Para Voltar para ontem sem Temer o Futuro
Tentar provar o futuro é muito mais interessante do que poder conhecê-lo. Como no jogo, não o ganhar, mas o poder ganhar. Porque nenhuma vitória se ganha se se não puder perder.
as vezes eu queria pensar no meu futuro mas eu tenho medo do que aconteça , preciso de uma ajuda mas não tenho ninguem para me ajudar
Memória e Futuro
I
A dor da queda
O peso, a derrota
nos calaram por muito tempo
Em nosso tempo (curto ainda)
nos vendaram, amordaçaram...
e a venda
e a mordaça
tem sabor de gente morta
- não qualquer gente
a nossa gente -
Tombaram nossa lutadora
Helenira Resende
à frente
não temeu nem a mira
nem a morte.
Nosso comandante
nos dissera:
“é preciso não ter medo
é preciso ter a coragem de dizer”
o mesmo Carlos
em vários Marighellas
II
Veio então a carapuça
para que a história
fosse esquecida
para que o mundo
fosse esquecido
e assim cai o muro
sem por nós ser percebido
E sobe a poeira
que forma uma grande
e espessa camada
imobilizadora
Torna-se a vida, cinzenta,
como cinzenta é esta cidade
cheia de maldade e gritos
que os ouvidos ignoram
III
É que estamos
no fundo do abismo
a queda livre cessou
e por aqui estar é que podemos
com firmeza
mirar para o alto, e
ver qual caminho,
qual horizonte,
que perseguir.
Certo é que
nem todas as feridas cicatrizaram,
e seguirão machucando.
Outras, no caminho mesmo
vão abrir-se.
Mas,
sendo a dor conhecida,
o abismo e a escuridão,
a ferida e a cicatriz
não mais temeremos,
nem mesmo a morte.
E seguiremos o caminho do clarão
que se apresenta somente
quando erguemos a cabeça
IV
“Este é nosso tempo
esta é nossa gente”
Nosso tempo
de desenterrar os fuzis,
as fardas,
os lutadores e lutadoras
Nossa gente
explorada
brasileira
revolucionária
Conclamemos nosso exercito
pois atento está o inimigo,
ampliemos nosso arco
pois forte é o inimigo,
afinemos o projeto e a marcha
pois quererá nos dividir, o inimigo
acertemos os ponteiros do relógio
que é chegada a hora da revolução.
Sempre votamos no futuro, desta vez votamos no passado, escolhemos nosso cemitério preferido como nação.
O errado hoje será o certo amanhã,
assim como o certo de agora
já foi um absurdo no dia de ontem.
O mundo muda, as pessoas evoluem, o tempo transforma,
o futuro rompe com o passado numa dança cíclica e constante,
até que tudo se torne presente outra vez.
(…) todos os relógios estão parados, não sei se é ontem, se hoje ou amanhã, se é sempre, se nunca mais, estou solta aqui, completamente só, não há relógios e o tempo avança liberto, sem fronteiras nem limitações, uma bola de arame farpado, o sentimento vai se adensando em mim, transborda dos olhos, das mãos,( …) o tempo, o outono, a tarde, o mundo, a esfera, a espera em que estou para sempre presa.
Ontem por incrível que pareça todos os lugares que pisei eu te procurei. (…) Fiquei feliz em poder sentir tua falta, - a falta mostra o quão necessitamos de algo/alguém. É assim o nosso ciclo. Eu te preciso. Perto, longe, tanto faz. Preciso saber que tu está bem, se respira, se comeu ou tomou banho - com o calor que está fazendo neste verão, tome pelo menos uns três ao dia, e pense em mim, estou com calor também. Me faz bem pensar nessas atividades corriqueiras, que supostamente você está fazendo. Ah, e eu estou te esperando, com meu vestido curto, óculos escuros grandes e meu coração pulsando forte, e te abraçar até sentir o mundo girar apenas para nós. É, eu gosto muito de ti.
Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido.
Hoje não sou o mesmo de ontem.
Hoje estamos por aqui e amanhã podemos não estar.
Será que somos pessoas de verdade, feitas de carne e osso? Será que o nosso mundo consiste em coisas reais, ou será que tudo que nos cerca não passa de conciência?
Afinal somos feitos da mesma matéria dos sonhos, e nossa breve vida está encolta em sono...
Não sei mais o que fui ontem.
Com cuidado em manter os pés bem firmes no hoje,
vivo mirando o horizonte,
mas o futuro dilui-se em presente e torna-se a passado a todo instante.
Minha única constante é a mudança...
Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir — é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção — isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.
