Odor
O Odor do Caos
Era fim de tarde na rua Cecília.
Catorze homens jogavam futebol no campo de terra, rindo alto, enquanto a poeira dourada do sol cobria tudo.
De repente, um carro vermelho parou ao lado do campo.
Dele desceu uma moça de cabelos longos e olhos flamejantes.
Com voz calma, pediu ajuda para trocar o pneu furado.
Por um instante, o jogo cessou.
Os homens se entreolharam, silenciosos, mas quem se aproximou foi Jorge — um homem negro, alto, de cabelos compridos.
Quando ele a viu, algo dentro dele se rompeu.
Como se uma voz antiga, enterrada na carne, despertasse.
Um instinto primitivo, misto de medo e desejo, ascendeu nele como febre.
E então ele começou a falar — palavras duras, quase blasfemas —
profecias nascidas do fundo escuro de si mesmo.
Falava como se fosse um mensageiro de algo maior,
exigindo que ela se rendesse,
que aceitasse uma submissão absurda, quase sagrada.
A tensão cresceu no ar.
Os outros observavam, sem saber se assistiam à loucura ou à revelação.
Então, Mariana — amiga de Jorge, que estava próxima — decidiu agir.
Sem dizer uma palavra, correu até o cercado onde sete cachorros estavam presos e abriu o portão.
Os animais dispararam, excitados e famintos, e avançaram com fúria.
O caos começou.
Gritos se misturaram ao barulho do metal e ao som seco dos corpos caindo.
Os cães devoravam carne e poeira, enquanto um cheiro espesso se erguia no ar — o cheiro do sangue.
Era o odor do caos.
Algo antigo e primitivo havia despertado.
Um motim — uma fúria coletiva, selvagem — tomava conta de todos.
Ninguém compreendia o que estava acontecendo,
mas todos, de alguma forma,
queriam um pedaço.
Eu caminho por uma rua com forte odor de urina, como se aquela passagem fosse um verdadeiro banheiro a céu aberto, com vasos sem dar descarga. Prendo a respiração e meus olhos miram paredes pichadas, que paradoxalmente harmonizam com as velhas casas destelhadas, lembrando que ali morava o abandono do que um dia foi lar. Uma vertigem me sobressai e tenho ânsias de vômito. Até que finalmente acordei, e as paredes do meu quarto tinham cheiro de tédio, de tal forma que a rua com odor de urina, soava até agradável em sua decrepitude. Levantei a contra gosto e tomei um copo de coca-cola, porque me sentia incapaz de fazer um café. Fechei os olhos e respirei profundamente, e já não sabia se estava na rua decadente ou no meu apartamento frio, com o porcelanato impecável. Acendi um cigarro de forma tão automática, que era como se eu respirasse fumaça. Nas redes sociais desejei "bom dia", enquanto pensava que de bom não tinha nada. Sentia meu corpo denso como um elefante, e meus braços pesavam como se carregassem uma carga de cem quilos. Olhei para a janela e pensei: "Quem me salvará de mim mesma?" Em seguida olhei os livros na estante como quem olha para copos sujos na pia. As panelas de comida requentada cheiravam a morfo. E eu simplesmente não ligava. Minha solidão era refúgio. Eu não precisava abrir a boca para articular palavras. Sentei na beira da cama e permaneci inerte por longos minutos. O telefone tocou. Era engano. Deitei novamente na cama e sonhei com aquela rua mais uma vez. Eu pintava as paredes sujas das casas como se tomasse banho e o cheiro de urina da rua me fez urinar na cama. "Quanta decadência", pensei. E me pus a escrever essas palavras como cenas da minha alma exposta ao leitor. E fiz esse texto, não porque fosse necessário nem bonito, mas simplesmente porque precisava preencher a mente com algo que não fosse belo, já que o belo aumentava o meu tédio. Peguei um livro e comecei a rasgar as folhas, pelo simples prazer da destruição. Voltei às redes sociais e escrevi "boa tarde", pelo prazer da ironia. E quem me visse assim, talvez fugisse, ou talvez se uniria a mim para demolir as paredes, não sem antes quebrar o espelho e beber um copo de caco de vidro. Bendito seja aquele que acorda de bom humor.
Espumas
Que me marque
uma vaga branca de espuma
e o mar deixe o verde
odor da maresia.
Que me lembres
os passos na areia
e as conchas me ensinem
o que não sei.
Desejo navegar
e perder-me em cada porto
que não encontro.
A criatura, libera um odor adocicado e de retrogosto amargo ou azedo, que entranha em minha carne brutalmente pelos dias de sol e chuva. Despeja sobre mim , seu mel e eu me delicio.
Inventei sonhos criei fantasias
Dormi embebecido e sonolento
Acordando com odor de seu perfume
Embevecido pela beleza da aurora
Perdi-me em perdões a ti oferecidos
Naveguei nas ondas de minhas lágrimas
Ancorando sempre em teu colo doce amada
Se tu me amas tanto...
Mereces as vermelhas rosas carmim
Que sempre te ofereci,
Que reste o aroma delas em minhas mãos
Como doces lembranças que guardo de ti
Pintei o meu céu da cor que você quis
Ordenei as borboletas os voos rasantes
Num circular alucinante para enfeitar seu jardim
Que venham os ventos no açoitar de tudo
Quebrem o silêncio num escarcéu de cachoeira
E me acordem por que meu amor chegou
Ela trás pra mim seu lindo sorriso
Como branca rosa de meu eterno jardim
Meu sonho preferido de noites bem dormidas
Ó Catarine, teu cheiro ainda paira em nosso quarto misturando-se, ao odor taciturno dos artefatos de limpeza. Os cravos vermelhos que outrora com tamanho esmero avia colhido para ti, agora se encontram despedaçados no carpete manchado.
Ó Catarine, teus olhos castanhos tal qual uma tempestade, nesta ocasião já não brilham. O espelho da penteadeira o qual você habitualmente penteava-se ao alvorecer dos dias, encontra-se estilhaçado em dezenas de partes.
Ó Catarine, teus lábios antes calorosos e arrimos agora, possuem semblantes esmaecidos e insípidos. No quintal ao qual passamos inúmeros momentos aprazíveis, tem nesse momento o solo revolvido por combustões de tecido e carne.
Ó amada Catarine, teus cabelos cor de âmbar, outrora banhados em teu intrínseco sangue, transmutaram-se em borralhos e fumaça. Teu corpo há pouco, exalando tamanha exuberância e beleza, atualmente já sem vida, inflama-se veemente.
Ó minha doce, afável e tácita Catarine, você rompeu meu coração e eu interrompi o teu.
ALMAS SEBOSAS
Tem gente que incomoda, nem tanto pelas bobagens que diz e faz, mas pelo odor fétido de suas almas.
E de repente me bateu um odor pelo caminho...
Não sabia o que era, nem de onde vinha, mas logo que olhei pra cima, notei que era chuva de flores, me perfumando.
Eram 17:18 a cidade era Belga, aos invés de cheiro de chocolate o odor de mijo rondava as esquinas do desembarque do trem, e os bondinhos frenéticos rasgavam as ruas por todos os lados, logo na entrada da rua principal quintadas regadas de frutas, e árabes sorrindo e cozinhando além de cervejas espumosas escorrendo pelos copos, e o vai e vem das pessoas ditavam o ritmo da cidade, no caminho um contraste europeu com o subúrbio de qualquer cidade da america perdida, em cada contato os sotaques pesados dos alemães. Aos poucos a cidade revela sua beleza, em um boneco astro pop que urinava para os turistas, e saborosos chocolates, cervejas e batatas gigantes, e na parte mais alta da cidade as igrejas góticas e cinzas quase tocavam os céus, impedidas por seus próprios pecados, continuavam na terra em preces.
Um momento só meu,Rip pelo amor,Horror de viver sem,Odor que convém,Essa garota me convence,Quero amar de novo,De fato quão profundo seria uma nova sensação a tempo não sentida ?,De fato ainda me agito,A assistir essa tira da minha vida.
a intenção
é passar por esta vida
espalhando
a flor
o amor
o calor
o odor
o pudor
o favor
o ardor
a cor
o louvor
o sabor
o fulgor
o humor
o melhor
o teor
o valor
o vigor
ao redor
por onde for
por mim
e pelo meu Senhor
ao qual devo
obediência e amor!!!
As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de veludos, almofadas de cetim. E quanto estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.
É uma fonte diferente, exala um bom odor mas tem águas cristalinas como as que eu via em seus olhos e os ruídos se repetem. Ruídos de um CD velho que eu já me acostumei em deixar tocar, fingindo que não sei a melodia de cada canção. Será que o fim é sempre o mesmo? Essas águas vão a caminho do Rio Negro?
Eu quero paz, eu quero o amor. Sentir a alegria das flores, com suas cores e seu odor.
Eu quero a vida, e sua intensidade, ser vivida, em plena verdade. Alcançar o meu lugar, na insignificância de meu ser, diante desse indizível universo que me faz desaparecer. Sim, porque nada sou, senão um aglomerado de moleculas e seus bilhares de fragmentos atômicos, atônito ante o infinito desconhecido de tudo que nos redeia, incontáveis coisas como numa praia com seus grãos de areia.
Uma amor platônico se tornou daltônico,Enxergava apenas a cor que simbolizava o amor,Com odor e calor,De fato não enxergava o que me tornaria,Me tornei mais um ser amargo cético no amor.
Seguro o peso do amor,Dor,Odor...,Seguro tudo isso em mãos,Todos dirão quem não viram nada,Outros observaram e aplaudiram,E outros interferirão na sua vida,Enquanto Seguro o sentimento do mundo,Divido em 7 bilhões de pedaços,Uns amassam outros estragam eu só refaço.
