Perdi um Sorriso
“Toda vez que enfrento um dilema pratico o exercício de minha morte.
Na minha cabeça só assim se é possível enxergar as próprias vísceras.
A morte, ainda que encenada, me garante esse distanciamento necessário para não me deixar corromper com o objeto ou assunto por mim observado.
Só morto consigo ser imparcial.”
O esquecimento é um grande aliado da ingratidão.
O antecessor nunca tem valor pouco importa as melhorias que deixou.
Tudo o que se entende como bom será atribuído a um bem aventurado que chegou.
Mas um dia a memória volta numa dessas voltas que o mundo dá ressuscitando quem por ali um dia passou com uma linda lembrança, dessas que não tem como não sorrir ou chorar.
Então na mesma hora um rastro de imagem e odor punirão a parte que não agiu e ficou.
Acostumado a um itinerário
acidentado e sem cor traçado
pela vida, leio e viajo por meio
de mãos alheias.
No limiar dos pensamentos que
voam raso, equilibro-me. Arranho
sonhos vivendo cochilos de eternidade.
Sonhar é reconhecer a
fronteira dos corpos.
Discernir este real abstrato
que na vida pede passagem.
Ao sonhar trapaceio a existência.
Já que viver é a real ilusão.
Mas os sonhos
não respeitam regras.
Os sonhos são
o que realmente são.
Em um mundo de relações tão liquidas só pode se sentir realmente realizado aquele que;
• descobriu a importância de se perseverar,
• que se alegra com o que já tem,
• que não desistiu de observar,
• que não ignorou a teimosia d'uma flor em brotar,
• que ainda se encanta em procurar, novidades na sua rotina.
Sonho com um dia
sem pressa.
Eu, meu filho, uma praça...
deitados olhando figuras de nuvens
sorrimos.
Inspirados por ipês amarelos
florescemos. E como eles
sem ligar para a pressão das estações
vamos criando nossas próprias primaveras.
Sonho com um dia
sem pressa.
Eu e meu filho
Sorrindo...
e o tempo não tendo poder sobre nós.
O que é um minuto de aflição em um dia de 24 horas?
É tempo mais que suficiente para virem à tona os momentos mais importantes de nossa breve existência.
Curto tic-tac, longo suplício.
Efêmera sucessão de segundos num tempo que não passa.
Passou.
Passeei na alternância dos meus sentidos.
Graças a eles, senti que não preciso perder para lamentar; que, ao desacreditar, eu credito na conta alheia minhas frustrações; que algumas pessoas eu quero perto, feito a distância que separa dois travesseiros.
Perca-se no tempo, mas não perca tempo!
Dance, ame, tome banho de chuva, surpreenda, cozinhe seu prato preferido no almoço e peça pizza para o jantar. Se alguém te deixa feliz, retribua. Espalhe o que você tem de bom. Errou, peça desculpas. Acertou, repita a ação inúmeras vezes. Não desperdice energia, principalmente a vital.
Entenda: é perda de tempo não dizer a quem se ama o quanto sua ausência torna a vida sem sabor; é perda de tempo não desejar bom dia e esperar que a noite seja sempre boa; é perda de tempo não entrar em campo, mas querer fazer o gol da vitória.
Lembre-se: se a vida lhe pedir um minuto, conceda. Mas peça em troca tempo suficiente para viver como se nada dependesse daqueles sessenta segundos.
Em uma manjedoura
Um simples Deus menino.
Santa mãe descansa,
após dar à luz a esperança dos homens.
O pai embala o seu Natal vivo.
Santo Deus menino!
Céu cadente ao alcance das mãos.
Quando o verbo se fez poeta
a poesia virou sinônimo de Deus.
O Cético
Cético que era,
carregava nas mãos a secura da descrença,
como quem segura um punhado de areia
que o vento teima em dispersar.
Cético que era, criou um deus afônico
para preencher seus silêncios
e atribuiu a ele todo o ruído.
Cético que era, sabia que o que floresce na certeza é sempre pedra,
e pedras, imóveis, não geram nada.
Cético que era, afirmava que a certeza era um campo estéril,
onde os dias passavam sem jamais brotar.
Cético que era, dizia que as dúvidas tinham raízes,
capazes de atravessar a pele das palavras
e germinar árvores frutíferas.
Cético que era, escreveu uma bíblia para ter no que acreditar,
mas a descrença, astuta,
plantou em seus bolsos sementes de inquietação.
Cético que era, reconheceu que caminhava entre sombras,
mas carregava possibilidades de luz.
Cético que era, sabia que só o incerto conhece caminhos.
Cético que era, encontrou na dúvida
o verdadeiro sopro da criação:
um gesto pequeno,
capaz de iluminar e reflorestar o mundo.
Cético que era, entendeu que o milagre mora no instante
em que o incerto se torna possibilidade
e o simples, eterno.
Cético que era, nunca guardou gentilezas ou atos de bondade para o porvir;
gastou tudo o que tinha de bom aqui.
A Liberdade do Não-Destino
Só é livre quem não tem destino.
Liberdade é um fio invisível que o vento esquece de soprar,
quase brisa, quase nada.
Um voo de borboleta que não tem pressa de chegar,
basta o traço que corta o ar e some.
Só é livre quem não tem destino.
Quem não guarda os passos no chão como se fosse um mapa,
quem olha o céu sem querer achar respostas.
Quem escuta as palavras, mas não as quer traduzir.
Quem troca a certeza pelo talvez,
quem não se encaixa na jaula do exato.
Liberdade sem amarras é pleonasmo.
Só é livre quem não tem destino.
Quem, perdido, inventa um caminho,
e, ao inventar, encontra algo novo —
não o que procurava,
mas o que nunca imaginou que pudesse ser achado.
Tamoatá
Tamoatá não é só um peixe,
é uma palavra que aprendeu a andar.
Inventou pés onde só havia barbatanas,
carrega no casco histórias que desafiam o seco
e planta memórias no fundo das lagoas vazias.
Quando a água foge, ele permanece.
Não se assusta com a ausência,
seu sonho o umedece.
Respirar fora d’água é a poesia do Tamoatá:
ele mastiga o ar como quem se alimenta de esperanças.
É peixe do mato, de água pouca e chão úmido,
veste o barro como quem carrega sua pele.
Faz-se rio onde só há poeira,
e, no silêncio das várzeas secas,
aprendeu a ouvir a fala das poças.
Tamoatá é peixe caipira,
conhece o mato como quem conhece o caminho de casa.
Ele não tem pressa,
faz do brejo um campo de repouso.
Com seus pés de peixe, planta passos na terra molhada,
ensinando ao tempo a ser lento, a ser raiz.
Ele prova que, fora da água, a vida também tem suas correntes,
mesmo que sejam mais lentas.
Ano novo.
O tempo
empilha dias como quem constrói algo.
No calendário, há um rumor divino,
intervalo entre o que fomos
e o que fingimos ser. Fim.
O ano velho, cansado e curvado,
esconde no bolso sua última promessa,
deixa sobre a mesa o peso dos sonhos,
riscados por mãos que tremem.
Meia noite.
No salto do instante que vira página,
nos descobrimos novos,
ainda que usados. Recomeços.
No limite do voo,
não há destino:
apenas um céu que ainda não sabemos ler.
Pareidolia
Nas nuvens, um coelho,
feito de vento e migalha de céu.
A natureza inventa vida onde há silêncio,
e a mente, danada, faz enxergar.
Eu vejo contornos que nem existem,
ou talvez existam, porque os inventei.
Minha sina é dar nome às coisas que ainda não sei o que são
e bordar sentidos no que vi.
Um galho seco me acenou — ou talvez fosse um braço.
Ao lado, a bananeira, com dentes amarelos, sorriu.
As coisas criam sentidos quando alguém as olha sem pressa.
Dia desses, vi teu rosto numa poça d’água,
um rosto de luz, desses que não têm peso.
A poça ria de mim com suas bordas de lama,
igualzinho tu faria se me visse fantasiar.
E eu, feito criança, ri de volta.
Seria loucura, ou só o mundo brincando de ser?
Tudo acaba virando o que o olhar quer.
Asa de um lado só
Só tenho uma asa.
Um lado mudo de pássaro.
O céu me namora,
mas eu sou do chão.
Se tivesse duas,
voava em linhas tortas,
fazia rasantes no azul
e inventava nuvens novas.
Com uma só,
fico brincando com o vento,
sonhando ser passinho,
pés no chão e cabeça nos ares.
Quem sabe um dia,
no finalzinho da lida,
a asa murcha cresça
e eu, enfim, conheça o céu.
Minha asa pulsa,
como se já soubesse do infinito.
Uma asa é quase nada,
ou tudo — depende do corpo que sonha.
Deságua
Sou rio, mas não mando em mim.
Nasço tímido entre pedras,
um fio d’água sem dono.
Aprendo cedo a correr,
a buscar o mar sem perguntar.
As pedras me ensinam desvios.
As margens me lembram limites.
Aceito ser água que passa,
que abraça, que perde e que segue.
Se um dia seco, o barro me guarda.
Se transbordo, o mundo me teme.
Mas a vida não me espera—
ela deságua mesmo quando eu já não estou.
O poema que saiu andando.
Filho,
te inventei sem saber verbo.
Foste broto em meu osso.
Um punhado de manhãs dentro da minha carne.
Tu me viste antes de eu saber que existia.
Sabes dos meus escondidos,
dos meus becos sem luz,
dos passarinhos mortos dentro do meu silêncio.
Teu choro me abriu fendas.
Teu riso me pintou paredes.
Meu corpo virou pássaro sem asas pra te esperar.
Minha alma virou ninho sem entender voo.
Agora andas vestido de chão próprio.
Teu nome não me cabe mais nos dentes.
És árvore que me espiou por dentro,
raiz que virou rio.
Maior que eu. Melhor que eu.
A minha coisa mais bonita.
O poema que saiu andando,
descalço de mim.
Francisco
Você tinha um quê de passarinho.
Não voou, mas havia um céu inteiro
dentro de si.
O céu cabia nos teus bolsos —
um céu de algodão-doce,
de nuvens que sabiam cochichar.
De vez em quando, abria a boca
e soltava um bando de andorinhas:
palavras de um certo Galileu,
um Latino Galileu.
Enquanto o mundo lhe exigia asas,
não precisou sair do chão.
Quem carrega um céu dentro do peito
não precisa provar nada ao vento.
Til
No til não há pressa.
Também não há urgência.
É um sinal menor,
mas que carrega pão,
mãe,
irmão.
Sem ele, o mundo seria mais seco.
Seria são demais.
Seria não.
Til é curva que não encurva.
É nariz da língua,
sorriso discreto no rosto da letra.
Ninguém repara —
até que falta.
E quando falta,
tudo desafina.
Poderíamos viver sem ele?
Claro.
Como se vive sem o silêncio.
Mas é no til que a fala respira.
E a palavra se lembra de ser palavra.
Versos tecidos no silêncio
Quantas horas leva alguém para se tornar expert em um assunto?
Foram milhares as horas que dediquei ao meu silêncio.
Hoje, é a língua na qual possuo maior fluência.
Aprendi a escutar o tempo,
a respirar o compasso de cada segundo.
Ao respeitar sua dança, percebi:
o silêncio não é ausência,
mas uma fonte infinita de compreensão.
No silêncio, as palavras ganham novos contornos,
como se cada sílaba fosse esculpida pela quietude.
A ausência de som cria melodias invisíveis,
e os sentimentos nascem, livres,
sem a limitação da fala.
Uma sinfonia espacial.
Descobri que, quando a boca cala,
outros sentidos florescem.
Os olhos traduzem o que os lábios calam,
o olfato beija o tato,
e os ouvidos, ah, eles leem o murmúrio do mundo.
Na quietude, encontrei a língua do sentir.
Foi assim que fiz poesias com meus sentidos.
Saudade, ação que nos une.
A saudade não pede licença. Ela é como um hóspede inconveniente que aparece sem avisar e, mesmo sem ser chamada, se ajeita no sofá da sala. Vai se espalhando pelos cantos, invadindo os espaços, tirando o ar do peito. Ela chega numa tarde qualquer, quando o relógio insiste em te lembrar que o tempo está passando, mas você insiste em resistir. E, sem aviso, tudo o que parecia guardado, bem trancado, explode: uma conversa interrompida, um abraço que nunca aconteceu, e você fica ali, mudo, sem saber o que fazer com tanto.
A saudade não é só falta; ela é também sobra. Sobra de risos antigos, de momentos que o tempo tenta, em vão, desgastar. Mas quem disse que o tempo tem esse poder? A memória desafia o instante, mantém tatuados os gestos, as palavras, até o jeito de inclinar a cabeça. E aí está o truque: a saudade não é ausência, é a presença de quem ainda mora em nós. Deus gosta de histórias com linhas tortas, e talvez eu também, pois, no meu coração, quem se vai sempre fica.
Há dias em que a saudade bate com pressa, como se quisesse me dar um tapa na cara, gritando que a vida continua, mas o coração é teimoso e espera. O tempo passa, mas na mente ainda sobra aquele sorriso tímido, aquela piada boba que só nós entendemos e aquela conversa infinita sobre quem éramos e no que nos transformamos. É como sentir o hálito de hoje desejando o aroma de amanhãs.
Dizem que a saudade é um fardo, um peso que nos empurra sempre pra frente. Mas eu prefiro acreditar que ela é uma ponte. Penso assim como Rubem Alves dizia: "a saudade é nossa alma dizendo para onde quer voltar". A saudade diz muito sobre o ontem, mas é também uma inspiração para o que ainda está por vir. E enquanto estivermos vivos, sempre vem.
Enquanto o tempo corre, me pego rezando para que, onde quer que estejas, o ser desse meu saudosismo, estejas bem. A saudade, no fundo, é isso: uma oração muda para que quem está longe siga feliz. Tentamos visualizar boas realizações, mesmo que a distância doa e a falta aperte, porque é pelos olhos que florescemos. Também é por eles que recordamos.
Fecho os olhos para ver o tempo e ouço o sotaque da emoção da minha alma. Ela me lembra que, apesar da distância, ainda estamos conectados. Porque, se ainda sinto, é porque o amor ainda respira. E se o amor vive, vale a pena esperar. Quem sabe não habite aí a verdadeira função da saudade: conectar pessoas no presente para garantir futuros sorrisos.
Que o nosso hoje seja como um dia sonhamos, para que amanhã uma boa emoção nos acompanhe quando olharmos para o que agora estamos decidindo e fazendo.
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