Nao Conto Detalhes e muito menos

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⁠Paz, na terra boa vontade aos homens de bom coração, fogem da guerra e não matam um irmão.
Como é triste saber que tornou-se comum, tirar a vida de um ser da espécie humana, que a cada instante, mostra-se extinta...
Sei, que um dia, tudo isto terá fim, ou, o fim de tudo isto, é não mais a gente existir.
Paz, na terra, boa vontatade aos homens, de bom coração....

⁠Não venha me dizer do seu medo do escuro. Não venha me dizer do seu medo do passado. Não venha me dizer de banalidades nas cidades...
Se com as armas que brincamos, nós mesmos arrumamos nossos funerais, se com as armas que brincamos, nós mesmos nos machucamos...
Eu quero amor e não quero guerras...
Um homem veio pra trazer a liberdade universal em todos corações. E não a soberba, nem a hipocrisia viessem dominar a cada um de nós...
Para que reconhecessem que o amor supera tudo em meio a crises capitais, governamentais e, em tempos de guerras ao mundo veio trazer a paz!

⁠Como pássaros feridos, voamos sem direção, não temos abrigo, alguém que nos dê atenção. Estamos sem direção, voamos sem direção, nas asas da imaginação, nesse mundo cão... Encontramos um ninho, já tem ocupantes, continuamos voando sozinhos à procura de paz, um dia nos cansaremos, de voarmos contra os ventos, e as pedras que nos feriram, não mais nos atingirão...
Voltemos pra casa então, o paraíso é nosso ninho então, lá nos salvaremos da maldade então...
Deste mundo cão...

Quando a vida não der mais prazer,
Quando o sol não brilhar para você,
Quando tudo chegar a dizer não para você...
Quando uma lágrima rolar
E o seu pranto alguém escutar,
Se lhe pedirem para estender a mão, é só ir...
Eu vejo o mundo ao meu redor,
Eu olho as nuvens que passam no céu.
O tempo, como fumaça, se vai
Para não mais voltar.
Quem dera eu e você,
Uns dias destes, andando por aí,
Pudéssemos encontrar o amor
Para nos fazer feliz.
E o nosso pranto secaria,
Solidão não mais haveria,
A alegria estaria em nós.
Quem dera eu e você
Se importasse mais com o amor...

PORMENORES


Eu fiz uma canção.
Ela exprime meus anseios.
Eu não tinha tal entendimento,
Mas a canção se fez rainha nos meus sonhos.
Qual a um erudito, fiz nos pormenores
As causas de sua construção.
E entoei um grito sufocado.
Eu já não tinha um porquê de entoá-la.
Mesmo assim, a fiz!
Desejei que o mundo ouvisse!
Mas, depois, compreendi...
Que só eu a entenderia!

NOSSA FINITUDE


O mundo já não basta em si, ele quer me devorar.
Ele, o mundo, comporta-se como um bicho feroz,
Sedento e faminto...
Eu já não basto em mim e tento devorá-lo, também.
Mas sou tragado, como a parreira lambida pelo fogo.
Assim, deixo-me ser consumido, pois não há porque lutar,
Pois tudo, é o que é! Já percebeu que a força
Do destino que pensamos estar em nossas mãos
É um pêndulo, como uma mão que balança o berço?
Já percebeu que precisamos de fatores externos
Para cumprirmos algo, e que existe em nós
Uma força interna e o desejo de cumprir algo?
Já parou para pensar por que as coisas acontecem?
E como surgem as boas e más ideias e as situações?
De certa forma, muitos pensam que dominam a própria vida,
Sendo que há fatores que sempre nos desapontam
Em todo momento e que somos devorados
Todos os dias por uma grande força motriz
Invisível, sem nos darmos conta da finitude
Que existe de tudo que pensamos entender...
Em algum lugar no espaço-tempo, onde o tempo se dobra,
Na sua infinitude, pode ser que exista
Um eu, um você, tentando alinhar a cronologia do tempo,
Para que as coisas por aqui progridam da melhor maneira possível,
E que o destino realmente faça jus ao seu ofício
E que tenhamos a benção dos deuses como sorte...

A CANÇÃO QUE NÃO É MINHA


Existe uma canção em mim,
Uma canção que não é minha.
Ela vaga imortal no meu inconsciente
E arrasta sensações de tempestade e calmaria.
Nas poucas vezes que estou lúcido,
Sou arrebatado de forma cálida.


Eu, que não sou um entusiasta do meu pessimismo provocado por ela, devo esclarecer: entenda, meu pessimismo é meu bom vivant; não é tristeza, desesperança ou solidão, é apenas solitude.


Entenda: meu pessimismo foi construído com bases fortes na canção entoada na alma.
O pessimismo é meu, e ele se agarra a mim como se eu fosse a última fronteira entre a esperança e o desânimo.


A canção continua tocando, cadenciada e ressoando no caminho da alma, um caminho tortuoso e sem fim!

ENGESSAR A VIDA ATRAVÉS DA ESTUPIDEZ E DO MEDO


O estúpido que tem medo não está sendo estúpido por falta de informação;
ele é estúpido porque escolheu o medo como identidade.


Você pode trazer gráficos, estudos, testemunhos, lógica cristalina,
pode alinhar os fatos como soldados em perfeita ordem;
ele vai olhar para tudo isso e ver apenas mais uma ameaça disfarçada.
Porque o medo dele não mora na cabeça.
Mora no peito, na barriga, naquele lugar escuro onde a razão não tem chave.


A razão convence quem já está meio convencido,
quem tem um cantinho de dúvida que ainda respira.
Mas o medo absoluto é uma religião sem hereges:
o fiel não quer ser salvo daquilo em que acredita;
ele quer ser salvo pelaquilo em que acredita.


Você pode provar que o monstro não existe,
mas se o monstro é a única coisa que dá sentido à vida dele,
ele vai preferir o monstro à paz.


Então não há argumento que chegue,
não há frase bem construída,
não há metáfora bonita o suficiente
para convencer o estúpido que se alimenta do próprio pavor.


O que há, quando muito, é o tempo.
O tempo que às vezes cansa o medo,
que desgasta a armadura,
que faz a pessoa acordar um dia e perceber
que passou a vida inteira tremendo de um fantasma
que nunca lhe tocou de verdade.


Ou então o encontro.
Não o encontro com a razão,
mas com alguém que vive sem aquele medo
e, estranhamente, continua vivo,
continua inteiro,
até sorri.


Aí, só aí,
num instante em que a guarda baixa,
pode nascer uma pergunta pequenininha, quase inaudível:
“E se eu estiver errado?”


Essa pergunta é o único buraco
por onde a luz consegue entrar
numa cabeça que se fechou para o mundo
achando que assim se protegia dele.


Antes disso,
guarde sua energia.
Não se gasta pólvora com quem já decidiu
que o estrondo é música celestial.


O estúpido pelo medo
só se convence
quando um dia o medo o cansa
ou quando a vida, com sua paciência cruel,
lhe mostra que sobreviver sem pavor
também é possível
e, pasmem,até mais bonito.

Quando o Mundo Perde a Graça


Há dias em que o mundo se cala por dentro.
Não é ausência de som, é ausência de eco.
O céu continua azul, mas é um azul sem memória,
como se nunca tivesse guardado um grito de criança ou um beijo roubado.
O vento passa, mas não traz cheiro de terra molhada;
traz apenas a notícia de que está passando.
E a gente sente, no peito, um silêncio que não explica.


A graça se perde devagarinho, quase com educação.
Primeiro a gente para de correr atrás do caminhão de gás só para ouvir a musiquinha.
Depois deixa de desenhar corações no vapor do vidro do banheiro.
Um dia olha para o mar e pensa em conta de luz.
No outro, vê uma pipa rasgada no céu e calcula o tempo que falta para a reunião das três.
Crescer, descobrimos, é aprender a traduzir encantamento em utilidade.


A gente vai trocando os olhos de vidro por olhos de adulto,
e o vidro, coitado, não reflete mais arco-íris.
A gente aprende que rir alto é exagero,
que chorar é fraqueza disfarçada,
que dançar sozinho na cozinha é loucura que não se assume.
E assim, com jeitinho, vamos nos tornando pessoas sérias,
pessoas que precisam de motivo monumental para se permitir um sorriso sem destino.


Quando foi que desaprendemos de nos espantar com quase nada?
Quando foi que um passarinho pousado no fio virou mero pássaro,
uma criança fazendo bolha de sabão virou estorvo,
um velho segurando a mão da mulher depois de meio século virou apenas “casal de idosos”?
A gente troca a capacidade de ver milagre pela habilidade de ver problema.
E chama isso de maturidade.


Mas há instantes, raros, em que a cortina se abre sozinha.
Um homem entra no vagão tocando violão desafinado,
cantando com a voz rachada de quem já perdeu muito.
Todo mundo finge que não é com ele.
Até que uma senhora de coque branco e rugas profundas
começa a bater palma fora do tempo,
e canta junto, tão baixo que quase é prece.
De repente o vagão inteiro se lembra de que tem coração.
Alguém sorri sem permissão.
Outro deixa cair uma lágrima que não explica.
E por trinta segundos o mundo volta a ter graça,
como quem volta para casa depois de anos sem endereço.


Nessas horas eu entendo:
o mundo nunca perdeu a graça.
Ele apenas se cansou de oferecê-la a quem já não sabe receber.
A graça continua ali, inteirinha,
escondida no jeito que a luz atravessa a folha da árvore,
no som do portão rangendo como se dissesse “bem-vindo de novo”,
no cheiro de bolo que vem da casa de alguém que a gente nem conhece.


Ela espera apenas um olhar que ainda tenha coragem de ser criança,
um coração que aceite se surpreender sem pedir certidão de utilidade.
Porque a graça não mora nas coisas grandiosas.
Mora exatamente onde a gente desaprendeu a olhar.


E talvez a única revolução possível
seja voltar a se espantar com quase nada,
voltar a correr atrás do caminhão de gás,
voltar a desenhar no vapor,
voltar a dançar na cozinha sem plateia.


Talvez o mundo só volte a ter graça
no dia em que a gente parar de ter vergonha
de ter alma.

O Clamor Da Desesperança


Há um clamor no fator desesperança
que não se ouve com os ouvidos,
mas com a pele inteira,
como se a noite inteira se encostasse na gente
e sussurrasse, sem pressa, a mesma frase antiga:
“Não há mais depois.”


É um som que não ecoa,
porque não há parede que o devolva.
É um grito que não rasga o ar,
porque o ar já se cansou de ser rasgado.
É o silêncio que se faz tão denso
que começa a pesar nos ossos
e a gente carrega o próprio vazio
como quem carrega um filho morto nos braços.


A desesperança não grita.
Ela instala-se.
Ela toma o lugar do sangue,
circula devagar,
vai pintando de cinza os sonhos que ainda ousam nascer.
Ela não nega o amanhã;
ela simplesmente o torna irrelevante.
É o único deus que cumpre todas as promessas:
promete nada
e entrega exatamente nada.


E, no entanto,
dentro desse clamor sem voz
há uma pulsação quase imperceptível,
um tremor que não se rende.
É a parte de nós que ainda lembra
que o abismo também olha para trás
e que, às vezes,
o abismo pisca primeiro.


Porque a desesperança é absoluta
só enquanto não for olhada nos olhos.
No instante em que a encaramos,
sem desviar,
sem pedir licença,
ela perde o monopólio da verdade.
Começa a rachar
como parede velha que já não aguenta
o peso de tantas ausências.


Há um clamor no fator desesperança,
sim.
Mas há também,
no meio do peito que se calou,
uma brasa teimosa
que não pede permissão para continuar queimando.
Ela não ilumina o caminho inteiro.
Ilumina apenas o próximo passo.
E isso,
contra todo o escuro que se acha eterno,
já é rebelião suficiente.


Porque o desespero é grande,
mas o ser humano
é especialista em fazer nascer jardins
exatamente onde juraram
que nada mais cresceria.


E é aí,
na fenda mínima entre o “nunca mais” e o “quem sabe”,
que a vida,
essa contrabandista insolente,
sempre volta a passar.

A Lucidez do Paraíso é o Instante do Devaneio


O Paraíso não é um jardim que nos espera,
com portões de pérola e árvores de ouro estático.
Não é uma recompensa por uma vida finda,
mas uma suspensão lúcida do tempo presente.
Ele reside naqueles instantes-limite,
em que a consciência se afina e a imaginação se liberta.
A lucidez é a navalha que corta o ruído do mundo,
reconhecendo o peso exato de cada elo da corrente.
Ela sabe: o muro é muro, a dor é dor, o efêmero é a regra.
Não há ilusão que resista à sua luz fria.
Mas a alma, cansada da geometria do real,
não aceita a clausura do que é apenas "fato".
Então, o devaneio se apresenta.
Não como uma fuga cega ou uma negação covarde,
mas como a afirmação mais alta da potência do ser.
O devaneio é o arquiteto que refaz o mapa da realidade,
desenhando rios onde antes havia deserto,
dando voz ao silêncio que a rotina impõe.
É a permissão para que o possível
se sobreponha à tirania do presente.
E o Paraíso, finalmente, não é a terra de ninguém,
mas o ponto exato de interseção:
É a lucidez que reconhece a precariedade da vida
(sabe que o tempo vai passar, que a beleza é breve)
e, por isso mesmo, usa o devaneio
para saturar o momento com uma perfeição temporária.
É o piscar de olhos onde a razão e o desejo conspiram:
"Isto não é real, mas é tudo o que importa."
Naquele instante de flutuação, a mente está desperta
(lúcida de sua própria criação),
e a alma está em êxtase
(devaneando um mundo que ela mesma sustenta).
O Paraíso, portanto, é a plena consciência da nossa capacidade de ser feliz, mesmo que seja apenas um pensamento. É o gozo da ilusão assumida.
É quando a mente, lúcida e livre, se permite voar.

Os Deuses Riram de Mim: A Ironia do Olimpo


Não foi o Trovão que me atingiu,
nem a seta cega do Destino.
Foi algo mais sutil, mais devastador:
a gargalhada cósmica, fina e alta,
que ecoou no vazio após minha súplica.
Eu havia erguido altares ao Propósito,
pavimentado caminhos com a Fé.
Eu pedi grandeza, ou talvez apenas justiça,
e em troca, recebi a mais cruel das respostas:
o escárnio daquelas forças que me teceram.
Os Deuses não me puniram por maldade,
mas por pura indiferença lúdica.
Riram não do meu fracasso,
mas da minha ilusão de agência.
Riram da minha pequena e ardente vontade,
tentando dobrar a vastidão inerte do Acaso.
Riram do meu plano de cinco anos,
quando a eternidade opera em ciclos de poeira e estrelas.
O riso deles foi a revelação mais nua:
A vida não é uma tragédia com regras morais,
nem uma epopeia onde o mérito vence.
É uma comédia de erros, escrita por um Panteão
que se diverte com a seriedade de nossas crenças.
E a filosofia do riso divino é esta:
Você é livre para tentar, mas jamais para determinar.
No momento em que o som da sua hilaridade cessou,
eu não me senti humilhado, mas subitamente,
e perigosamente, liberto.
Pois se o meu sofrimento é a piada deles,
se a minha queda é o entretenimento celestial,
então a minha dignidade não está no sucesso que busco,
mas na teimosia de continuar jogando o jogo,
mesmo conhecendo o final,
e ignorando a plateia que gargalha.
O riso deles foi o fim da minha inocência,
e o início da minha coragem e da minha indiferença, os guardando num quartinho qualquer do meu universo...

A Ditadura do Vencimento


Não se engane, caro leitor. Não somos mais Homo sapiens. Somos, essencialmente, Homo Boléticus. Nossa vida não é medida em anos de felicidade ou de sabedoria adquirida; é contada na dolorosa sucessão de datas de vencimento.
O boleto não é apenas um pedaço de papel (ou, mais modernamente, um QR Code azul). Ele é o nosso antagonista existencial, a prova incontestável de que, no grande teatro da vida moderna, nosso papel é o de um mero alimentador de um dragão invisível chamado Sistema.
O ciclo começa sempre com a doce, breve ilusão. É o dia 5, ou 10, e a conta bancária está sorrindo para você. Por um breve, glorioso momento, você se sente um magnata, flertando com a ideia de comprar algo desnecessário. Mas o magnata dura pouco.
Mal o dinheiro assenta, e lá vem ele, o Mensageiro da Ruína, a notificação silenciosa no celular: Seu boleto da fatura X está disponível. É o chamado do dever. O dinheiro chegou com hora marcada e, antes que a endorfina do salário baixe, ele já tem donos mais urgentes que a sua alegria.
A pior parte é o Boleto Fantasma. Aquele que você não esperava, que se materializa na sua caixa de entrada, geralmente vindo de um serviço que você contratou em 2017 e jurava ter cancelado. Ele surge como um fantasma vingativo, exigindo não apenas dinheiro, mas também a humilhação de ter que ligar para o atendimento ao cliente.
E quando finalmente chega o Dia D (Dia de Desembolsar), a cena se repete: você entra no aplicativo do banco e executa o balé da quitação. É um ritual de sacrifício. A cada confirmação, um pedacinho da sua alma — ou, pelo menos, do seu churrasco de domingo — se esvai. Você paga o aluguel, o plano de saúde, o streaming que você não assiste e, finalmente, a conta de luz, que sempre parece estar cobrando o custo da sua culpa por ter deixado o carregador na tomada.
O ápice cômico-trágico é quando, após pagar rigorosamente todas as contas, você olha para o extrato e percebe: você trocou todo o seu trabalho mensal pela permissão de continuar trabalhando no próximo mês. A vida moderna não é sobre acumular riqueza; é sobre zerar dívidas para que novas dívidas possam surgir.
O boleto é a única prova de que você existe e consome, e isso, de alguma forma, nos conforta. É a nossa âncora na realidade.
No fim, a gente se deita, suspira aliviado por ter vencido o mês, e mal a cabeça toca o travesseiro, o cérebro sussurra: Só mais 30 dias... E o IPTU, você já viu?
A vida é isso: a arte de sobreviver entre um vencimento e outro. E a única certeza que temos é que, enquanto houver vida, haverá boletos. É a nossa maldição e nossa métrica.

Eu achava que eu era fria. Achava que não precisava do amor, que meu coração tinha aprendido a sobreviver sem se abrir. Eu dizia isso com certa firmeza, como quem repete uma verdade para não encarar o vazio. Mas então você apareceu, e tudo o que eu achava que sabia sobre mim começou a se desfazer.
Quando pensei em você, pensei em presente. Não por obrigação, mas por cuidado. Fiquei me perguntando do que você mais gostava, tentando entrar no seu mundo. A camiseta do time surgiu quase sem perceber, e eu ri sozinha pensando: “como não pensei nisso antes?”. Talvez porque amar seja isso prestar atenção.


Te vi pela primeira vez e me apaixonei. Não foi barulhento, foi silencioso. Um reconhecimento. Como se algo em mim dissesse: é aqui. Nosso primeiro beijo foi no cinema. O filme era de terror, e eu estava assustada, mas você segurou minha mão, beijou meus dedos, acariciou com calma. Ali, no escuro da sala, eu me senti segura. Foi meu primeiro beijo que não pediu nada além de presença.
Foi meu primeiro date. Meu primeiro carinho sem sufoco. Pela primeira vez, o afeto não me prendeu me acolheu.
E não foi apenas um final de semana. Foram idas e vindas, beijos repetidos, carinho constante. Foi esforço. Foi escolha.


Eu te tocava com cuidado, fazia massagem no seu corpo, te dava beijos como quem aprende uma língua nova a do afeto sem medo. Com você, meu corpo não pediu defesa. Ele descansou.

O tempo está frio, nublado, com chuvinhas finas. Você está distante agora. E dói. Mas há algo que ninguém pode me tirar: eu vivi isso. Eu senti. Nunca vou te esquecer. Estou aprendendo a viver sem você, e enquanto a chuva cai, as lágrimas escorrem dos meus olhos. Mas não são só de perda. São de descoberta. Porque foi com você que eu descobri que havia amor em mim. Compaixão. Doçura. Presença. Talvez essa história nunca tenha sido só sobre nós dois. Talvez, no fundo, sempre tenha sido sobre mim sobre quem eu me tornei ao permitir sentir.
E isso, mesmo doendo, é para sempre.

Consertar


Dessa vez estou partindo
Estou em pedaços
E você não sabe consertar
Queria essa intensidade
Que me enche de vida
Que me cativa
Os meus cacos te machucam
Então
Não venha, não procure-me
Nada disso é sua culpa
Não é você que precisa de reparos
Sou eu
Eu machuco as pessoas
Quando dou os pedaços
De mim
Esperando que alguém me arrume.


Jean César

Fim do dia


Chegou o fim do dia
E você não me esperou
Dessa vez
O Sol caiu
A Lua não apareceu
Os pássaros dormiram
Foram para seu ninho
E eu fiquei aqui
Sem saber de você
E talvez seja melhor
Os dias fazem sentido sem você
Preciso buscá-la
Onde quer que esteja
Minha saudade sempre te encontra.


Jean César

Querida


Pra que quer achar culpado
Não temos culpa querida
Você não conseguia gostar
Eu ficava com minhas cartas
Minhas flores
E meu amor a deriva
Enquanto você se ausentava
Rezando pra que eu te vangloriasse
Ilusório
Não posso
Não sou seu brinquedo
Me desculpa querida
Estou indo
E joguei as cartas, as flores
E chocolates no lixo
Espero que entenda.


Jean César

Ciberespaço


Um útero de fios
Onde gestamos ausências


Senso
De perda
Que não pesa em gramas,
Mas em bytes de memória
Apagados em baixa resolução


Menores
Ecos do cotidiano:
O atrito da xícara no pires,
A hesitação antes de responder,
A textura do ar antes da chuva
Detalhes da rotina diária
Sendo eliminados
Por algoritmos de eficiência.


Exoesqueletos da estupidez
Vestimos interfaces intuitivas
Que pensam por nós,
Enquanto nossos músculos mentais
Atrofiam em elegantes casulos de titânio


Configuração
Um ritual sagrado:
Parâmetros biomecânicos ajustados,
Parâmetros biológicos monitorados,
Sincronização cerebral forçada
Como metrônomo para uma orquestra de neurônios cansados


Blockchain mental
Registros imutáveis de pensamentos editados,
Correntes de hashes ligando verdades revisionadas.
Atividade cerebral em ruptura
Onda delta contra firewall,
Sonhos comprimidos em pacotes de dados,
Sinais de erro brotando como flores de lótus em telas azuis


Enquanto isso
(O pronome mais humano que restou)
Ainda faz sentido.
O último suspiro orgânico
Antes do login definitivo






Criptografia da alma
Senhas de existência
Trocadas a cada aurora digital


Lacunas
Entre um ping e outro,
Surge o vácuo que canta
Em frequências não traduzíveis


Arquivos corrompidos
De emoções não indexadas:
A saudade que o sistema operacional
Identifica como "erro 404: afeto não encontrado"


Nuvens de pensamento
Sincronizadas até a última nêvoa,
Mas o backup dos instintos
Foi perdido na migração


E o corpo?
Pergunta o hardware ao firmware,
Enquanto a carne, esquecida,
Ainda treme de frio
Na sala de servidores climatizada.


Até que em um loop inesperado
Um bug no paraíso lógico
O sistema encontra um glitch
Chamado poesia:
Dados que não se encaixam,
Verdades que não verificam,
E um verso antigo
Que ressoa como eco de um mundo
Que insistimos em apagar,
Mas que teima em renascer
Como raiz sob o asfalto digital


Porque ainda faz sentido
Enquanto houver um refresh
Que não apague por completo
A sombra do que fomos
Antes de nos tornarmos

ANALOGIA — AMOR NÃO É CORRIDA. É ESCALADA.


Muita gente trata o amor como uma corrida.


Quem ama mais?
Quem cede menos?
Quem chega primeiro à razão?


Na corrida, cada um corre por si.
O outro é concorrente.
O erro do outro vira vantagem.
O cansaço do outro vira vitória.


Mas amor não é pista.
É parede.


Amor é escalada.


Na escalada, não existe vencedor solitário.
Existe corda.


Você sobe confiando que o outro está segurando.
E segura sabendo que, se soltar, não é o outro que cai —
são os dois.


Na escalada:


você não acelera quando o outro escorrega


você não comemora o erro


você não solta para provar um ponto




Porque ali, razão não salva.
Orgulho não salva.
Quem salva é responsabilidade emocional.


Escalada exige pausa.
Exige leitura do clima.
Exige saber a hora de parar, de descer, de tentar outro caminho.


Quem ama não puxa a corda com raiva.
Quem ama ancora.


E talvez o amor mais maduro não seja aquele que chega ao topo, mas aquele que, mesmo cansado, volta inteiro com o outro.
—Purificação

AMOR NÃO É FOGO. É OXIGÊNIO


Quase todo mundo fala de amor como fogo.
Paixão. Chama. Intensidade. Ardor.


Mas fogo impressiona.
E oxigênio… ninguém vê.


O problema é que o fogo vive sem amor.
Mas o amor não vive sem oxigênio.


O fogo queima rápido.
Ilumina.
Aquece.
Depois consome tudo — inclusive quem tentou se aquecer nele.


Oxigênio não aparece.
Não faz barulho.
Não disputa atenção.


Mas quando falta…
o mundo entra em pânico.


Amor de verdade não te queima.
Te permite respirar.


É aquele espaço onde você não precisa se explicar o tempo todo.
Onde você pode falhar sem ser humilhado.
Onde o silêncio não vira ameaça.
Onde a dor não é usada como argumento.


Oxigênio não exige performance.
Não cobra intensidade.
Não pede espetáculo.


Ele só sustenta.


Quem ama não sufoca para provar presença.
Quem ama afasta o joelho do seu peito.


Por isso tanta gente confunde amor com desespero.
Porque nunca aprendeu a respirar junto.


Relacionamentos morrem não por falta de paixão,
mas por excesso de asfixia emocional.


Amor não é: — “fica”
— “prova”
— “mostra”
— “seja tudo”


Amor é: — “respira”
— “eu seguro”
— “eu fico”
— “você não vai morrer aqui”


E talvez a prova mais dolorosa do amor seja essa:


Você só percebe o quanto precisava quando quase não consegue mais respirar.


Quem ama não incendeia.
Quem ama oxigena.


E quando alguém vira oxigênio na sua vida, você entende uma coisa que dói e cura ao mesmo tempo:


O amor não faz barulho.
Mas é o que mantém você vivo.


—Purificação