Me Deixa que hoje eu To de Bobeira
Em poucos anos, lancei os alicerces de conhecimentos de que ainda hoje me utilizo. Mais importante do que tudo isso: naqueles tempos adquiri uma noção do mundo que serviu de fundamento granítico para o meu modo de agir de então. A essa noção precisei acrescentar pouca coisa, mudar nada. Ao contrário.
Estou firmemente convencido de que, em conjunto, várias idéias criadoras que hoje possuo, já na mocidade pareciam fundadas em princípios. Faço diferença entre a sabedoria da velhice, que vale pela sua maior profundidade e prudência, resultantes da experiência de uma longa vida, e a genialidade da juventude que,em inesgotável proliferação, cria pensamentos e idéias sem poder logo elaborálas definitivamente, em conseqüência do tumulto em que elas se sucedem.
Hoje resolvi andar pelo caminho mais leve, mais simples. Não me importa se muito do que amei ficou para trás. Porque às vezes é preciso decidir entre a rosa e o girassol. E entre os espinhos ou a luz, escolho a claridade para seguir adiante...
Hoje acordei pra viver, levantar e seguir em frente. Porque a vida sempre pede um pouco mais da gente. Veja bem, a vida, não os outros. Hoje vou viver pra esperança, pra coisas bonitas e sorrisos largos. Mesmo que tudo dê pra trás. Hoje vou andar de mãos dadas com meu anjo da guarda.
Hoje quero escrever qualquer coisa tão iluminada e otimista que, logo depois de ler, você sinta como uma descarga de adrenalina por todo o corpo, uma urgência inadiável de ser feliz. Ser feliz agora, já, imediatamente. E saia correndo para... dar aquele telefonema, marcar um encontro, armar um jantar, quem sabe um beijo; para comprar aquela passagem de avião, embarcar hoje mesmo para Nova York, Paris, Hononulu. Tão revigorado e seguro – depois de me ler – que nada, absolutamente nada, dará errado: ela (ou ele) atenderá com prazer (em todos os sentidos) ao seu chamado, haverá saldo no banco para a passagem e muitos dólares. Tudo se organizará rápida e meio magicamente, como se todos os astros e todos os deuses só esperassem por um momento seu para derramar sobre sua cabeça, digamos, uma cornucópia de bem-aventuranças.
Tenho pedido a Deus, e à lua, ontem
Hoje, a cada noite, PERPETUIDADE
Desde o instante em que me soube tua.
E que o luar e o divino perdoassem
O meu rosto anterior, rosto-menino
Travestido de aroma, despudor contente
De sua brevidade em tudo, nos afetos
No fingido amor
Porque fui tudo isso, bruxa, duende
Desengano e desgosto quase sempre.
Mais nada pedi a Deus. Mas pedi mais
À lua: que tu sofresses tanto quanto eu.
Correr, mesmo no mais curto percurso, ser-me-ia hoje tão impossível quanto para a pesada estátua de um César de pedra.
(...) É incontrolável te odiar hoje, meu amor, dá para entender, querido? É incontrolável não ser irônica hoje, chuchu.
Faço dizer aos outros aquilo que não posso dizer tão bem, quer por debilidade da minha linguagem, quer por fraqueza dos meus sentidos.
O rosto de uma mulher, seja qual for a sua discrição ou a importância daquilo em que se ocupa, é sempre um obstáculo ou uma razão na história da sua vida.
