Meninos de Rua
Alguns eram quietos
Outros eram levados
Um falava muito
Outro era calado
Quinze eram ao todo
E gostavam um dos outros
Eram unidos
Quase irmãos
Mas às vezes brigavam
Rolavam até no chão
Um dia os garotos cresceram
Então o sonho acabou
Não podiam acreditar
No que a vida os reservou
Tiveram que acordar
Abraçar a realidade
Perceberam que a vida
Não é tão boa de verdade
Um morreu
Outro, bem!
Não se sabe
O resto sumiu
E um está na marginalidade
De vocês amigos
Sinto saudades
Mesmo não sabendo
O que é felicidade
Mas por favor
Não percam a fé
Pois haja o que houver
Nós sempre seremos
Os Meninos da Casa de Nazaré
Esperança na terra seca...
Refazem o batido caminho pela velha e conhecida terra seca, o mesmo sol que lhes dá vida também lhes judia marcando-os, nos rostos, os poucos, mas já aparentes muitos mais anos de vida...
Intenso, escaldante, é secura demais...
Se a chuva vier o chão não lhes negará a vida adormecida...
Já faz muito, mas ainda se lembram do último ano onde o inverno foi bom, nessa memória tem cheiro da terra sendo encharcada...
Exaustos chegam ao açude ainda com um pouco de lama, olham para o céu com poucas nuvens...
Cai de joelhos e puxa os filhos, com os olhos rabisca no barro todos seus desejos e sonhos como se fossem sementes e suplica:
Meu divino São José,
Aqui estou a vossos pés.
Dá-nos a chuva com abundância,
Meu divino São José.
“O sertão é uma espera enorme”,
Dá-nos chuva com abundância,
Meu divino São José.
Talvez nenhum de seus desejos se realize e nenhuma das sementes veja brotar...
Sabe que não há certezas na vida, mas precisa acreditar que haverá ainda uma próxima vez, pelo menos para os meninos...
"Ensine um adulto e ele fará o possível, ensine uma criança e eles faram o que você chama de impossível acontecer"
Ela: -O que você gosta em mim?
Ele: -Há sei lá.
Ela: -Como assim? se você namora comigo deve gosta de algo.
Ele: -Há você e gostosa.
Ela: - então por isso namora comigo?Procura um corpo,e não um coração?
Minha aldeia e dique!
Em ti fui criança!...
Sem ter, infância.
Quando, aos seis anos, vim de Monchique.
Meus amigos, oh Montes de Alvor!
Não foram, teus meninos, que me batiam,
Sem a Deus, terem temor!
Nessa escola, onde os gritos de Maria Emília, entoavam.
Mas meus amigos, foram:
As hortas, com as batatas…
E o milho, que meus pais, semeavam.
Montes de Alvor! Montes de Alvor!
Foram ainda, as tourinas vacas.
Sim tu aldeia! Dos meninos sem amor!
Enquanto o entretenimento for o atrativo para as pessoas (jovens) se achegarem a Deus ao invés de atitudes de arrependimento não se surpreenda que haja mais meninos carnais do que homens espirituais no meio do povo de Deus.
" A gente quando menino acha que já passou por quase todas as provações da vida, aí a gente cresce vira adulto e descobre que continuamos sendo meninos"
Ser criança é crer que o seu mundo de fantasia é real e absoluto! O pior medo de uma criança deveria ser um dia ter que tornar-se adulto! Mas ser criança é ter medo de coisas bobas e não temer o perigo! Mãe,ser criança é bom ! Mas o melhor mesmo de ser criança é poder brincar contigo!...
Cernes
As rosas deixaram sua pétalas caírem antes da hora,
Agora tudo que lhe restou foram os espinhos.
Longe do ninho passarinhos até sobrevivem,
Por um tempo;
Mas em demasiada ausência, rompem o elo com a vida
E partem rumo ao cemitério dos cânticos.
Meninos são homens camuflados e excluídos de seus sonhos e sentimentos;
Homens são meninos e só descobrem quando não há mais tempo...
Mundo perfeito
Meu mundo é um todo dividido em amizades e inimizades. Meus inimigos me endurecem na minha convicção do que não quero ser e fazer, meus amigos me fortalecem na convicção do que quero ser e fazer. Obrigado Deus por este mundo perfeito!(Walter Sasso)
Fio da Navalha
Vivo no fio da navalha
Com medo do tempo
Com medo da morte
Com medo da sorte
Meus pensamentos me atrapalham
Meu riso e lagrimas são reais
Da tempestade vem a poesia
Viajo em espaços siderais
Sou cantador Dom Quixote
Canto samba, reggae e xote
Me escondo e desvio da morte
Pois na rua sou gado de corte
Se esta rua fosse minha,
eu mandava ladrilhar,
não para automóveis matar gente,
mas para criança brincar.
Se esta mata fosse minha,
eu não deixava derrubar.
Se cortarem todas as árvores,
onde é que os pássaros vão morar?
Se este rio fosse meu,
eu não deixava poluir.
Joguem esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.
Se este mundo fosse meu,
Eu fazia tantas mudanças
Que ele seria um paraíso
De bichos, plantas e crianças.
Emancipada
Nesse município beleza nenhuma alcança a dela
Descendo a rua, como faca que risca a nata sobre o leite
Até o meio dia se intimida, nubla e segue em seu encalço.
Menina da rua
que vive na lua
pisando este chão
Menina poeta
vive inquieta
ouvindo o coração
Menina faceira
a vida inteira
nunca diz não
Menina da rua
poeta faceira
são versos pra lua
a canção primeira
Menina faceira
tombou na ladeira
na madrugada fria
Não viu mais a lua
sua companheira
sua alegria
Silenciou para sempre
o canto fremente
da menina levada
Que viveu como um canto
no encanto da lua
no canto darua
da rua, o encanto
da madrugada!
A lua hoje madruga,
dou o passeio pela noite.
Descalço pelo passeio da rua:
-Olá boa noite! Não tem nenhum centavo pra matar a minha fome?
Tive pena do coitado até parece ser bom homem.
Meti as mãos no bolso, para ver o que trazia,
mas o forro estava roto e perdi tudo que tinha.
-Desculpe meu senhor, agora não tenho nada. Os centavos que aqui trazia perdi-os nesta calçada.
Mas como sei o que é viver aqui nessa miséria;
Pus-me à procura deles na minha visão periférica.
Ninguém sabe os segredos, que esta rua esconde.
-Mas dê uma vista de olhos pode ser que os encontre!
Pus-me a caminho, a solidão me acompanha,
a noite tem tanta vida que a morte é tamanha.
Vejo a pele castanha, na face, face à pobreza
dos abandonados da calçada. Cantando "A portuguesa".
Seguram na sua mão uma garrafa de vinho,
despejam sangue inocente num copo de vinho tinto.
Encharcados pela mágoa que lhes escorre pelo rosto,
em formato de gota da água, em cada olhar fosco
Mesmo que a areia se espelhei e junte-se depois de certo tempo, lembre-se que o vento vem para espalhar de novo.
