Nunca Magoe uma Mulher
OUTRA DIMENSÃO
Mas uma manhã se foi e o brilho dourado dessa aeronave vai ficando fusco, vou deslizando tonto nesse verde musgo desaprendendo lentamente a crer, querer e a ter fé. Camiho entre lápides de epitáfios saudosistas e originais numa névoa irreal de um labirinto que se confunde comigo mesmo; faz tempo.
Tenho a lembrança de um casamento, pessoas jogando arroz na entrada de uma igrejinha de uma pacata cidade interiorana, abraços e desejos sinceros de uma felicidade eterna; eu que sempre busquei e questionei o que era felicidade; naquele momento acho que era feliz. Agora atrás da roseira, percebo laura, seu amante, seu idílio e até “guy”, o pastor alemão, amigo fiel, nem percebe a minha presença.
Heloísa falou-me de uma outra dimensão... caminha sempre ao meu lado e só se veste de branco... não sei se ela fugiu de algum asilo, ou talvez eu não tenha capacidade para compreendê-la; ela tirou-me do mangue e conduziu-me ao pântano; propôs-me um plano superior e apontou-me as montanhas, prometendo-me fontes de luzes.
Ainda não entendo direito o que se passa, de vez em quando vejo pessoas que há muito eu não via, todas se vestem de branco; vi jairo melancólico, solitário e pensativo, sob uma árvore; olhou-me como se nunca tivesse me conhecido, logo ele que era o melhor dos meus amigos. Ao anoitecer volto ao vale onde existem mausoléus, capelas e túmulos, ali a lembrança de Laura se acentua, percebo ainda em mim um certo rancor por tudo o que vejo; heloísa some como por encanto e, da mesma forma, surge ao amanhecer. Com a luz da aurora, momentos do passado se acentuam, percebo uma laura carinhosa e apaixonada sua barriga saliente confessa uma gravidez e a cumplicidade que me traz saudade, tenho uma visão bem clara; dois individuos nos abordam numa esquina, o mais baixo tem uma arma apontada para Laura, eu me inteponho entre eles, a arma é disparada, ainda vejo o desespero de laura, tento consolá-la, mas ela não me percebe; há um aglomerado de pessoas ao redor de alguém, Laura chora inconsolável... alguém menciona o meu nome; estou caído numa poça de sangue.
Na outra dimensão, estamos sobre a montanha, eu e heloísa que confessou-me ser um anjo de luz e ter escolhido este nome em homenagen a minha filha e de laura, nascida depois que desencarnei naquele assalto... um novo sentimento invade o meu ser,percebo que tenho que ir.
Vejo Jairo na ponta de um penhasco, ele mergulha sobre um mar de luzes, é o nosso último ato de fé.
Não tenho medo de grandes estrelas
De uma forma ou de outra
Eu ajudo a construir o céu e o inferno
Sou passageiro como um cometa
E como as desilusões sou eterno
AVESSO
Depois do horizonte
tem outro horizonte,
tem uma fonte,
tem outros verbos,
então o sol se põe
e repousa preguiçosamente...
Esperando Ícaro
e a sinfonia da tarde
arde nas penas
dos que são passarinhos
outros versos,
displicentes, dolentes, incandescentes...
a tarde desfalece,
alguns poucos raios,
um aceno, um ensaio de luz
e de cores quentes...
depois das tardes,
tem outras auroras
no outro lado do planeta,
que é o avesso do crepúsculo...
outros Ícaros outras sinfonias...
Criar novos verbos,
alimentar novos crédulos...
inventar novos deuses...
O amor nos conduz por uma trilha
com o perfume das manhãs primaveris
e as matizes douradas dos verões...
o amor nos ensina com as sinfonias
dos pássaros e da brisa,
com a paciência de séculos
e com a sabedoria da natureza...
o amor nos fortalece com os invernos,
com as montanhas, com a força dos oceanos
e com as dificuldades da vida...
Está tudo tão claro agora,
está tudo tão nítido
como o alvorecer
de uma aurora ensolarada,
como o céu anil de uma tarde de verão:
era amor...
O amor nos conduz por uma trilha
com o perfume das manhãs primaveris
e as matizes douradas dos verões...
o amor nos ensina com as sinfonias
dos pássaros e da brisa,
com a paciência de séculos
e com a sabedoria da natureza...
o amor nos fortalece com os invernos,
com as montanhas, com a força dos oceanos
e com as dificuldades e todas as adversidades da vida...
A noite me conduz
o mar é muito mais que luz
é um cancioneiro
cantando uma canção de amor eterno
e nesse mar de imensidão
tem tantos mares a cantar o amor
Não me fale de felicidade
não conheço tal cidade
isso é uma província tão distante...
uma via inviável
tenho alguns sorrisos em molduras
alguns retratos em estantes
prateleiras de aglomerados
não sustentam o sentimento
assim por tanto tempo
não me fale tão suave de ternura,
essa rua deserta e escura
só me traz espanto...
não me faça sonhar ou ter pesadelos...
CAÊ
Um verso é um pingo de letra no universo,
É uma borboleta no pingo do i,
Uma estrela na pele da besta ,
Uma besta tatuada na bela...
Caê é um poema,
O universo é a menina ingenua
Que não sabe da força do seu sorriso
E brilha no olhar uma supernova
Como se fosse faísca
Qualquer homem é fisgado nessa isca
Poema é "UM ÍNDIO"
Sob o terno do executivo
Sobre suas filosofias ultramodernas e high tecnologias
É a batalha do átomo, contra o tacape, o arco e flecha ...
Caê sabe das letras e ponto 'g' das palavras
E das ternuras na ponta do prego que penetra o mogno
Porque o martelo martela a sua cabeça
E por mais que pareça dolorosa essa relação
Daí são feitos berços e camas que propiciam
Acalanto, amor e a paixão
REVOADAS
Há um segundo atras
O rio era outro, outras águas
Eu teria uma vida mais longa...
Há cinco segundos atras
Eu era mais jovem quinze segundos
Somando-se dez segundos
Que eu levei pra escrever esta frase
Há dez minutos eu tento falar
Que o tempo passa
E implacavelmente deixa suas marcas...
Há quanto tempo tento falar desse enigma
Outros olhares, outras palavras, outros rios
E o rio passa em mim há quantos séculos
Outras palavras não explicaram
Ou não foram compreendidas
E o tempo tingiu nossas cãs
Um dia nos erguemos sobre nossos membros inferiores
E pensávamos que sabíamos de tudo
Mas o tempo muda as paisagens
Verga nossas espinhas e embaça os horizontes
Mas nós poetas escrevemos
E libertamos pássaros em revoadas
E nesse bater de asas divino
De editar sentimentos, alguma coisa muda
E navegamos incólumes às vicissitudes naturais
O individuo perece mas o poeta é imortal
REFERÊNCIA
E se o feio não for feio
E se o bonito não for bonito
É uma questão de prisma
De ângulo
Olhe o que vem de dentro pra fora
Não o que vai de fora pra dentro
Quando se perde o controle
Todo mundo é sincero
Na hora da raiva
Fale pouco e magoe menos
Mary had a little lamb
Isso quando criança
Na adolescência se encantou com um jumento
Mas só uma questão de sentimento
Nada de fora pra dentro
Nesse caso o bonito é bonito
E o feio pastava e zurrava poesia
A beleza da natureza não escolhe ângulo
Mas não esquece, é referência
O feio gosta de funk
E o belo canta bolero e dança tango
O PRIMO
Resta-me uma vida, apenas uma vida, minha última vida. Ao norte da cratera Mao;(as crateras recebem nome de líderes políticos, Temer é a cratera onde se abrigam os répteis e filhotes do dragão; Ide Amim Dada é um abismo); travam-se batalhas entre russos e americanos pelo total controle lunar; uma granada russa me levou três vidas, projeteis americanos me levaram mais três, sei que me resta muito pouco tempo até que algo leve o meu último fôlego felino, mas eu contemplo o planeta terrestre como se fosse eterno. Gargarin tinha razão, ela é azul, e no idioma anglo-saxônico, azul é sinônimo de sentimental, melancólico; mas esse azul de Gargarin, para quem tem sensibilidade, soa como linda, maravilhosa; a terra traduz esses sentimentos, é a presença divina; Deus mora na terra. Acho que tenho algum parentesco com o gato de Cecília, aquele que desce a escada, alheio a realidade e seus poderes. Partículas do meu sangue flutuam na gravidade tingindo de escarlate a via leitosa, mas ao contrário do meu primo preto sei muito bem quem sou e torço que estas partículas encontrem outro satélite, outro planeta onde os gatos se multipliquem, desçam as montanhas, e ocupem os vales, os campos, as planícies e ao contrário do bichano de Cecília saber-se- ão herdeiros de uma grande soberania.
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