no meu tempo
ou se é o tempo que lê a saudade escrita
em todos os meus tempos...
O que me faz ficar horrorizada
nao é o horror humano em si mesmo
mas sim
a horripilante espetacularização do horror
e a aptidão da humanidade a se acostumar
com a quotidianidade e a banalização do horror.
nesse meu cenário
componho versos e melodias
preparação adequada pra todo sentimento contido
e pra toda emoção refreada
eu ,completamente, toda mergulhada
no tudo, incompleto, de mim
recolho o perfume das estrelas maduras
que caem no meu jardim de verdes divagações poeticas
a delicateza do que sinto é demasiadamente forte
que sem piedade açoita o meu sonhar e o meu viver
então me liquefaço na poesia
que irriga a vergôntea das minhas tardes
e orvalha as petalas das minhas madrugadas...
Ela chegou devagarinho, mas gritando tudo aquilo
que o coração sussurrara inumeras vezes
naqueles instantes em que as orelhas
estavam demasiadamente entretidas para escutar...
e era estranho o fato que nada mais apunhalava, cortava e feria como antes,
apenas doia, ardia e magoava delicadamente.
Um desalento vigoroso se agarrou naquela tela guache prateada do anoitecer...
era uma dor forte, bonita, profunda, calorosa e cheia de luz
que chegou arrombando a porta trancada
para iluminar outras telas, outras dores e outras inspiraçoes...
lá no fundo ela tinha tanta doçura
e tinha tanto medo de ferir
as feridas expostas que se escondiam ...
Palavras alastrando-se pelo chão ...
a caneta convida o caderno … explosão
quando transborda a inspiração
eu nao sei estugar
o lirismo è o meu caminhar
a poesia é o meu pulsar
Estiro os meus versos umidos
no estendal da noite
galgo as poças das expressões singulares
no eirado deserto e mudo
o olhar goteja letras silentes
o silencio transborda gotas de palavras acanhadas
querendo virar frases poeticas
ensopada a caneta estrondosa
se ajoelha diante da folha prateada
implorando o fim da poesia encharcada…
Entre os suspiros e os soluços das palavras
escuto a vida com a audição de pertencimento
dos verbos e advérbios do viver e do sonhar
que pertencem ao meu olhar de poetica pertença.
A hipocrisia das datas celebrativas
Todo dia é dia de algo
porque todos os dias
a humanidade esquece de tudo
e sobretudo de todos.
A monstruosidade humana não pertence a nenhuma etnia
e não há nenhuma nacionalidade
mas possui o passaporte chamado humanidade.
Anteontem
me embriaguei de realidade
e - frágil -
acordei para mim
com uma forte ressaca
ontem
senti saudade de mim
daquela ternura do meu olhar e daquela doçura do meu sonhar
daquela minha coragem timida e daquela minha timidez corajosa
daquela minha bondade inata e daquele meu querer acreditar no mundo
daquela minha sensibilidade estupida e daquele meu chorar por tudo
hoje
depois da ressaca terrivel
acordei de novo em mim
naquele mim
que agora
acredita somente em mim.
ESTOU ME DESFAZENDO
Estou me desfazendo
Daquelas gravatas,
Que apertam a garganta;
Daquelas bravatas,
Que ao pequeno agiganta
Em uma doce ilusão
E em engano suplanta.
Estou me desfazendo
Daquelas juras de amor
Que não saciam
A alma vazia;
Apenas viciam
Em sabor de um talvez,
Muitos se asfixiam.
Estou me desfazendo
Do que posso obter,
Ou que penso poder.
Quanto custa o prazer?
Para a alma cansada
Da paixão o suplício,
Esquecida ou amada.
Estou me desfazendo
Do que fui anteontem,
Se me lembro do ontem
É para meu martírio.
Entregar-me ao delírio
De uma vã nostalgia?
Sai fibromialgia!
Estou me desfazendo
De tudo que não é meu
Mas que tenta reter-me
Em prisão ilusória
Envolver-me em história
Triste, fantasiosa
Intenção gloriosa!
Estou me desfazendo
Trocando o certo
Pelo duvidoso?
Não! Apenas aberto
Ao que é glorioso
Mas pouco perseguido
Pois é angustioso.
Estou me desfazendo
Do que dizem ser amor
E insiste em ter guarida
Em meu interior
A pessoa preferida
Talvez não seja um amor
Mas somente uma paixão.
06/10/2015 (13h02)
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