Machado e Juca Luiz Antonio Aguiar
Basta de se tentar combater violência com ações extremistas! Por esse método não apenas se corrobora com ela quanto a agravamos, pois que violência gera mais violência. O que se precisa é atacar as origens para muda-las, não suas consequências, que são automáticas e se constituem muitas vezes na única forma percebida de sobrevivência.
Buscar o consenso para uma interpretação divergente é perfeitamente salutar, desejável, e sempre produzirá mútuo crescimento. Já discutir divergências estruturais – que implicam em diferenças consolidadas sobre valores e princípios inconciliáveis – não só se mostra absolutamente inócuo quanto desprovido da dosagem mínima de bom-senso; não se prestando, portanto, a contribuir com ninguém ou com o que quer que seja.
O problema de quem repete o tempo todo que “Deus está no controle” acontece quando a pessoa se acostuma a transferir para Deus a integral responsabilidade sobre tudo o que irá colher, esquecendo-se da parte que lhe compete na hora do plantio.
Eu sou o anticristo do deus preconceituoso, vingador e odioso que abunda no cérebro dos fanáticos doutrinadores neopentecostais, por ausência absoluta do que deveriam trazer em seus corações.
É bem verdade que são as pessoas, e não os livros, que mudam o mundo. Mas também se sabe que é nos livros que elas descobrem como fazer isso!
A confiança é, talvez, o maior capital que construímos junto às pessoas ao longo de nossa existência. Quando não lhe damos o devido valor de forma contínua e habitual, não há como esperar que esse capital não se esgote em algum momento, e sem garantias de que seja resgatado. As pessoas, numa primeira instância, podem ainda acreditar nele; na segunda experimentam oferecer um voto de confiança, mas a terceira dificilmente passa de um “pagar pra ver”, isso se todos já não estiverem convencidos de que o ponto da reversão foi ultrapassado, não tendo como culpá-los por isso! Essa é uma das coisas, portanto, onde o mais importante é o “durante” e não o depois, na construção de uma obra que jamais termina e é avaliada ao longo de todo o nosso tempo, e não no ato da entrega de um suposto “produto acabado”.
HUMANO é aquele que, ao chegar ao máximo de sua possibilidade, percebe que atingiu seu limite e pára, pois sabe o que acontece depois; HERÓI é aquele que, ao atingir o máximo de sua possibilidade, não o aceita como limite e continua, acreditando que pode mudar esse depois; SANTO é o que sabe ter atingido o máximo de sua possibilidade, não dá a mínima para o limite e vai em frente, ainda que saiba o depois. Mais do que a escolha, a diferença está na importância dada a um “depois” além do que ele consegue saber.
Para o humano é o bastante cumprir seu papel, sem achar que está ali para salvar o mundo.
Para o herói, o bônus da consagração supera todo e qualquer risco a que se expõe na tentativa.
Já ao santo o foco se resume à ação em si, e o bônus que vem depois não figura na lista de etapas.
O medo é saudável e necessário enquanto atua como protetor e guardião de nossa integridade física. O problema é quando lhe outorgamos uma procuração para ser nosso carcereiro.
Não se confunda ignorância com estupidez. Ignorante é quem não teve acesso ao conhecimento – não raro por falta de oportunidade – e censurá-lo por isso não só se mostra injusto quanto preconceituoso. A estupidez, diferentemente, é própria de quem foi brindado com o conhecimento, mas não faz qualquer uso dele para analisar as situações com que se depara – por reles comodismo frente à lógica mais rasteira – o que se mostra profundamente irritante para quem pensa. Daí porque não é difícil encontrar ignorantes cujo instinto os tornou sábios, e letrados cujo descaso os tornou idiotas.
Quando o coletivo naturalmente sugestiona o indivíduo, ocorre a dedução. Mas quando o indivíduo deliberadamente influencia o coletivo, têm-se a indução. Nesta condição o atingido revela-se fraco, abdica de seu potencial de análise e entrega-se, sem resistência, à manipulação. A única forma de evita-lo é não aceitar verdades alheias como suas antes de submetê-las ao crivo de rigorosa auto-contestação. O exercício da indução – tanto ativa quanto passiva – é igualmente desprezível.
Ainda que discordando da tese, mostro-me mais inclinado a nutrir respeito maior por quem concluiu, por sua própria lógica, que Deus não existe do que por quem o declara existente simplesmente por ter deixado que a crença se instalasse por influência de alguém, sem antes buscá-la em si mesmo.
Os meios utilizados para conseguir o que quer e a forma como as ações são conduzidas até o objetivo é que diferenciam o calhorda de quem cometeu um erro de percurso.
Ser portadora de desequilíbrio grave é um direito de qualquer pessoa humana, mas fazer uso do desequilíbrio para cometer calúnia e difamação - além de agredir de forma ignóbil a moral de todas as pessoas em torno por despeito e mágoa pela felicidade de outrem - extrapola qualquer direito e esbarra na constatação pura e simples da falta de caráter.
Dou meu crédito e profundo respeito a pessoas de convicções fortes como resultado de um longo processo de análise das antíteses filtradas por sua inteligência, que as conduz invariavelmente a um equilíbrio responsável em suas conclusões e empresta consistência e confiabilidade às idéias que defendem. Quanto menos doutrinárias ou dogmáticas forem, mais isentas e confiáveis se farão suas análises, pois que não estarão sujeitas aos moldes de suas próprias crenças. A maturidade me encontrou como um livro aberto desejoso de se manter fora das tribos e longe das mentes fracas que se deixam convencer sem refletir por si mesmas, das que constroem “verdades” sobre idéias de outrem que vão incorporando à sua lista de bandeiras sem nunca terem-nas submetido a nenhum tipo de filtro. São movidas pelo mero prazer de repassar “filosofia de papagaio”, em que não há critério nem responsabilidade para com os efeitos que produzem. Teses conscientes não dependem de bandeiras ou correntes para se disseminarem: elas se impõem por si mesmas, mas entre as pessoas que farão a diferença.
