Poema da Geladeira Elisa Lucinda
Raramente a felicidade cai do céu, como uma benção ou um passe
de magia ou sorte. Geralmente precisamos trabalhar muito e muitas
coisas em nós e na nossa jornada para conquista-la.
Não podemos escolher acordar alegres e saltitantes
todos os dias do ano, mas podemos ser gratos por cada dia de vida,
mesmo que não estejam chovendo purpurina sobre nossas
cabeças!
Amo as coisas que demonstram simplicidade...
Vejam as margaridas, tão singelas e dispretenciosas,
e no entanto não conheço pequenas flores mais belas.
Assim são as pessoas de alma clara e leve, lindas
como as margaridas!
Há flores maravilhosas que florescem em meio ao deserto
árido e caudaloso. Assim somos nós quando esboçamos
um sorriso mesmo naqueles dias mais difíceis.
Deus escreve certo mesmo nas linhas
tortas das nossas vidas. Tudo que provém do Divino
é reto, perfeito e útil para nós, mesmo que as vezes
não nos pareça agradável à primeira vista. Lembre-se:
Deus só faz o melhor!
Perdoar aos outros as vezes é mais fácil
que perdoar à nós mesmos por nossos delitos,
mas lembre-se, a mágoa que guardamos de nós
mesmos nos pode fazer mais mal à alma do que
a raiva dos outros por nós. Não é possível receber
o amor e o perdão do outro sem primeiro nos
perdoar e amar.
Que nunca nossas palavras sejam motivos
para causar tristeza, vergonha ou dor ao outro;
antes, tudo que sair da nossa boca acaricie e
acalente o coração e faça brotar sorrisos na alma!
Vai, ara o teu terreno, sameia tuas sementes,
água teu plantio e no tempo propício colhe teus frutos.
Portanto, escolhe bem o grão que vais cultivar!
LIBERDADE PARA A MULHER!
Soltem as amarras
Desfaçam a carranca
Deixem-na livre tal qual colibri
Ela tem o direito de ir e vir
Não interessa prá onde
Nem mesmo porquê!
A beleza de ser mulher ninguém esconde
Na força do ser
No poder de parir
Na ternura do sentir
Na ânsia de amar...
Soltem as amarras
Desfaçam a carranca
Deem espaço
Dessamarrem o laço
Desatem os nós
Não interessa o seu pensar
Liberdade à mulher de hoje
À mulher de sempre
A mulher mãe
A mulher trans
A mulher bandida
À mulher
Liberdade à mulher da vida
A mulher da lida
A mulher que tem o direito de ser quem quiser
O que quiser
Na hora que quiser!
Soltem as amarras
Desfaçam as carrancas
Liberdade para a mulher!
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
A palavra dita com precisão e em momentos
de dificuldade é o mesmo que um cantil
de água fresca na hora mais caudalosa do deserto.
Dessendenta a sede e satisfaz.
Não são os espinhos das flores que lhes rouba
a pureza e a beleza; assim como não são os momentos
difíceis que passamos que irá roubar de nós a capacidade
de contemplar o espetáculo da vida.
Geralmente chegamos às campinas verdejantes
após passar pelos caminhos de pedras; isso ocorre
para que possamos nos regozijar nas paragens
verdejantes, usufruindo com prazer e gratidão
o novo caminho.
Que a rudeza da vida não endureça meu coração
Que as batalhas não me enfraqueçam, mas que criem
em mim resiliência e que os momentos de tristeza
não me roubem a esperança de dias felizes!
Que possamos ser companhia agradável
o suficiente para que todos aqueles
que chegarem perto de nós não queiram
partir sem o desejo de permanecer
um pouco mais.
Que toda tristeza seja breve
Que toda saudade seja leve
Que toda solidão seja para encontrar-se consigo mesmo
E que toda alegria permaneça à fim de trazer
gosto ao viver!
Vida em versos
Transladando nos verbos
Gritando nos substantivos
Vivendo nas palavras.
Se escondendo
enquanto se revela
na poesia.
NEM SAUDADES DE TI...
Deixo-me arrastar pelas águas
Sinto o vento me acariciar o rosto
Sou parte de toda a vida que me cerca
E nem saudades de ti, meu bem, eu sinto...
Sou completude de mim mesma
Tuas longetudes não me afetam
Tuas ausências já não podem me ferir
Porque estou sendo arrastada pelas águas
Águas azuis de um córrego manso.
Deixo-me embalar pela aragem fresca
Um cheiro de paz chega-me às narinas
A vida, por hora me fascina
Sou satisfação, assim, arrastada pelas águas
E nem saudades de ti eu sinto meu amor
Nem saudades...
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
ENCANTO
Passarinhos pousam no pé de acerola
Vejo-os em frente à minha janela
Alforriados de grades de gaiolas
Cantam alegremente
Conversam entre si
Porque cantam eles?
Sobre o que gorjeiam tanto?
Possuem alguma percepção de mim?
Eu que paro para ouvir os seus cantos
Que me aquieto em meu canto
E do meu canto me encanto com tanto encanto!
... Ah, se não fosse tanto pranto
eu poderia ficar todo o dia
com os sabiás e as andorinhas,
brincando de viver e fazendo poesia.
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
FEITA DE FLORES
Quando nasci numa noitada fria
Uma gardênia brotou em mim
E das agruras em choro e apatia
Plantei poesia no meu jardim!
Porque sou feita de mil flores
Alma, corpo, cerne e coração
Como pétalas de doces amores
Translado a dor_ sublimação.
Me doo em cheiro de hortências
E quando o medo aflora n'alma
Colho copos de leite... acalma
O pavor do ser_ ambivalência!
E um dia quando eu daqui voar
Espalhe sobre mim cheiros e cores
De todas as eras que encontrar
Porque sou feita de mil flores!
Elisa Salles
(Direitos autorais reservados)
Eu poderia
Juro que poderia
Ter vivido mais intensamente a vida
Se toda minha intensidade
Não tivesse delegado àquela margarida do caminho...
Lembra?
Ela não tinha espinhos
Me encantei
Me entreguei em sangue e vida à doce margarida!
