Me Ame quando eu menos Merece

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A Distância

Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou...
Tanto tempo já passou e eu não te esqueci.

Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro
Todo dia sem você saber.

O que restou do nosso amor ficou
No tempo, esquecido por você...
Vivendo do que fomos ainda estou
Tanta coisa já mudou, só eu não te esqueci.

Eu só queria lhe dizer que eu
Tentei deixar de amar, não consegui
Se alguma vez você pensar em mim
Não se esqueça de lembrar
Que eu nunca te esqueci.

... Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.
... Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?
... Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim? (Discurso)

Não sou eu. São as músicas. Eu sou só o carteiro. Eu entrego as músicas.

Bob Dylan

Nota: Bob Dylan fala com Robert Shelton. Melody Maker. Julho de 1978.

Eu chorei um oceano inteiro essa noite. Eu precisava esvaziar.

Eu procuro por mim, tal qual o artesão procura sua arte escondida nos excessos da matéria bruta de seu mármore.

Aquele que botar as mão sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.

Eu choro, sofro, fico triste e tenho vontade de sumir, mas jamais irei baixar a cabeça. Os problemas não irão me abalar, eu tenho fé e força, meus sonhos são grandes o bastante para me motivar a seguir em frente, sempre!

Só por hoje eu não quero mais chorar.
Só por hoje eu espero conseguir aceitar o que passou e o que virá.
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz.

O tempo passa e um dia a gente aprende, hoje eu sei realmente o que faz a minha mente.

Charlie Brown Jr

Nota: Trecho da música Senhor do tempo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.

Não mais me deitar no feno perfumado ou deslizar na neve deserta.
Onde eu exatamente me encontro?
O que me surpreende é a impressão de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice.
O tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou para mim.
Provisoriamente.
Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro.
O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar.
Portanto, ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minha necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Hoje, que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele.
O que eu sempre quis foi comunicar unicamente da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente o sabor da minha vida.
Acredito que eu consegui fazê-lo.
Vivi num mundo de homens, guardando em mim o melhor da minha feminilidade.
Não desejei e nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos.

Sou eu sozinha quem carrega todo esse peso nas costas, isso ninguém percebe, ninguém valoriza. Não, eu não nasci para viver neste tempo.

Eu sou o caminho, a verdade e a vida.

Eu estava feliz. As pessoas esperavam por mim. E lembro bem dos dias em que ninguém me queria.

Esse estranho que mora no espelho (e é tão mais velho do que eu) olha-me de um jeito de quem procura adivinhar quem sou.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

- Porque eu tinha medo de te perder.
- E agora você não tem mais?
- Faz um tempo que perdi.
- O medo?
- Não, você.

(silêncio)

De repente, eu me cansei de tentar me adaptar a um mundo ao qual não pertenço. Por isso, vou ser eu mesma, e deixar que o mundo se adapte a mim.

E eis que sinto que em breve nos separaremos. Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. (...) Quanto a mim, assumo a minha solidão. (...) Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima (...). Guardo o seu nome em segredo. Preciso de segredos para viver.

E eis que depois de uma tarde de “quem sou eu” e de acordar à uma hora da madrugada ainda em desespero – eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei. Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. e você é você. É vasto, vai durar. (...) Olha para mim e me ama. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.

Eu sou o antes, eu sou o quase, eu sou o nunca. E tudo isso ganhei ao deixar de te amar.

Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nota: Quatro trechos do livro.

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LIBERDADE E CONTROLE

Eu não sei você, mas eu faço o tipo controladora, gosto de estar na regência de tudo o que me cerca, vivo a ilusão de que sem mim as coisas não irão funcionar, me sinto necessária, e isso me agrada e ao mesmo tempo me angustia, gostaria de ser mais relaxada e mais resignada diante da minha falta de controle absoluta: pois é, a gente pensa que tem controle sobre tudo, mas não temos controle sobre nada.

Se você curte se auto-investigar, bem-vindo ao clube.

Passei horas, outro dia, conversando com um amigo sobre este instigante assunto: temos ou não temos controle sobre nossas vidas? Minha tendência é acreditar que há um controle ao menos parcial. Senão vejamos: eu tenho o poder de fazer escolhas. Posso dizer sim ou não, ir para a esquerda ou para a direita. Posso me separar, continuar casada, ter mais um filho, posso mudar a cor do cabelo, posso abandonar o emprego, passar dois meses sozinha numa ilha ou me internar num convento. O que me impede?

Você mesma se impede, responde ele.

Tem razão, o problema é que não somos livres. Eu, ao menos, não acredito em liberdade enquanto houver dependências afetivas. Para ser livres, precisaríamos não manter nenhuma espécie de laço com ninguém, o que é impensável: abrir mão de pai, mãe, irmãos, filhos, amigos, um amor. É um preço alto demais para pagar pelo ir-e-vir. Estou de acordo com um psicanalista que disse que o máximo de liberdade que podemos almejar é escolher a prisão em que queremos viver. Eu escolhi a adorável prisão dos afetos.

Meu amigo considera interessante essa história de escolhermos nossas prisões, mas diz que isso só prova que somos 100% livres. Poderíamos escolher prisão nenhuma, mas nos é intolerável a idéia de viver soltos. Então vamos construindo nossas cercas: uma mãe doente a quem não podemos decepcionar, uma esposa que iria se suicidar se a deixássemos, filhos que iriam ficar traumatizados com nosso divórcio, um emprego ótimo que seria loucura abandonar, enfim, vamos inventando empecilhos para não sair da jaula. A liberdade é desestabilizadora, e queremos tudo, menos a subversão.

Pergunto: que mal há em sermos corretos, em agirmos com decência e discernimento, em não frustrar as expectativas que depositaram em nós?

Mal nenhum, responde meu amigo. É até muito nobre, diga-se. Mas quem inventou as definições de correção e decência? E quanto às suas próprias frustrações, são menos importantes do que as que os outros têm em relação a você?

Pois é, de vez em quando entro em uns debates insanos sobre liberdade e controle, e onde chego com tudo isso? A um papo excitante, o que já é muito. Pensar é um ensaio de liberdade. Que poucos se atrevem, aliás. É o que por hora me permito enquanto eu não for — na prática e às ganhas — totalmente livre.

O que falta para eu entender que acabou?
Que dor falta sentir?