Mensagem para meu Sogro que Ja Morreu

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Já escrevi e estou sempre disposto a voltar a escrever o seguinte, que se me afigura de uma evidente verdade: "É com os bons sentimentos que se faz a má literatura." Nunca disse, nem pensei, que só se fazia boa literatura com maus sentimentos.

O amor é essa maravilhosa oportunidade de outro nos amar quando já não nos podemos amar a nós próprios.

Pois. Tiveste em jovem a tua ideologia. Mas envelheceste. E a velhice tem já as suas falhas de memória. E uma das maiores falhas de memória é persistires no que te torna já um maníaco.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

É evidentemente muito duro já não ser amado quando ainda se ama, mas pior do que isso é sê-lo quando não se ama mais.

Não te entristeças por não poderes já ver o que verão os que vierem depois de ti. Porque depois de mortos, terão visto exatamente o mesmo que tu.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, Bertrand, 1992

Ao dizer algo de condensado sobre a realidade, aproximamo-nos já do sonho, ou antes, da poesia.

Muitas obras dos antigos tornaram-se fragmentos. Muitas obras dos modernos já nascem como tal.

Existem pessoas que não pensam naquilo que deviam fazer, mas no que já fizeram; como se a Razão tivesse olhos atrás e pudesse ver apenas o que ficou para trás.

Gosto de mais das pessoas para me repugnar fazer-lhes mal, e julgá-las é já fazer-lhes mal.

A razão, já tão insuficiente para prevenir as nossas infelicidades, ainda mais o é para nos consolar delas.

Estranho que o homem, em quase todas as coisas, deva parecer melhor ou pior do que já é.

Eu ainda não superei o fim, dizer aquele adeus doeu mais na minha alma do que todos os vacilos que tu cometeste. Eu tinha que fazer aquilo antes que não sobrasse mais nada aqui dentro, antes que tu levaste mais do que o meu coração. Mas até hoje o meu corpo sente falta dos teus beijos e eu te odeio por ainda ser tão presente em mim, mesmo depois de tudo.⁠

Acho que, nas questões do coração, não dá para prever como uma pessoa vai se comportar.

Ela é como um gato de rua, vem e vai quando quer. Não fica presa a um lugar ou a uma pessoa.

Se o amor é como uma possessão, talvez minhas cartas sejam meu exorcismo. As cartas me libertam. Ou pelo menos deveriam.

Para que uma coisa dê errado de um jeito tão colossal e horrível, tudo precisa acontecer na ordem certa e no momento certo, ou, nesse caso, no momento errado.

Sempre pensei que ninguém prestava atenção no que eu fazia, que o único drama era na minha cabeça, mas, afinal, eu não era tão invisível assim.

Precisa dizer o que sente quando sente as coisas. Não pode ficar no quarto escrevendo cartas que nunca enviará.

Margot diz que quando algo não é mais útil, você deve doar, reciclar ou jogar fora. Sempre soube que ela é assim com as coisas, mas… nunca pensei que poderia sentir o mesmo por alguém.

– Acho engraçado, você diz que tem medo de compromisso e relacionamentos, mas não parece ter medo de estar comigo.
– Não preciso ter medo.
– É mesmo? Por quê?
– Porque estamos fingindo.