Mensagens de Sol
TRISTE QUIETUDE
As árvores cansadas da dor
Deixavam cair seus braços tão tristes
E o sol castigava as pedras do chão
Como ferro quente a marcar o gado,
Na tarde já morta de sede.
Só uns cabelos de oiro
Esvoaçavam loucos na brisa infernal...
Eram os teus procurando os meus,
Na triste quietude da tarde defunta.
Fugiram os pássaros e tudo o que é vida
Da vida que tem sangue nas veias.
Dolorosamente, em prantos de cinzas
As árvores tornaram-se pó
E os ramos partiram-se numa chuva
De mil pedaços queimados.
O sol escondeu-se amedrontado;
A tarde e a brisa quente
Feneceram de saudade.
Só ficaram os teus cabelos de oiro
Sempre à procura dos meus,
Revoltos na triste quietude...
Mas tudo tão inútil.
(Carlos de Castro, in Poesia Num País Sem Censura, em 27-08-2022)
TRISTEZA INFINITA
Que triste este sol
Hoje, neste outono.
Vede como chora
Agora,
O vento cerol
Colado a mim como dono.
Que triste é ser tão tristonho,
Como árvore que dá flor
Sem amor,
No outono,
Fadada a não medrar.
Que angústia vai neste olhar
Nesta sempre tristeza minha,
Infinita,
Que mesmo amordaçada grita
Pela liberdade de amar.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 28-10-2022)
IN-FIDELIDADES
Hoje, está sol.
Mas era para estar chuva,
Miudinha,
Chatinha,
De enregelar os ossos.
Mas, também a parra
Nem sempre traz uva,
Por vezes a coragem,
Apesar da aragem,
Não é garra.
Quase sempre, paixão
Traz desilusão,
Riso, dá choro convulsivo
Até em ambiente festivo,
E não há bela sem senão.
Fiel, mesmo é este gato,
O meu Giló,
Gilberto Gil,
Vindo nas águas de um abril,
Que quando sente que estou só,
Sem aparato,
Enrosca-se em mim,
Como que a dizer sim.
Nobre animal,
Adorado pelos egípcios,
Hoje, só considerado em respícios,
Amaldiçoado e tão só.
Adoro, cães.
Como animais que gostam das mães,
Mas sem ele, o meu Giló,
Eu meteria mais dó.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 07-03-2023)
SOL
É essa estrela anã, amarela,
Que está sempre nascida
Na vida
E por ela
No mundo redondo,
Que logo pela manhã
Quer se veja ou não,
Aquece,
O coração,
Com estrondo,
Quando este desfalece
Por suposição.
É o sol,
Do nosso dó,
Da popa à ré,
E mais do mi
Em fá,
Do lá
E de cá,
De mim
Por si,
Mas, teimosamente,
Brilhantemente,
Sol,
Sempre presente!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 21-03-2023)
LAURO O INFELIZ
Lauro morava debaixo de chapas pobre
Tinha as mãos encardidas de ranho e sol
Já foi senhor e estupor de graveto nobre
Antes de ter o cabelo com baba de caracol
Lauro batia ao bicho de hora em hora
Seduzido pela erva queimada em cenoura
Depois adormecia co'a coisa de fora
Deprimida encardida e tão redutora
Lauro tinha quem por ele rezasse
Ao longe numa luz que já foi dele
Algum teso também agora sem classe
Mas que tinha sido figura como ele
Lauro cansado de viver sem planos
De tanto cismar na córnea da vida
Arranjou um corda já em pedaços partida
E enforcou-se de pernas no dia dos anos.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 17-04-2023)
NOVOS TEMPOS VIRÃO
Há tempos atrás dos tempos,
O vento sussurrou-me ao ouvido:
" O sol vai deixar de brilhar!
A lua, viúva, de negro vai ficar!
A chuva, disse-me, vai mirrar!
Eu, por mim, estou a esvaziar!
O céu, vai cair a arder,
No leito seco do mar!
As montanhas irão desmoronar!
Os prados verdes vão crestar!
As árvores, de podres, irão chorar!
Ouvir-se-ão estrondos de terrificar!
Ficarão inertes as aves e os peixes
Sem ar, sem água, a agonizar! "
Carrancudo, perguntei ao vento:
" Ouve lá, ó vento, então eu quero saber:
Porque razão me estás a meter
Tanto medo de arrepelação !?...
Assim sendo, diz-me para onde vou,
Ou então!?...
Aí, o vento mudou de ouvido e segredou-me:
Alguns como tu, ficarão
Na nova terra que há de brotar
Das cinzas da ressurreição,
Onde não haverá castigo nem metas,
Apenas um tempo novo
Onde habitará um nóvel povo,
No promissor mundo dos poetas! "
(Carlos de Castro, In Há Um Livro Por Escrever em 08-05-2023)
PÁSSARO LIBERTADOR
Na linha imaginária do horizonte,
Filtrada pelo sol já passageiro,
Vejo um vulto, asa de anjo
Que me chora logo defronte
A esta janela do meu derradeiro
Olhar cativo no monte
Do meu penar,
Sem te poder mais amar.
Anda, passarita Clara.
Com o teu bico de beijo,
Inicia-me no teu solfejo
E liberta-me desta amarra.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-05-2023)
Estação solidão
O sol decidiu mudar
Encontrei-o em minha rua
No meu momento de sestear
Não era encontro com a lua.
Nas esquinas de asfalto quente
Os apressados vão e vêm
Emitem gestos inconscientes
Não têm tempo para ninguém.
A grande vontade de falar
Sei que quero, mas não devo
Ele insiste em ficar
Nesse clima que é longevo.
Esperava-se pela chuva
Esperava-se pelo frio
Pretendia usar as luvas
Sonhava com o sombrio.
Bom são as cortinas abertas
Sempre se busca o claro
O sol entrou pelas frestas
O sombrio tornou-se raro.
O que se espera é o fim
A mudança da estação
O que é que será de mim?
Se vêm o frio e a solidão.
Quando o dia chega ao fim
e o sol beija o poente,
fecha-se uma página do livro da vida
que jamais poderá ser lida novamente.
Eu quero viver.
Quero o dia, o pôr do sol,
A praia, o mar, o camarão,
O suco de abacaxi com hortelã.
Quero o avião, as nuvens, as luzes da cidade ao aterrizar, a noite, a lua cheia,
Novas paisagens, novos cheiros, novos sabores, novas risadas.
Quero a estrada, o acelerador, cabelos ao vento, a música.
Quero o gramado, o cheiro de terra molhada, o milho verde, o bolo de fubá,
A serra e o frio.
A loucura de São Paulo,
A alegria do Pará,
A intensidade de Brasília,
A extravagância de Las Vegas,
O luxo de Dubai,
O capitalismo da China,
O bom gosto francês,
A astúcia italiana,
A responsabilidade japonesa,
A inovação coreana,
A boemia artística.
Eu quero o tudo e o nada,
O luxo e o simples.
Quero viver.
Quero estar aqui e ali,
Fazer isso e acolá,
Depende do momento,
De como me sinto.
Só quero ser inteira em fragmentos.
É pedir muito? Só quero o direito de escolher.
Atos dos Apóstolos é eu e você indo e voltando ao pôr do sol e ao seu nascer. Você ainda não percebeu que Deus registra tudo sobre nós? Cada ação, cada oração, cada superação - nada escapa à caneta de Deus.
"Apocalipse 20:11-13"
O teu sorriso
Parece um raio de sol
A sua voz é igual ao canto dos pássaros
O teu cheiro é aroma suave
Ao entardecer o sol
Se foi
E a pergunta fiz?
Será que vou te vê
Brilhar de manhã cedo?
Ou só vou te perceber
De novo quando tiver indo embora?
Ao entardecer o sol se foi
Será que vai ser necessário
Esperar nascer
Para dar novos impulsos na vida!
Ou esperar ir embora
Pra se querer voar!
Esperar, esperar
O sol chegar
Esperar, esperar
O sol ir embora
E como consequência
Esperar, esperar a roda da vida girar
Meu amor
Viajou milhares de dias
Tomou sol
Tomou chuva
E continuou
A caminhada
Para encontrar
O Sentimento
Que fosse correspondido
Com o seu
Na feira vejo tua mão dançar
Escolhendo sonhos pra nos alimentar
Teu sorriso é o sol da manhã
Ilumina meu peito
Me faz viver amanhã
No fogão a chama aquece o chão
Tuas histórias são minha oração
Cada tempero carrega um porquê
Em cada prato
Teu amor se vê
Cuscuz e prosa
Vida que brota
Teu abraço é o que me conforta
Flor do sertão
Raiz da paixão
Tua alma é minha canção
A chuva cai e tu me ensinas
Que o amor floresce nas entrelinhas
Teu olhar é a calma do rio
Nas tuas águas
Eu crio meu fio
Nordestina de alma tão bonita
Tuas palavras são poesia bendita
Com cada verso
Me mostras o chão
Onde plantamos juntos nosso coração
Índia Cigana
Filha do Sol e da Lua
Na noite e no dia da vez
Que toca no chão que alimenta
De encontro de frente com os ventos
No verde e azul que sustenta
Vigora nas trilhas dos tempos..
