Machado e Juca Luiz Antonio Aguiar
Glória sem Honra
é fruto podre
que nada alimenta.
Conquistas alcançadas
por meios escusos
não torna ninguém vitorioso,
apenas exalta a desonestidade.
Se esta chuva não parar
durante esta madrugada,
amanhã não faço nada
e tenho a terra pra cavar.
Se esta chuva não parar
o terreno fica alagado,
e não posso semear
o que não está semeado.
.
Se estou apoquentado
durante esta madrugada,
canto uma letra dum fado
ou um cante à minha enxada.
Esta chuva vem molhada
e promete a boa vida...
Amanhã não faço nada,
nem cuido da minha lida.
Talvez tome uma bebida
enquanto a chuva durar...
Cai a chuva bem caída
e tenho a terra pra cavar.
Sobre a xenofobia
Se os homens fossem profundamente honestos e parassem para refletir sobre sua condição e a condição dos seus semelhantes (nativos, imigrantes ou refugiados), perceberiam que: ou somos todos imigrantes ou nenhum de nós é imigrante de lugar nenhum. Ou somos todos herdeiros desse mundo ou somos apenas espíritos apátridas que deram a sorte de se conhecer nessa terra estranha.
Na vida é assim, às vezes, nem tudo que planejamos dá certo. Contudo, não devemos desistir de nossos sonhos. Outras noites virão. Um sonho perdido não significa que as noites se irão com ele. Comparo nossos desejos como plantas n'um jardim, elas precisam de cuidados pra crescer até florir.
A noite escuta o mote afeiçoado
ao Céu que sobressai do varandim:
um cante com um mote apaixonado,
no amor do Anastácio Joaquim.
A bela cede ao cante, à bela prosa,
ouvindo os provençais no trovador;
um mago, um dom Juan, um Rubirosa,
que inflama os altos versos do amor.
Apruma a sua voz pela planície,
num modo açucarado e tão sucinto,
e enquanto diz da vida o que não disse,
traduz a inspiração de um Borba tinto.
O tom em dó maior - forte e conciso -
aflora a rouquidão que não lhe acode,
e diz: amor... amor…, nesse improviso,
por entre as largas pontas do bigode.
A bela afaga o nardo, emocionada,
com a voz que se evapora no relento,
e entre uma janela escancarada,
recolhe aos cobertores do aposento.
Quem bate sempre esquece
O quanto dói pouco importa
Depois chora e bem padece
Quando o outro fecha a porta.
Eu pensei que se cantasse
Ela comigo se encantaria
Mas por mais que me esforçasse
Nada de bom de mim saia.
Mulher fruto que nunca perde o sabor
Criada por Deus pra que a humanidade
Compreenda o que é o verdadeiro amor
Quando se vai a sua falta deixa saudade.
Metade da minha vida é de saudade
Posto que muitas coisas boas eu fiz
É certo que muitas foram só vaidade
Não lembro ter feito ninguém infeliz.
Já amei e também fui amado
Pelos caminhos que eu andei
Sofri muito e fui desprezado
Mas não me arrependo se amei.
