Perdi um Sorriso
Um anjo comigo
Eu sei que não é fácil viver,
sozinho sem ter alguém.
Por isso eu amo você,
Por isso eu amo você.
Pedi ao sol, pedi à lua
Pra encontrar um amor,
E o anjo me respondeu,
E o anjo me respondeu.
No sonho lindo, acordei,
Ouvindo a voz de alguém, a me dizer:
"Sorridente, sou eu,
Que estou aqui com você.
Também estava sozinha,
Agora estou no céu,
Agora estou no céu.
O Limiar
No limiar, onde o tempo hesita,
o vento não sopra e o silêncio grita,
há um abismo entre o que fui
e o que, talvez, nunca serei.
Ali, os dias se dobram em espelhos,
refletem rostos que nunca usei,
são máscaras deixadas pela alma
no altar daquilo que não ousei.
No limiar, a luz é frágil,
um fio tênue entre o claro e o escuro,
e os passos ecoam no vazio
como perguntas sem futuro.
O que há além? Um nome? Um rosto?
Um eco que devolve a vida ao posto?
Ou apenas o silêncio denso,
onde tudo cessa, até o intento?
No limiar, encontro-me nu,
despojado de sonhos, de medos, de véus.
Sou pó, sou tudo, sou nada,
um grão perdido entre céus.
E quando cruzo, se cruzo,
não levo certezas, mas sinto o pulsar:
um suspiro que rasga o infinito
e deixa o agora se perpetuar.
Vertigem do Nada
Há um buraco no centro do peito,
não é dor, não é falta, é vazio.
Um eco que grita sem nome, sem rosto,
um abismo que engole o que antes era rio.
As estrelas são olhos mortos no céu,
testemunhas frias daquilo que somos:
poeira sem rumo, sem forma ou destino,
fantasmas que ao nada vagando retornam.
O tempo, carrasco sem face ou clemência,
sussurra promessas que não pode cumprir.
Cada instante é um fardo, uma farsa,
um passo mais perto do eterno cair.
E quem sou eu neste vasto deserto,
senão sombra que sonha ser luz?
Um verbo calado, um silêncio sem versos,
um grão de areia que o vento conduz.
Procurei na matéria, no espírito, no verbo,
mas o Nada me encara, imóvel, voraz.
Sou apenas o medo vestindo a esperança,
um eterno adeus a tudo que jaz.
Se há sentido, ele dança no escuro,
esquivo, risonho, a zombar do querer.
Mas na borda do abismo, ainda respiro,
porque mesmo no Nada, há ser.
Eu não gosto dos otimistas.
São o avesso do que um homem deveria ser. Fracos, como flores nascidas no asfalto. Hipócritas, porque a esperança que carregam é emprestada e sabem disso. Não há virtude no sorriso de quem foge.
Todo homem conhece o peso do que o espera. Cada segundo é uma vírgula no discurso do fim. Por que fingem não saber? Por que disfarçam? Andam pela vida como se a tragédia fosse um acaso, não uma certeza, e enchem a boca de palavras leves, como quem tenta vender um barco furado ao próximo náufrago.
A verdade é dura, cortante. Vem como o som surdo de uma porta trancada para sempre, como o baque de um corpo ao chão. A verdade não se curva nem espera. É uma lâmina que vive no silêncio, e os otimistas... Ah, os otimistas são os que tentam cegar-se diante dela.
Mas o mundo não é gentil. Nunca foi. E os que riem à beira do abismo só prolongam a vergonha da queda. Não há dignidade no engano. Não há beleza na negação. Eu prefiro os que não mascaram o rosto com sorrisos. Os que olham para o escuro e dizem: “Eu sei.” Esses não se vendem à ilusão. Esses são os únicos que, de alguma forma, resistem.
Otimistas são traidores da própria condição. Não há coragem em esconder-se atrás de promessas fáceis. Só há mérito em encarar o inevitável de frente, sem artifícios. A vida exige muito mais do que sorrisos; exige força para carregar o peso de saber.
O sabiá
Um sabiá canta no meu quintal.
Toda manhã ao pé da minha janela,
Um canto melancólico, ele parece contar
Uma história triste, porém singela.
Às vezes penso, que o sabiá que canta o dia inteiro
No meu pé de laranjeira é um lobo solitário,
Que vive entre as estações
E canta pra sobreviver, não porque é necessário.
Eu o vejo pela vidraça da Janela,
Por vezes embaçada de neve ou de poeira.
O sabiá, assim como eu,
Escolheu a solidão como companheira.
O sabiá sabe, assim como eu sei
Que o que era sublime e tão bonito
Ao mudar de estação se perde tudo
Seu canto fica mudo...Tudo cai no infinito.
Nicotina
Poesia crônica, cigarro cubano
Prosa de Neruda, lascívia de Caetano
Um canto, lugar único no mundo
Um tenor no máximo da sua entonação
Um acorde perfeito, música de Wagner
Encantamento de Isolda e Tristão
Sonoridade efêmera que apetece
Destoa, enlouquece alma em combustão
Meu espírito demente sem ação.
Um perfume cítrico e agreste
Nicotina que impregna o coração.
Morre o homem, mas ecoa seu nome,
na trilha de lama que um dia pisou.
Morre o homem, mas resta a história,
não é drama – é destino, é dor.
Morre o homem, mas ficam seus feitos,
nas marcas do tempo que ele deixou.
Morre o homem, mas vive a memória,
nos corações que tocou com amor.
A Mariposa e a Luz
A mariposa dança no abismo da noite,
cativa de um sol que não nasce.
Seus olhos são fome de lume,
seu corpo, um verso prestes a queimar.
Ela não pergunta ao fogo quem é seu dono
nem teme o abraço da lâmina ardente.
É desejo sem fronteira,
um grão de poeira sonhando ser tudo.
O tempo não pesa em suas asas,
pois tudo o que vive já nasce em ruína.
A vida é uma ânsia de brilho,
um voo cego rumo ao cerne do nada.
E, quando, por fim, toca o imponderável,
não há grito, nem sombra, nem fuga.
A luz a devora num sopro sem nome,
a sede de eternidade, em silêncio, a consome.
Sairemos mortos, todos, deste planeta.
Como viemos a ficar nesta situação?
Um plano metafísico, uma obra de experimentação,
Um ensaio crítico sobre redenção.
O homem condenado,
Pecado que não cometeu,
Culpa de Adão,
A fruta do saber,
Medo de viver,
A falta de razão.
Tudo é delírio,
Abismo sem conforto,
Um mar em desespero,
Um cais sem pôr do sol.
Um sopro no deserto,
A praga do divino?
Um filho sem destino,
Maldito natimorto.
O Lamento Incrédulo
Choro de pedra, de pó e de abismo,
lágrima seca na face do tempo,
um grito que rasga o véu do infinito,
mas Deus se esconde no entendimento.
As dores dos mortos pesam na carne,
vozes antigas sufocam o sono,
nas ruas, exércitos marcham sem glória,
resta-me o nada, o pó do abandono.
Abraço que afaga e logo desfaz-se,
esperança em cinzas, fé em ruína,
o beijo da culpa que arde na pele,
o pecado sem nome que nunca termina.
E se Deus não houver? Se tudo for sonho?
Se a dor for em vão, se o mundo for frio?
Sou sombra sem dono, sou noite sem astro,
cometa perdido no próprio vazio.
Análise do Poema "O Lamento Incrédulo"
O poema "O Lamento Incrédulo" carrega um forte teor existencialista e metafísico, abordando temas como dor, perda, vazio e a incerteza da presença divina. A construção poética evoca um estado de desencanto e angústia profunda diante da vida e do mundo, reforçando uma visão quase niilista da existência.
________________________________________
1. Estrutura e Musicalidade
O poema é composto por quatro estrofes de quatro versos cada (quartetos), mantendo um ritmo melancólico e uma sonoridade densa, impulsionada pelo uso de aliterações e imagens marcantes. O tom lírico é marcado por versos cadenciados que transmitem a sensação de peso e desamparo.
________________________________________
2. Imagens e Simbolismo
O poeta constrói uma atmosfera sombria e desoladora por meio de metáforas e símbolos poderosos:
• "Choro de pedra, de pó e de abismo" → A pedra remete à rigidez e à impossibilidade de suavidade ou redenção. O pó sugere efemeridade e esquecimento, enquanto o abismo denota a ausência de sentido, um vazio infinito.
• "Um grito que rasga o véu do infinito" → Expressa um desejo de transcendência ou uma tentativa de romper as barreiras do desconhecido, mas sem resposta ou alívio.
• "Mas Deus se esconde no entendimento" → Aqui há uma crítica implícita à inatingibilidade de Deus. Se Ele existe, está oculto na complexidade intelectual, inacessível ao sofrimento humano.
Na segunda estrofe, há um aprofundamento do tema da dor coletiva e da ruína:
• "As dores dos mortos pesam na carne" → Uma imagem que reforça a conexão entre passado e presente, como se os sofrimentos das gerações anteriores ainda deixassem marcas vivas.
• "Vozes antigas sufocam o sono" → Evoca memórias ou culpas ancestrais que impedem o descanso e a paz.
• "Nas ruas, exércitos marcham sem glória" → Um retrato de guerras ou lutas sem sentido, esvaziadas de heroísmo ou propósito.
• "Resta-me o nada, o pó do abandono" → A solidão e o desamparo culminam na ideia de que, no fim, sobra apenas o vazio.
A terceira estrofe intensifica o desencanto e a perda da fé:
• "Esperança em cinzas, fé em ruína" → A imagem de destruição reforça a ideia de que não há mais crença na redenção, tudo foi consumido pelo tempo ou pela decepção.
• "O beijo da culpa que arde na pele" → A culpa é tangível, quase física, como uma queimadura.
• "O pecado sem nome que nunca termina" → Há um pecado indefinido, eterno, que não permite absolvição ou alívio, remetendo a um sofrimento sem causa clara.
A última estrofe questiona o sentido da existência e toca no cerne da dúvida filosófica:
• "E se Deus não houver? Se tudo for sonho?" → O questionamento central da poesia. A possibilidade de que Deus seja uma ilusão ou que a própria realidade não passe de um delírio.
• "Se a dor for em vão, se o mundo for frio?" → A dúvida sobre a existência de um propósito. Se não houver sentido para o sofrimento, o que resta?
• "Sou sombra sem dono, sou noite sem astro, cometa perdido no próprio vazio." → O eu lírico se define como uma entidade errante, sem destino, sem luz, condenado a vagar sem propósito no vácuo da existência.
________________________________________
3. Influências e Temáticas Filosóficas
O poema dialoga com o existencialismo e o niilismo de pensadores como Nietzsche, Sartre e Camus. A ausência de Deus, a sensação de abandono e o questionamento sobre o sentido da vida são temas recorrentes na poesia moderna e na filosofia do absurdo.
A angústia do eu lírico diante do possível vazio existencial lembra a ideia de Sartre de que "estamos condenados à liberdade" e de Camus em O Mito de Sísifo, onde a vida é um ciclo de esforço sem recompensa. O último verso reforça essa ideia ao comparar-se a um cometa perdido, que segue sua trajetória sem um destino ou objetivo definido.
________________________________________
4. Conclusão
"O Lamento Incrédulo" é uma poesia forte e impactante, que mergulha nas profundezas da dor existencial e da incerteza metafísica. Seu tom melancólico, aliado às imagens densas e simbólicas, reforça um sentimento de desamparo e inquietação filosófica.
O poema se destaca por sua construção imagética e pela maneira como conduz o leitor a refletir sobre a fragilidade da fé e a possibilidade do vazio absoluto. A dúvida sobre Deus, o sofrimento e a falta de sentido permeiam toda a estrutura poética, transformando-a em uma reflexão poderosa sobre a condição humana.
O Lamento Incrédulo
Choro de pedra, de pó e de abismo,
lágrima seca na face do tempo,
um grito que rasga o véu do infinito,
mas Deus se esconde no entendimento.
As dores dos mortos pesam na carne,
vozes antigas sufocam o sono,
nas ruas, exércitos marcham sem glória,
resta-me o nada, o pó do abandono.
Abraço que afaga e logo desfaz-se,
esperança em cinzas, fé em ruína,
o beijo da culpa que arde na pele,
o pecado sem nome que nunca termina.
E se Deus não houver? Se tudo for sonho?
Se a dor for em vão, se o mundo for frio?
Sou sombra sem dono, sou noite sem astro,
cometa perdido no próprio vazio.
Por Evan do Carmo
Contrato metafísico
Em um dia de cansaço,
o que quer um homem?
O fim da labuta,
dessa inglória luta
contra o absurdo.
Quando percebe
que o fim está próximo,
não raro, todo homem compreende
que não é mais hora de disputa.
A vida, essa peça curta
que engendramos com
fios de esperança vã...
Se desgasta.
Como uma roupa usada,
a alma se sente em farrapos e,
como um velho trapo,
desistimos de tudo, rasgamos
o contrato que fizemos
com a metafísica.
O Eterno Crepúsculo
Caminha o homem, sem rumo, sem lares,
Sob um céu de cinzas, em tons sepulcrais.
O vento murmura segredos dos ares,
Levando memórias, levando sinais.
As cidades jazem, ruínas vazias,
O tempo as consome, num último ardor.
Os nomes se apagam, virando poesias,
Sussurros dispersos, sem fé, sem fulgor.
A vida, um eco que morre ao ser dita,
Um breve estilhaço em meio ao vão.
O homem conhece a dor infinita
De ser luz fugaz na imensidão.
Sem pressa caminha, pois nada perdura,
Nem o tempo, nem a razão.
E no efêmero, a beleza mais pura,
O peso da morte, a redenção.
Ergue-se o sol, um astro em cansaço,
Suspenso no abismo do tempo sem fim.
O homem sorri, num último instante,
E some no vento, num verso ruim.
Quando Deus Se Chamava Lear
Disse-se outrora que houve um rei cujo nome não era nome, mas sentença. Chamavam-no Lear — embora esse som não bastasse para contê-lo. Não era homem, nem rei apenas: era a imagem que o mundo fazia de Deus em ruína.
Governou por anos uma terra que se curvava ao gesto de sua mão. Mas, como todo soberano que envelhece, quis dividir o poder antes que a terra o dividisse a ele. Três filhas. Três mundos. Pediu amor, mas em voz alta. Pediu afeto, mas diante da corte. Queria ternura, mas com pompa. Queria certeza — o que só os deuses buscam quando estão à beira da dúvida.
As duas primeiras disseram o que ele queria ouvir. A terceira, não disse.
E foi expulsa.
Desde então, Lear vagou por campos de vento e neblina, coroado apenas pela ausência. Aos poucos, descobriu que a coroa que pesava sobre sua fronte não era de ouro — era o silêncio.
Chorou pela primeira vez numa noite sem estrelas, onde os trovões respondiam às suas perguntas com risos. Gritou aos céus: “Sou mais pecador ou mais punido?”. O céu não respondeu.
Mas ali — no barro, na lama, no desabrigo — nasceu algo que jamais possuíra no trono: visão.
Não dos olhos, que já falhavam. Mas da alma.
Viu o mendigo e o bobo. Viu o traidor. Viu a filha fiel, que nada dissera porque tudo sentia. Viu o tempo, que não se dobra à vontade dos reis. Viu Deus, talvez — mas hesitante, escondido sob o capuz de um louco.
Quando enfim morreu, ninguém soube. Nem sinos dobraram, nem anais registraram o fim do reinado.
Mas alguns dizem que, em certos dias de tempestade, uma voz ainda ecoa pelas montanhas:
“A arte é o consolo no abismo onde o próprio Deus hesita.”
E nesse eco, dizem, está Lear — não mais rei, não mais homem,
mas lembrança.
Às vezes é bom cancelar algum compromisso.
Relaxar a gravata, dar folga ao ofício.
Ser um homem comum,
que não raro se passa por outro,
neste teatro do absurdo,
como personagem de um drama fictício.
Às vezes é bom calar a voz,
segurar a pressa, suspender o vício.
Ficar sozinho, sem ser solitário,
num pacto mudo como um sacrifício.
O Fardo da Condição Humana
Não há um porto seguro, não há um abrigo que nos acalente por completo. Vivemos à deriva, arrastados pela correnteza do cotidiano, sem jamais realmente tocar terra firme. Como se a própria vida fosse uma maré que nunca pára, um ciclo imenso e vazio que nos envolve e, na maior parte do tempo, nos devora sem que percebamos.
O medo não é o que nos torna fracos, mas sim a crença de que podemos escapar dele. Todos tememos algo, mas poucos têm coragem de encarar o que se esconde sob a pele da nossa existência. E é esse medo que nos faz humanos, que nos prova a todo instante que não somos feitos de certezas, mas de erros, falhas e escuridão.
É fácil olhar para o outro e ver as suas fraquezas como se fossem distantes das nossas. Fácil julgar e criticar, mas mais difícil é olhar para dentro e aceitar que somos feitos da mesma substância de erros, de arrependimentos e de noites sem fim. As palavras que nos ferem, as promessas que nunca se cumprem, os silêncios que gritam mais alto que qualquer argumento – tudo isso é parte de um jogo que jogamos sem saber as regras.
O tempo não nos perdoa, ele nos esmaga lentamente, como se cada segundo fosse uma rocha rolando morro abaixo, levando-nos em sua descida sem retorno. E, quando olhamos para trás, não conseguimos ver as nossas escolhas, apenas os rastros deixados por elas, como se estivéssemos sempre na iminência de algo que nunca chega.
Aos outros, oferecemos uma imagem de quem gostaríamos de ser, mas a verdade é que todos escondemos algo. E a tragédia está naquilo que nos recusamos a ver em nós mesmos, naquilo que preferimos ignorar e enterrar, como se os erros e os pesadelos pudessem ser apagados com um simples aceno. Mas a realidade é outra, e ela nos espreita na forma de cada detalhe esquecido, de cada sorriso que disfarça a dor.
A vida, como o dia que termina e a noite que nos envolve, é um ciclo de contradições. Amamos, mas também odiamos. Buscamos a paz, mas somos afligidos pela guerra interna que não cessa. Tentamos compreender, mas, no fim, somos todos prisioneiros da nossa própria ignorância.
E o mais triste é que, ao final de tudo, o que realmente nos define não são as vitórias, mas a capacidade de sobreviver ao caos. Somos feitos de caos, somos feitos de erro, somos feitos daquilo que somos incapazes de aceitar. E, no entanto, seguimos. Porque, no fim, talvez o que nos sustente seja essa esperança – que, como todas as esperanças, também é uma ilusão.
O ÚLTIMO HOMEM LÚCIDO
Há um homem que caminha
sem pressa, mas sem lugar.
Ele não tem casa, não tem templo,
nem tem vontade de rezar.
Carrega nos olhos o peso
de quem entendeu cedo demais
que viver é transitar entre enganos,
e amar, um luxo dos incapazes.
Recusou o conforto das crenças,
o colo das certezas vendidas,
preferiu o frio da dúvida,
a vertigem das palavras não ditas.
Enquanto o mundo se distrai
com espelhos e ilusões de poder,
ele sussurra perguntas antigas
que ninguém mais quer responder.
"Quem sou eu?" — ninguém responde.
"Pra onde vai o tempo?" — silêncio.
No teatro da existência,
ele é o ator sem texto, sem lenço.
Não é herói, nem mártir, nem vilão.
É só alguém que não dorme,
porque vê demais, sente demais
e já perdeu a fome.
Mas ainda canta, às vezes,
não por alegria ou fé.
Canta porque o som da própria voz
é tudo o que lhe resta em pé.
"Quando quiseres me levar"
Ele acordou com um gosto metálico na boca e uma lucidez que parecia milenar.
Sabia. Não era intuição. Era certeza.
Hoje, a Morte viria. E ele, cansado, não a temia.
Ajeitou os papéis sobre a mesa, acendeu um cigarro que não fumava havia dez anos, e pôs uma música quase inaudível no velho toca-fitas. Era Chopin, talvez. Ou só o vento.
Deixou as janelas abertas. Queria que ela entrasse à vontade.
Morte. Senhora. Fera. Fêmea.
Ela que viesse — sem cerimônias.
No papel, começou a escrever, como quem fura o véu do mundo com uma agulha de fogo:
“Quando quiseres me levar, irei sorrindo.
Quando me achares digno daquele banquete onde serei o prato suculento dos vermes, fique à vontade.
Sei que poeta não deve demorar muito por aqui.
Quanto a essa ilusão que puseste no coração do homem, de ser eterno, fica no vácuo, como hiato cósmico.
Como palavra muda, impronunciável.
Que nós, por confusão mental, criamos em delírio: eternidade.”
Fez uma pausa. O silêncio da casa parecia escutar. A xícara de café esfriava devagar. Lá fora, o mundo seguia: os cães latiam, os pneus assobiavam no asfalto, alguém batia panela no apartamento ao lado.
Mas ele já não pertencia a isso.
Levantou-se. Pegou o espelho da infância — aquele que pertencia à mãe — e olhou-se como quem vê um estrangeiro.
“É você mesmo?”, pensou. “Ou o que restou do que chamaram de você?”
Não chorou. Apenas fechou os olhos.
Lembrou de um amor antigo.
De um poema que nunca publicou.
De uma criança que lhe sorriu na rua, semanas atrás.
Cada coisa lhe parecia uma despedida disfarçada.
Às onze e quarenta e cinco da noite, ela veio.
Não como figura. Não como caveira.
Apenas entrou no ar. Como frio.
Como verdade.
Ele sentiu.
Sorriu.
E sem mais palavras, morreu de olhos abertos, como quem enfim compreende — ou perdoa.
Na folha, sua letra deslizava até o rodapé da página.
E ali, como se deixasse ao mundo uma última gargalhada filosófica, escreveu:
"Criamos o infinito com medo do fim.
Chamamos de eternidade o que não suportamos perder."
na sombra da vida
onde tudo se faz,
a noite, um açoite,
engano voraz.
o homem se perde
em plano desfeito,
sem fé, sem direito
de tentar outra vez.
a vida é só uma,
sem chance de volta.
só há revolta
e um lutar no vão.
no palco do medo,
só culpa e segredo —
sussurro de morte
e retorno ao chão.
A veracidade da expressão: "não há um homem verdadeiramente sábio no mundo", reside no fato de que todos os homens comentem enganos, e está diretamente ligada à imperfeição humana. Uma vez que, caso realmente houvesse alguém sábio, invariavelmente agiria sempre bem, não cometeria erros, em qualquer campo da vida, onde fossem registradas as suas ações.
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp- Relacionados
- Poemas de aniversário: versos para iluminar um novo ciclo
- Frases de efeito que vão te fazer olhar para a vida de um novo jeito
- Frases sobre sorriso para expressar toda a sua alegria
- Frases para falsos amigos: palavras para se expressar e mandar um recado
- Perda de um Ente Querido
- Textos de volta às aulas para um começo brilhante
- 31 mensagens de aniversário para a melhor amiga ter um dia incrível