Haicai de Paulo Leminski

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tudo dito,
nada feito,
fito e deito

viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície

acordei e me olhei no espelho
ainda a tempo de ver
meu sonho virar pesadelo

amar é um elo
entre o azul
e o amarelo

o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado

ameixas
ame-as
ou deixe-as

jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga

a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão

cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença

outubro
no teto passos pássaros
gotas de chuva

nuvens brancas
passam
em brancas nuvens

lá embaixo
vai ter
o que eu acho

A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não!
Este eu mesmo carrego!

Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno.

a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome

Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.

Hoje à noite
até as estrelas
cheiram a flor de laranjeira

soprando esse bambu
só tiro
o que lhe deu o vento

Haja hoje para tanto ontem

Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além.

Paulo Leminski

Nota: Trecho adaptado de poema de Paulo Leminski