Frases de Paulo Leminski

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não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino.

Paulo Leminski
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

meus amigos
quando me dão a mão
sempre deixam outra coisa
presença
olhar
lembrança
calor
meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão.

Eu tão isósceles
Você ângulo
Hipóteses
Sobre o meu tesão

Teses sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração

esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem

me ensina
a sofrer sem ser visto
a gozar em silêncio
o meu próprio passar
nunca duas vezes
no mesmo lugar

você nunca vai saber

quanto custa uma saudade
o peso agudo no peito
de carregar uma cidade
pelo lado de dentro.

O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique.

Paulo Leminski
Toda Poesia

me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
me enterrem com meu coração
na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão

Morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma.

duas folhas na sandália

o outono
também quer andar

entre a dívida externa e a dúvida interna
meu coração
comercial
alterna

Quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

coisas do vento
a rede balança
sem ninguém dentro

De ilusão em ilusão
até a desilusão
é um passo sem solução
um abraço

um abismo
um
soluço
adeus a tudo o que é bom

quem parece são não é
e os que não parecem são.

pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

podem ficar com a realidade
esse baixo-astral
em que tudo entra pelo cano
eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano

Paulo Leminski
Toda Poesia

datilografando este texto

ler se lê nos dedos
não nos olhos
que olhos são mais dados
a segredos

Paulo Leminski
Toda Poesia

A tese segunda
Evapora em pergunta
Que entrega é tão louca
Que toda espera é pouca
Qual dos cinco mil sentidos
Está livre de mal-entendidos?

Dois loucos no bairro

Um passa os dias
chutando postes para ver se acendem

O outro as noites
apagando palavras
contra um papel branco

Todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
pra eu ser tratado também

Hesitei horas
antes de matar o bicho.
Afinal, era um bicho como eu,
Com direitos, com deveres
E, sobretudo,
incapaz de matar um bicho,
como eu.