Padre Fabio de Melo Cultivo

Mas eu ainda gosto de você, é bom que saiba. Só queria sair por aquela porta dizendo isso, mesmo que passe por um ouvido e saia pelo outro. Eu gosto de você. De verdade.

Eu evito sair com os meus amigos porque não quero voltar ao assunto, não quero repetir você nas conversas. Porque dói, e ninguém faz ideia que dói muito, ter que desabafar que definitivamente você está sumindo da minha vida.

E de novo eu sai como o burro, o otário, o usado e o que amou só.

O problema é esse, meu bem: eu te amei sem pensar nas cicatrizes, nas pausas curtas e na escuridão das partidas.

Eu só não queria terminar meus dias como um desses escritores desiludidos, perdidos e amargurados. Eu só queria que tudo terminasse bem.

Tinha chegado a um ponto que casal feliz incomodava, causava agonia.

E mais uma vez eu visito sua página no Facebook e quebro a minha promessa. Eu leio seus posts, reviro comentários e fico babando as suas fotos. Na segunda faria uma semana que eu já não passava por lá. Mas eu não tenho jeito. Sempre volto.

Eu acho um extremo talento essa sua mania de me deixar desconsertado o tempo todo.

Conheceu, fez planos, te fez imaginar mil coisas e depois caiu fora... Isso te faz lembrar alguém?

Já ando feito um louco pelas ruas. Não obedeço sinal, passo entre os carros em movimento como se fosse a coisa mais normal do mundo. Vez em quando me assusto com os freios e paraliso. Outras vezes, dou uma risada cínica e viro as costas. Porque chega uma hora que morrer parece não ser tão doloroso, então pouco me importo. Chega uma hora que nada mais é lindo, nada dá certo, nada é encontrado. Por isso acabo com o maço do cigarro em um minuto. Minha vida se transformou numa morbidez completa. É a fase terminal que poucos reconhecem, mas que uma hora, quer queira, quer não, chega pra todo mundo.

Não sei explicar se o rádio diz teu nome antes de cada canção, ou se sou eu quem o sussurra sem notar; por vezes, ouço tua voz nos acordes do violão e me apaixono.

E mesmo vivendo toda aquela doçura, cheguei a pensar, em algum momento, que aquilo se tornaria a mais dolorosa lembrança.

E ficamos nesse vai e volta, quer e não diz, chora, mas não controla. É doença, é loucura, é covardia. Mas é medo, eu sei − medo de se apaixonar ou de estar apaixonado.

(...) Não o culpe se não der certo. Não se preocupe, não se culpe, se ocupe. Se você acordar desse sonho, é isso mesmo, flor, coloque na cabeça que acontece. É coisa do tempo, é coisa da vida, é como capítulo de novela. Um dia tem que acabar.

Deita do meu lado, faz cafuné. Passo o feriado todo com você.

Resolvi sumir por um tempo, me afastar, deixar essas coisas de lado. E agora estou tentando tirá-lo da cabeça. Ainda não sei se tudo isso é descanso ou desgraça.

Você sabe que não fui eu quem desisti. Sabe que eu fiquei e ficaria até os últimos dias da minha vida.

E fingindo procurar um canto por ali, me esbarrei em você.

Não tenho miopia. Enxergo tudo tão claro que já é possível ver seu nome gravado na retina.

Eu me pego te ligando, te procurando nos lugares, te pedindo em qualquer pedido. Vem sendo um desafio cumprir o que eu prometi deixar de fazer.