Momentos Alegria Fernando Pessoa
Penso às vezes que, quando eu estiver pronto, embora não
tenha a menor idéia de como possa ser estar-pronto, um dia, um dia
comum, um dia qualquer, um dia igual hoje, vou encontrar você claro e
calmo sentado no Bar, à minha espera. Na mesa à sua frente, um copo
de vinho que você vai erguer no ar feito uma saudação, até que eu me
aproxime sem que você desapareça, para que eu possa então te abraçar
Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre. Dá licença, Bob Dylan: it’s all right man, I’m just bleeding.
"verdade é que eu tinha muitas teorias de liberdade e independência, mas é verdade também que eu, antes de tudo isso, nunca tinha entendido o que era mesmo o amor nessa vida."
Mas de qualquer forma não conseguia definir o que se fez quando comecei a perceber as lembranças espatifadas pelo quarto. Não que houvesse fotografias ou qualquer coisa de muito concreto — certamente havia o concreto em algumas roupas, uma escova de dentes, alguns discos, um livro: as miudezas se amontoavam pelos cantos. Mas o que marcava e pesava mais era o intangível.
Mas não estava triste. Era como se de repente tivesse percebido que vivia, e que aquilo nada mais era do que um capítulo, uma etapa.
É provável que estivessem mentindo, eles dizem que eu preciso aceitar mais a realidade das coisas, a dureza das coisas, e às vezes penso que tornam de propósito as coisas mais duras do que realmente são, só pra ver se eu reajo, se eu enfrento. Mas não reajo nem enfrento. A cada dia viver me esmaga com mais força.
"...pensando em mudar de vida, de emprego, de cidade, de país, que vontade, querida mamãe, de ser feliz, de ter um grande amor bem limpinho, bem clarinho, um amor de manha bem cedo, não diga nada a ninguém, não é preciso, mas cá entre-nós-que-ninguém-nos-ouça, não vem dando muito certo, tenho tentado, juro."
Reli o começo da carta, mas não consegui entender direito o que eu pretendia dizer, sei que pretendia dizer alguma coisa muito especial a você, alguma coisa que faria você largar tudo e vir correndo me ver ou telefonar e, se fosse preciso, trazer a polícia aqui para obrigá-los a deixarem você me ver. Eu sei que você quer me ver. Eu sei que você fica os dias inteiros caminhando atrás daqueles muros brancos esperando eu aparecer. Eles não deixam, acho que você sabe que eles não deixam. Não vão deixar nem esta carta chegar às suas mãos, ou vão escrever outra dizendo que eu não gosto de você, que eu não preciso de você. Mas é mentira, você tem que sabtr que é mentira, acho que era isso que eu queria dizer preciso escrever depressa antes que eu me esqueça do que eu queria dizer era isso eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro ou do outro lado.
“Aos poucos a gente vai mudando o foco. E o lugar nem te acrescenta mais, você começa a precisar de outros lugares. E de outras pessoas. E de bebidas mais fortes. Nem pensa. Vai indo junto com as coisas. E eu só preciso de alguns abraços queridos, a companhia suave, bate-papos que me façam sorrir, algum nível de embriaguez e a sincronicidade.
Tenho a impressão que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui.
E se me perguntarem como estou, eis a resposta: Estou indo. Sem muita bagagem. Pesos desnecessários causam sempre dores desnecessárias. Esvaziei a mala, olhei no fundo dela, limpei, e estou indo ... preenche-la com coisas novas. Sensações novas, situações novas, pessoas novas. Tudo novo !
Dá vontade de amar. De amar de um jeito "certo", que a gente não tem a menor idéia de qual poderia ser, se é que existe um.
Eu já tive vontade de colocar o pé na estrada. Assim, meio sem rumo. Tirar as coisas do guarda-roupa, colocar de qualquer jeito dentro da mala e ir. Sem destino, sem hora para voltar.
Mas quero te contar umas coisas. Mesmo que a gente não se veja mais. Penso em você, penso em você com força e carinho.
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