Mensagem de Aniversario para um Comediante

Por esse mundo de águas, junho, 27
Manu,
Estamos numa paradinha pra cortar canarana da margem pros bois de nossos jantares. Amanhã se chega em Manaus e não sei que mais coisas bonitas enxergarei por este mundo de águas. Porém me conquistar mesmo a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrace em frente das mangueiras tapando o teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí. Você que conhece mundo, conhece coisa milhor do que isso, Manu (...) Belém eu desejo com dor, desejo como se deseja sexualmente, palavra. Não tenho medo de parecer anormal pra você, por isso que conto esta confissão esquisita mas verdadeira que faço de vida sexual e vida em Belém. Quero
Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim...
Um abraço do Mário.

Não é justo que o ser humano passe pelas experiências de calvários sem que delas nasçam experiências de ressurreições.

É Páscoa, a Páscoa do Senhor
Não figura, não história
Não sombra, mas a verdadeira
Páscoa do Senhor
Verdadeiramente, ó Jesus
Livrastes-nos da grande ruína
E nos estendestes as paternas mãos.

Se todas as minhas palavras não falaram por mim, então meu silêncio falará...

Se Deus não fosse um absurdo, quem lhe ligaria importância ou acreditaria nele?

A máquina tecnologicamente mais eficiente que um homem jamais inventou é o livro.

A tolerância é sempre um indício de que um poder é visto como seguro; quando se sente em perigo, nasce sempre a pretensão de ser absoluto; nasce, portanto, a falsidade, o direito divino do seu privilégio, a inquisição.

O sinal certo de um bom livro é que ele nos agrada cada vez mais à medida que envelhecemos.

Para ser um grande homem é preciso ter feito grandes coisas, mas não chega ter feito grandes coisas para ser um grande homem.

Na minha casa um nabo é mais saboroso... do que o tordo, o faisão ou o porco da mesa alheia.

Chamam crime matar um homem e não matar uma formiga. E, no entanto, a alma é uma só - Levantem-se, olhem o homem de cima, e ele lhes perecerá uma formiga. O que significa, então, matá-lo?

Para as almas dotadas de boa vontade, não há na vida um minuto que não tenha o seu dever.

É cômodo, um enterro: pode-se ter um ar aborrecido com as pessoas e elas tomam-no por tristeza.

As ideias têm um anverso e um reverso e é difícil averiguar qual é o lado em que está o cunho legítimo.

De sexos, conheço apenas dois: um que se diz racional, outro que nos prova que isso não é verdade.

A glória para um homem velho é o que são os diamantes para uma mulher velha: enfeitam-na, mas não a podem embelezar.

Os homens deste mundo são como / os grãos de café na máquina de moer: / um antes, um depois, outro em seguida, / todos acabam por ir para o mesmo destino.

O plágio é necessário. É o progresso que o implica. Ele analisa de perto a frase de um autor, serve-se das suas expressões, apaga uma ideia errada, substitui-a pela correcta.

O silêncio não existe; viver é mantermo-nos no centro de um fluxo que só a morte interromperá.

Uns sofrem de um mal, outros, de outro, e entre os homens / - quantos o sol é capaz de ver - ninguém é perfeitamente feliz.