Mudar de Cidade
Mala pronta
A minha mala segue sob o armário
embalada por um plástico amarelo
desses de por lixo, sabe?
Ela segue aguardando o dia em que me encherei de sonhos
e partirei na viagem tão desejada.
Segue aguardando... Empoeirada!
Esperando ansiosa que eu desembarque na próxima estação
segue aguardando o meu retorno
cheia de sonhos, cheia de planos.
Prontos para saírem enfim, do papel.
Espera embarcar comigo um dia
e explorar o mundo de opções
espera que eu chegue um dia
e nunca mais parta.
Espero chegar um dia
o dia de enfim desarrumar a mala
e por fim de vez nessa história.
Espero poder contar a meus filhos e netos
todas as memórias e aventuras vividas
espero ver neles o mesmo brilho nos olhos
que um dia eu vi na vida.
Essa é a história de um homem e sua mala
espero que compreenda.
Pois, não pretendo me demorar!
Estava mesmo de passagem
não pretendia ficar.
Espero que não se ofenda
pois, agora, preciso partir
tenho de ir e desarrumar a mala
tenho que me estabelecer e constituir família.
Meu cão está só, me espera faminto
as flores em meu jardim também não tem quem as regue
tem de ser eu, sou eu quem faz isso
por isso, tenho de partir.
Tenho que fazer a mala...
E refazer-me antes de ir
tenho que desfazer o que fiz
e preparar a sala para acomodar-lhe
- café, chá, leite e bolachas crocantes -
Espero que entenda, mas tenho mesmo que ir!
Antes riremos um pouco, rir iremos de todas essas mazelas
nos abraçaremos feito se abraçam os casais em despedida
antes de eu partir, nos abraçaremos, feito quem se despede da vida.
Mas não choraremos, chorar não iremos
enxugaremos as lágrimas um do outro
e pela última vez, nos abraçaremos forte.
Será o ponto alto de nossa despedida...
Você me entregando a mala feita,
um pote de sobremesa acondicionada em um vasilhame plástico
e duas ou três mudas de plantas arrancadas com todo carinho de seu quintal.
Então eu direi até logo e acenarei com a mão direita
me despedindo pela décima segunda vez.
De longe, você só observará a minha partida
pelas costas, você verá
eu e a mala, desaparecer no horizonte.
As ruas são nossos museus
os muros as nossas telas
o sangue nos olhos a nossa tinta
e a poesia marginal a nossa arte.
Agudo
agudos são os versos
aguda é a dor
agudo é o medo
agudo é o temor das pessoas
agudo é tudo!
Tudo por aqui é agudo.
A violência é aguda e nada incipiente.
As pessoas são agudas
as ações tendem a ser agudas também.
A cachaça é aguda, proporcionalmente à frustração de muitos por aqui
e por isso tantos bebem, desde muito cedo bebem e se viciam
e viciados, não conseguem mais se safar, padecem a míngua
desmerecidos e desacreditados por terem fraquejado
por terem se deixado levar pela vida difícil desse lugar.
E tinham outra opção? Talvez tivessem
se aguda fosse a educação das escolas daqui!
Mas, não! Não é.
Agudo é o tráfico que compraz os jovens
Agudas são as drogas que por aqui matam muito
não só mata jovens, mata famílias, mata a comunidade
mata o bairro, mata a cidade.
Agudo é o crime organizado que se organiza do jeito que dá
a revelia do poder público, sucateado pela máquina corrupta instalada.
Aguda é a ingerência do Estado
que tudo vê e nada faz.
Aguda é a tristeza que se vê aqui, mais aguda que em outros lugares.
Agudas são as reações que se seguem nesse contexto de caos
Agudas feito a ponta de uma lança ferindo corpos
matando gente, dia após dia.
Ruim de cidade pequena é gente que vasculha sua vida e acha que sabe tudo sobre ela, quando bem nem sabe da própria!
Como a cidade derrubada, sem muro, assim é o homem que não tem domínio. (Pv 25:28)
O que acontece com uma cidade sem muro? É invadida!! Nossos sentimentos devem ser cercados com os muros da oração, se não qualquer um entra, qualquer um domina e qualquer um pode destruí-los.
Deito na cama e fecho os olhos. Tudo parece um pesadelo, mas estou acordada. Parece que estou com paralisia do sono, pois não consigo me mover, não consigo fazer nada. Algo me prende.
Abro os olhos, preciso saber o horário. Ainda são três horas da manhã. Falta muito tempo para amanhecer.
Fecho os olhos. Lembro de quando eu era feliz, de quando eu não te conhecia ou, ao menos, você era apenas mais uma pessoa naquela pacata cidade.
"Eu estava andando pela cidade à noite sem rumo, e em uma tentativa frustante, olhei para o céu para ver as estrelas... mas como eu já sabia não havia nenhuma, somente a lua pairava pelo céu; as luzes dos postes e das casas espantavam as estrelas, então voltei a caminhar de cabeça baixa, até que de súbito, comecei a reparar nos paralelepípedos no chão; levantei a cabeça e comecei a sorrir, pois naquele momento eu não estava mais andando sozinho; pois agora além das estrelas me fazerem companhia, me guiavam pelas ruas da cidade..."
memórias
aquele moleque travesso, avesso a cercas, à revelia dos pais, sem um vintém "varava" a estação de são miguel, e no balanço do trem, ganhava novos mundos, novos cheiros e aromas de mogi até o brás.
sabedor q 'manoel feio' fazia jus ao nome, e senhor absoluto das lagoas de 'ururai' até 'aracaré', aos treze já com responsabilidade de homem operário, em busca de salário, às cinco já estava de pé.
deixara para trás as peladas no campinho e o pega-pega, e na gaveta da memória o seu estilingue, suas bolinhas de god e o pião, distanciando-se temporariamente do cheiro cáustico e do apito da nitro, calçando um vulcabras apertado p pisar em outros chãos.
sonolento e sem poder dar no pé, aquele ainda menino, sem despertar do cochilo, sabia estar em ermelino ao sentir o cheiro de enxofre da matarazzo, dona de outra chaminé.
de 'eng. goulart', 'eng. trindade' e 'penha', a única memória afetiva e q pode fazer parte dessa resenha, é ter visto de longe e ao logo da linha o que seria o bucólico parque ecológico e o inalcançável clube esportivo da penha.
da 'carlos de campos', ja livre da busca pelo feijão e arroz, soube tempos depois que o governador de são paulo, patrono da estação, a fez quartel general na revolução de trinta e dois.
já na quarta e quinta paradas, área mais industrializada, aliás, até o brás, o cheiro o remetia à usinagem; a uma montanha de cavaco do ferro descascado, imagem que o menino não esquece jamais.
tudo mudava no tatuapé e no belém, quando o cheiro da fábrica de bolachas, e o aroma da café seleto, produtos às vezes arredios à mesa daqueles passageiros, tomava o trem por inteiro.
aos operários apenas cheiros que vão e que vêm, e aquele moleque, agora com mais idade, relembra Solano Trindade, e em noites insone ainda ouve no ranger das ferragens do trem: "tem gente com fome / tem gente com fome / tem gente com fome".
15/04/2017
Um dos maiores desafios das pessoas que moram nas grandes cidades brasileiras é resgatar o senso de comunidade.
►Escravo Moderno
Passando madrugadas com a luz ligada
O sono atormentando enquanto soa um respiro
Com as pupilas cor de vinho
Um descanso foi emitido, mas fora esquecido
Buscando terminar logo com o trabalho infinito
O Sol, que antes tinha ido dormir, agora já era bem-vindo
O cacarejo do velho galo já pode ser ouvido
O céu observa, com os olhos fixos, aquele indivíduo,
Que não para nem por um segundo de alívio
Um escravo do novo mundo, do novo tempo
Não existe se quer um momento de passatempo
Vive apenas para transformar seus pensamentos em algo produtivo
Mas, ao passar dos anos, será destruído
Por viver naquele tipo de presídio invisível,
Onde cada gesto é repetitivo.
Com a vista serrilhada,
Com os bocejos que marcam as horas passadas,
Ele continua trabalhando, sem tempo para mais nada
Como uma engrenagem que não cessa na mente,
Mesmo durante a madrugada ela trabalha,
Nos gerando ideias engraçadas
Pobre do sujeito que se sustenta em pé de mal jeito,
Que não mais se aguenta, que está com defeito.
Levantando a cada hora só para se esticar
Observando a saúde, que continua a se distanciar
Outrora, ele notará que,
Preso em uma cama, por indefinidas semanas, ele permanecerá.
Seus pensamentos acabam por se tornarem centelhas
Possuindo apenas o fim da vida como uma certeza
Não sentindo conforto em uma bela ceia,
Tudo que enxerga é mais problema,
Correndo contra o tempo, aquele que o condena
Jamais esquecendo de usar suas algemas
A parti daí, a vida já não é mais plena
E assim, ele se auto-condena,
A uma vida com apenas um único dilema
"Assistir o tempo passar, sem nada mais para se importar".
Já não lembra mais o cheiro da rosa,
Não se recorda mais das noites luminosas
Exterminou as folgas, para render mais
Pensa agora que, ser pai é uma péssima proposta
E sua alienação, e escravidão, tomam forma
O indivíduo renegou a sua liberdade,
E não deseja mais aproveitar o lado de fora,
Pois o mundo o apavora, o sufoca.
Belém do Pará;
Cidade morena das chuvas da tarde,
Cidade das mangueiras e frutas a vontade,
Cidade pequena, mas grande na fé,
Cidade do gigante, Círio de Nazaré.
Do açaí, da tapioca,
Do tucupí da mandioca,
Do cupuaçú, do taperebá,
Da nossa castanha do Pará,
Da maniçoba, do tacacá,
Do carimbó e do siriá.
Tem tudo isso e muito mais,
Cidade rica de cultura e paz,
Lugar pai d'égua, venha visitar,
Todos que provam querem ficar!
A partir do momento em que a população de uma cidade não tem mais tranquilidade para andar na rua, a criminalidade venceu.
"Outro lado da cidade"
Tento te encontrar nos lugares que já andamos de mãos dadas, tenho tanto a lhe dizer, preciso te abraçar denovo
Sorte que nós temos, só consigo te amar, e não tenho o que duvidar do seu amor por mim, como é bom amar você, como é real e lindo o seu amor por mim
O tempo passa e sempre passará, e tempo nenhum conseguiu terminar o nosso amor, que o nosso para sempre permanece pra sempre, que não quebramos nossas promesas que fizemos tempos atrás
Quero te fazer feliz como eu fiz ontem, sempre quis, que o tempo vem e o nosso amor continue para sempre
Mesmo não conseguindo te ver, pois agora você está do outro lado da cidade vindo me encontrar, tento encontrar seu cheiro no nosso lugar que ficamos juntos, na areia da praia de frente para o mar, escutando os barulhos das ondas, e conversando com a lua para ela continuar estando no alcance dos meus olhos, para iluminar nosso amor quando você chegar
Que essa distância um dia termine, que possa chegar um dia, que você não morará mais do outro lado da cidade e venha morar na minha rua, que um dia não tenhamos mais saudades das faltas de nossas presenças
Minha amada e querida
Honrada e sentida
Ô cidade dividida
Em ser em minha vida
Um lugar de chegada e partida.
A noite fria cai sobre a cidade.
Chove lá fora e aqui dentro.
Chove saudade e me afoga.
Só me resta saber por onde seu calor escapou.
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