O Passaro e a Rosa
A Dança/ Soneto XVII
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem.
A rosa da profunda amizade não se colhe sem ferir a mão em muitos espinhos da contradição. No abnegar é que está o vencer de muitas resistências invencíveis ao império da vontade.
O coração de uma mulher galante é uma rosa da qual cada amante tira uma folha; não tarda que ao marido fiquem apenas os espinhos.
Idealista é quem, notando que uma rosa cheira melhor que um repolho, conclui que é também mais nutritiva.
A luta contra a criminalidade organizada é muito difícil, porque a criminalidade é organizada, mas nós não.
Quando não se tem ideias, as palavras são inúteis e até nocivas; melhor calar-se do que falar só para confundir.
Construir sobre a vontade de uma multidão é loucura; a vontade de um povo é como um relâmpago que dura um segundo.