Memória

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Que coisa maluca a distância, a memória. Como um filtro seletivo, vão ficando apenas as coisas e as pessoas que realmente contam.

Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os
dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos,
e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para
mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o
próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os
barcos e o céu que os cobre e os altos choupos que
vagarosamente deslizam sobre a película luminosa
dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas
águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e
firme pulsar do coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo
acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu
corpo despido brilha debaixo do sol, entre o
esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas
da memória e o vulto subitamente anunciado do
futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar
calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que
as aves digam nos ramos por que são altos os
choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem,
sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas
verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra
viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se
juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.

A imaginação é a memória que enlouqueceu.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

A luz do entardecer está batendo nos seus cabelos e eu quero guardar para sempre na memória esta imagem de você assim tão linda.

A memória não tanto produz, mas revela a identidade pessoal, ao nos mostrar a relação de causa e efeito existente entre nossas diferentes percepções.

A amizade é indispensável ao homem para o bom funcionamento da sua memória. Lembrar-se do passado, carregá-lo sempre consigo, é talvez a condição necessária para conservar, como se diz, a integridade do seu eu.

Milan Kundera
A identidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Se você quer testar sua memória, tente se lembrar hoje sobre o que você estava preocupado há um ano atrás.

A realidade apenas se forma na memória; as flores que hoje me mostram pela primeira vez não me parecem verdadeiras flores.

A leitura reaviva a memória e nos coloca a par do desconhecido.

Educação não é o quanto você tem guardado na memória, nem mesmo o quanto você sabe. É ser capaz de diferenciar entre o que você sabe e o que você não sabe.

Todos reclamam da sua falta de memória, mas ninguém se queixa da sua falta de senso.

Na verdade, a imaginação não passa de um modo da memória, emancipado da ordem do tempo e do espaço.

Não é com os livros que se deve ensinar, é com a memória e com a razão.

Só nos recordamos verdadeiramente daquilo que nos era destinado. A memória não lê as cartas alheias.

Nós apenas trabalhamos para encher a memória e deixamos o entendimento e a consciência vazios.

A razão, sem a memória, não teria materiais com que exercer a sua atividade.

Quanto mais uma calúnia custa a acreditar, maior é a memória dos tolos para a fixar.

A memória dos velhos é menos pronta, porque o seu arquivo é muito extenso.

Ó musas, com o vosso alto engenho, ajudai-me; / ó memória, que escreveste o que vi, / que se prove aqui a tua fidelidade.

Há imensas pessoas que confundem a imaginação com a memória.