Nada Pior que o Silencio
Ando obcecado por silêncio. Um silêncio que te permita ouvir o ruído do vento. E o bater do coração. E se possível isso que chamamos de Deus, existindo devagarinho em cada coisa. Existe sim.
Às vezes, no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois, eu fico ali sonhando acordado, juntando o antes, o agora e o depois. Por que você me deixa tão solto? Por que você não cola em mim? Tô me sentindo muito sozinho, não sou nem quero ser o seu dono. É que um carinho às vezes cai bem.
A respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.
Diz, fala, exclama cada um consigo mesmo, sem que seja quebrado o silêncio exterior. Há um grande tumulto; tudo fala em nós, excepto a boca. As realidades da alma, por não serem visíveis e palpáveis, nem por isso deixam de ser também realidades.
Se para bom entendedor, meia palavra basta,
para quem entende além das palavras,
o silêncio total é um livro inteiro...
Silêncio, ando obcecado por silêncio. Um silêncio que te permita ouvir o ruído do vento. E o bater do coração.
Silêncio.
Se um dia Deus vier à terra, haverá um silêncio grande.
O silêncio é tal que nem o pensamento pensa.
Sem Título (1984)
Eu não quero ficar em silêncio
Não mais!
Eu não quero escrever no banheiro
Jamais.
Eu não quero ficar no escuro
Não mais!
Eu não quero me sentir solitário
Nunca mais.
Eu não quero viver com quem é fraco
Não mais!
Eu não quero me sentir tenso
Jamais.
Eu não quero sofrer
Não mais
Eu não quero peso nas costas
Nunca mais.
Eu não quero deixar de sorrir
Jamais
Eu não quero andar de passo leve
Não mais.
Eu não quero viver gastando palavras
Pra quem não me ouve jamais!
Eu não quero dúvidas de quem não me aceita, não mais!
Eu não quero o silêncio
De quem não me preenche com palavras de paz.
Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer.
O silêncio absoluto, quando
não vela nosso sono, diverte-nos
torturando.
Crônica: Dia e noite - Trem Bala
Pode ser que não seja eu o que você procurava
Nem que seja você minha outra metade
Faz tempo que o amor se foi desta casa
não nos resta nada para falar
Deixa a roupa junto a cama
Apenas fique um pouco mais
E não diga nada
Tudo está tranqüilo por uma vez
Não diga nada
Não diga nada, tudo está tranqüilo
Por esta vez
Apague a luz e não diga nada
Hoje as nuvens não saem da minha janela
E não sei se quero acordar
Deixarei meu coração embaixo do travesseiro
Caso algum dia você queira voltar
Deixa a roupa junto a cama
Apenas fique um pouco mais
E não diga nada
Tudo está tranqüilo por uma vez
Não diga nada
Não diga nada, tudo está tranqüilo
Por esta vez
Apague a luz e não diga nada
E não sei se poderei arrancar da minha pele
esses beijos proibidos que você me deu ontem
E não diga nada
Tudo está tranqüilo por uma vez
Não diga nada
Não diga nada, tudo está tranqüilo
Por esta vez
Apague a luz e não diga nada
Girava pela tua cintura, bailarina,
Feito anéis de saturno.
Contando estrelas, nas tuas costas,
Constelações de um céu noturno.
Congestionamento no teu trânsito ativo,
Sempre que eu ia à Marte
Na era de aquário, amor,
Nadei contigo por toda a parte.
Na conjunção de Vênus com tu,
Fui no zodíaco te buscar,
Que a carta de tarô, louca,
Insistia em dizer pr’eu te amar.
E quando nós juntos, corpos celestes,
Expandindo pelo espaço
Choveu meteoros naquele dia, de noite,
Culpa do nosso abraço.
Eu sempre amei o deserto. A gente senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se sente nada. E no silêncio alguma coisa irradia.