Pessoa Falsa
Distopia.
Desajeitado, andei, falei,
pensei.
O estranho é mais poético,
cada ato é verso,
já fui poesia.
Ambição de poeta é se tornar anônimo.
Ser, e só.
Improvável, o singular não cabe
no anonimato.
Para enquadrar-me,
travesti-me de multidão.
De poesia virei prosa, prosaico.
Descomprometi-me com a rima e seu desfecho,
conotação limitou-se a denotação,
o lirismo acabou com a chegada da distopia.
Matei o poeta, limitando-o.
E de mar, virei arroio.
Já fui verbo encarnado,
hoje sou texto inconcluso.
“Todo amante é insaciável, pois mesmo quando utiliza o toque é barrado pelas paredes do corpo, nunca atingindo assim seu real objetivo; a alma do ser amado.”
Meu mar doce,
represa-la?
Não posso.
És livre mar...
Navegantes?
Só os que permitiu,
mas
não há ainda quem
o desbrave.
És livre mar,
de
ondas curvilíneas,
poente de toda luz.
Povoa a mente dos homens,
morada do desejo.
És livre mar,
a ti, tenho
apenas
um pedido.
Afoga-me.
“A distância, a rotina, a correria do viver podem nos fazer esquecer temporariamente de quem gostamos ou porque gostávamos.
Porém só é preciso a oportunidade de um toque para que novamente este ser volte a povoar nossa mente. A pele não sofre de Alzheimer, ela sempre se lembrará ou de uma carícia ou uma cicatriz.”
“Pássaro encantado tu que detém o canto e a palavra. Que transita entre a realidade humana e a eternidade dos céus. Carrega-me. Leva-me aonde o tempo não me encontre. Onde eu e a eternidade, assim como tu, também somos um. Onde ainda sou garoto e a decepção ainda não maculou meus olhos. Onde a felicidade é certeza e não possibilidade. A casa da poesia.
Onde somos pretérito, presente e futuro.”
“Fico triste toda vez que preciso de algo que ainda não inventaram. Como daquela vez que procurei por uma máquina do tempo para voltar até aquele exato momento do nosso último abraço e dar mais um abraço e falar tudo o que não falei, quando pensei que aquele não seria o último abraço.”
“Quantos equívocos seriam evitados se ao invés de ficarmos com nossas rasas interpretações buscássemos a versão do autor.
Quando existe a possibilidade de ir diretamente a fonte de qualquer assunto é ignorância e imaturidade continuar interpretando escritos e ações.
Quando a intenção é encontrar a verdade de um assunto à imaginação sempre nos fará pecar.”
Autorretrato
“Faço apologia do inútil, fomento as desimportâncias.
Não sobrevivo apenas com o indispensável. O sonho e a loucura são essenciais.
Combato o óbvio e a pobreza da
descrição, cheia de certezas
turvas, com um segundo olhar.
Troco o fato pela frase, para
abortar extremistas e ditadores.
Economizo a informação para
aumentar o encantamento.
É o jeito que encontrei de revisitar o Éden. Utopia ajuizada não é utopia.
Penso que melhor uma verdade escrita é uma beleza bem contada."
Amar o próximo
“Em suma, mesmo que não a assumamos, existe uma cadeia cíclica que quando rompida faz com que a vida perca sentido de potência. A vida serve para servir.”
“Dúbia interpretação deste cristal líquido que umidifica a superfície da flora. Será choro ou suor sob a pele da folha fria?
Uso do mesmo artifício e hidrato meus olhos nas madrugadas gélidas de tristeza ou quando me emociono ante tamanha beleza como essas da natureza.”
Orvalho
“Já tenho algumas décadas e sei, tenho muito a caminhar. Desejo ainda ser lido mesmo depois quando enfim for encontrar minhas origens. Espero até lá parecer mais sábio aos olhos dos que me descobrirem. Não sou propriedade da minha propriedade. Tudo que tenho e fiz só faz sentido se puder ser, de alguma forma apropriado por outros. Sou poeta e a poesia não tem dono cada um que a ressignifica se torna co-autor. Essa é a a forma que encontrei de me tornar eterno a cada vez em que eu for recontado.”
“Ela é como a lua
tem fases e fusos próprios.
Míngua, cresce e se re nova.
Ela é como a lua cheia
de vontades.”
“A poesia é como amor, quando se revela não sabe se revelar, precisa ser percebida é preciso saber olhar.”
Abri mão das receitas
para não abrir mão mim. Quando
percebi minha vida passando
sem me mostrar quem sou,
Disse:
- Basta!
Hoje só fico onde exista amor.
Podem até sujeitar meu corpo.
Mas na minh’alma
nunca ninguém mandou.
Fiz pacto poético,
chega dos ofícios de horror!
Quando vi minha vida passando
sem reconhecer quem realmente sou,
Disse:
- Basta!
Hoje eu só fico onde exista amor.”
Com a face temperada de choro ele se despede enquanto abre a porta.
Não quer demonstrar tristeza ou fraqueza já que este era o último adeus.
Ele a ama e sabia que precisava abrir a porta para seu amor poder ir embora.
Ato mais nobre não conheço, abrir mão do objeto de seu amor para demostrar ao mesmo que continua amando...
Mal sabia que durante o próximo semestre praticamente deixaria de existir.
É mais fácil quando não sabemos a dor que podemos causar.
É mais fácil continuar quando é a gente quem vai embora.
A canção de quem fica é sempre a mais triste.
As memórias são mais difíceis de esquecer.
Ele ainda ama, por isso a porta continua aberta.”
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