Pessoa Linda
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
O homem é um egoísmo mitigado por uma indolência. O animal é a mesma cousa.
Uma das formas de saúde é a doença. Um homem perfeito, se existisse, seria o ser mais anormal que se poderia encontrar.
Tão cansado de ter achado como de não ter achado. O fim e a soma do que somos, já o Pregador o disse: vaidade e aflição de ânimo.
O bem é um mal necessário. Se não existisse o bem, ou a ideia dele, não conheceríamos o mal, portanto o bem é ele próprio um mal, e é necessário (para conhecer o mal): um mal necessário. Q.E.D.
A volúpia do ódio não pode igualar-se à volúpia de ser odiado.
Se algum dia alguém deixasse de me achar ridículo, eu entristecia ao conhecer-me, por esse sinal objectivo, em decadência mental.
A coragem que vence o medo tem mais elementos de grandeza que aquela que o não tem. Uma começa interiormente; outra é puramente exterior. A última faz frente ao perigo; a primeira faz frente, antes de tudo, ao próprio temor dentro da sua alma.
As ideias são prodigiosas — elas e a maneira como se associam. Num momento, descobrimos que atravessámos o mundo, e que transpusemos o infinito entre dois pensamentos.
Quem escreve para obter o supérfluo como se escrevesse para obter o necessário, escreve ainda pior do que se para obter apenas o necessário escrevesse.
CHEGA.....
Assim mesmo em letras garrafais.
Morte, não podes chegar a hora que bem entender e levar quem bem quiser,
já usastes a desculpa da doença, da idade, do acidente, que mais faltas inventar ?
E o próximo veraneio, e o almoço do próximo domingo ?
E o plano de parar de fumar ?
Porque acabas a festa sem a ultima dança, sem a ultima musica,
sem a ultima chance ?
CHEGA.....
Assim mesmo em letras garrafais.
Agora alguém vai ter de molhar aquelas plantas
vão ter de mexer nas gavetas, nas fotos, nas roupas e em tudo mais.
Tantas coisas que se tinha pra fazer.
Morte, não sei de onde tiras esta idéia.
A troco do que?
CHEGA.....
Assim mesmo em letras garrafais.
Porque me jogas contra Deus,
Aviso que não conseguiras
que desperdícios insistes em causar
Saibas que nunca iras tirar as lembranças de quem eu amo.
Morte, não te orgulhes, embora te aches poderosa
tu pra mim já estas MORTA.
Assim mesmo em letras garrafais.
Poema de Alexandre Pessoa - 2019
Tenho a náusea física da humanidade vulgar, que é, aliás, a única que há. E capricho, ás vezes, em aprofundar essa náusea, como se pode provocar um vomito para aliviar a vontade de vomitar.
Um dos meus passeios predilectos, nas manhãs em que temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia, é o de seguir lentamente pelas ruas fora, antes da abertura das lojas e dos armazéns, e ouvir os farrapos de frases que os grupos de raparigas, de rapazes, e de uns com outras, deixam cair, como esmolas da ironia, na escola invisível da minha meditação aberta.
E é sempre a mesma sucessão das mesmas frases... «E então ela disse...» e o tom diz da intriga dela. «Se não foi ele, foste tu...» e a voz que responde ergue-se no protesto que já não oiço. «Disseste, sim senhor, disseste...» e a voz da costureira afirma estridentemente «minha mãe diz que não quer...» «Eu?» e o pasmo do rapaz que traz o lanche embrulhado em papel-manteiga não me convence, nem deve convencer a loura suja. «Se calhar era...» e o riso de três das quatro raparigas cerca do meu ouvido a obscenidade que (...) «E então pus-me mesmo dia nte do gajo, e ali mesmo na cara dele — na cara dele, hem, ó Zé...» e o pobre diabo mente, pois o chefe do escritório — sei pela voz que o outro contendor era chefe do escritório que desconheço — não lhe recebeu na arena entre as secretárias o gesto de gladiador de palhinhas [?] «... E então eu fui fumar para a retrete...» ri o pequeno de fundilhos escuros.
Outros, que passam sós ou juntos, não falam, ou falam e eu não oiço, mas as vozes todas são-me claras por uma transparência intuitiva e rota. Não ouso dizer — não ouso dizê-lo a mim mesmo em escrita, ainda que logo o cortasse — o que tenho visto nos olhares casuais, na sua direcção involuntária e baixa, nos seus atravessamentos sujos. Não ouso porque, quando se provoca o vómito, é preciso provocar um.
«O gajo estava tão grosso que nem via a escada.» Ergo a cabeça. Este rapazote, ao menos descreve. E esta gente quando descreve é melhor do que quando sente, porque por descrever esquece-se de si. Passa-me a náusea. Vejo o gajo. Vejo-o fotograficamente. Até o calão inocente me anima. Bendito ar que me dá na fronte — o gajo tão grosso que nem via que era de degraus a escada — talvez a escada onde a humanidade sobe aos tombos, apalpando-se e atropelando-se na falsidade regrada do declive aquém do saguão.
A intriga a maledicência, a prosápia falada do que se não ousou fazer, o contentamento de cada pobre bicho vestido com a consciência inconsciente da própria alma, a sexualidade sem lavagem, as piadas como cócegas de macaco, a horrorosa ignorância da inimportância do que são... Tudo isto me produz a impressão de um animal monstruoso e reles, feito no involuntário dos sonhos, das côdeas húmidas dos desenhos, dos restos trincados das sensações.
Não fale para todos dos teus sentimentos, dos teus sonhos, dos teus medos. Nem todos possuem a grandeza de compreendê-los. Partilhe com quem se alegra com tuas conquistas, te apoia, te quer bem.
Aprendi com o passar do tempo e a maturidade trazida pelos dias, que meu Pai em todos os momentos da vida demonstrou seu amor por nós em atitudes silenciosas; chorou por dentro nossas dores, torceu sem fazer alardes. Enquanto tecíamos nossa história, ele produzia a linha, enquanto levantávamos as paredes de nossos sonhos, ele era nosso alicerce, enquanto chovia lá fora, ele era nosso abrigo.
Sábado é meu dia de fazer uma faxina. Não sabia por onde começar. Resolvi começar por dentro (de mim). Livrei-me dos acúmulos, do pessimismo, dos pensamentos negativos; livrei-me de coisas que já não fazem o menor sentido. Tire o pó daquele quadro de família; acendi uma vela nos lugares mais escuros, fiz uma prece, cultivei o que me faz feliz, me sentir vivo. Depois fui cuidar da casa.
Tem amigos que passam dias sem dar notícias, ou, até mesmo, moram quilômetros de distância. Mas temos a certeza que há um encontro diário entre nós dentro do coração. Esses tem endereço certo, casa segura. Porque descobrimos como tempo e a distância que o amor não sabe nada de matemática.
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