Machado e Juca Luiz Antonio Aguiar
...a beleza passara, como um dia brilhante; restavam os ossos, que não emagrecem nunca.
A vida é tão bela que a mesma ideia da morte precisa de vir primeiro a ela, antes de se ver cumprida.
Que são minutos e que são meses? Paixões de largos anos, chegando ao casamento, acabam muitas vezes pela separação ou pelo ódio, quando menos pela indiferença. O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corrompe-se.
Era uma paixão da última hora, um ocaso ardente e abrasado entre o dia que lá ia, e a noite que não tardava a sombrear tudo.
Não é só o coração que lhe fala, é também a imaginação, e a imaginação, se é boa amiga, tem seus dias de infidelidade.
Quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma coisa, prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia.
A nudez habitual, dada a multiplicação das obras e dos cuidados do indivíduo, tenderia a embotar os sentidos e a retardar os sexos, ao passo que o vestuário, negaceando a natureza, aguça e atrai as vontades, ativa-as, reprodu-las, e conseguintemente faz andar a civilização.
Pascal é um dos meus avôs espirituais; e, conquanto a minha filosofia valha mais que a dele, não posso negar que era um grande homem. Ora, que diz ele nesta página? [...] Diz que o homem tem “uma grande vantagem sobre o resto do universo: sabe que morre, ao passo que o universo ignora-o absolutamente”. Vês? Logo, o homem que disputa o osso a um cão tem sobre este a grande vantagem de saber que tem fome; e é isto que torna grandiosa a luta, como eu dizia. “Sabe que morre” é uma expressão profunda; creio todavia que é mais profunda a minha expressão: sabe que tem fome. Porquanto o fato da morte limita, por assim dizer, o entendimento humano; a consciência da extinção dura um breve instante e acaba para nunca mais, ao passo que a fome tem a vantagem de voltar, de prolongar o estado consciente.
A paciência já havia se esgotado de minh'alma, mas eu não estava vazio: havia dor e rancor. Sentimentos que digladiaram minha felicidade, ou talvez uma ilusão que se assemelhava à verdadeira felicidade.
Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer.
