Machado e Juca Luiz Antonio Aguiar
Muitos de seus desejos podem ser concretizados até no último de seus dias, mas para se mostrarem úteis existe um prazo de validade.
Quando trocamos o foco dos nossos dramas pessoais pela amplitude da visão sistêmica, muitas coisas que permaneceram obscuras por muito tempo magicamente são trazidas à luz, permitindo-nos não só compreender cada uma delas como também suas ligações com milhares de outras aparentemente desconexas, mas que trazem resposta para muito do que nos chegou, numa sequência agora inteligível a partir de seu ponto de origem. Mas apenas refazer o caminho percorrido não é o bastante, se não soubermos o que fazer com o resultado. É o processamento adequado da descoberta, neste exato agora, que nos permitirá retomar o curso que deveria ter sido feito, não fossem os desvios que sofreu.
A vida de cada um é uma construção que podemos levantar com material de boa ou de má qualidade, e onde cada tijolo acrescido tem preço e prazo de garantia. Podemos optar por trocar os ruins e inconsistentes dentro do “timing” certo, legando às gerações seguintes uma construção sólida que talvez nem seja usada por nós, ou então preferir o pré-moldado de montagem rápida para usufruir dela ao máximo, mas que não estará de pé depois que nos formos. A construção é uma escolha só nossa, mas não sua aprovação, pois o percebido no fim é o conjunto da obra.
Algumas vezes aceitamos relevar um ato muito grave após seu autor se apresentar desta vez com uma postura gentil, esquecendo-nos de que mudanças acontecem a partir de decisões, e não de gentilezas.
Não há que se sentir tristeza diante da fala de um idiota, pois que isso é da natureza dele. O que deve despertar tristeza é a constatação de que existem muitos outros idiotas se acreditando inteligentes para aplaudi-lo.
Na ânsia de demonstra-lo às pessoas que amamos, podemos exagerar nas expressões de afeto sem lembrar que cada qual externa sentimentos de uma maneira própria. Precisamos estar sensíveis à sua forma de ser, e dizer-lhes de nosso amor em cada atitude do convívio de forma a lhes passar essa certeza pela percepção delas, e não pela frequência com que o dizemos.
Não há nada mais importante na vida do que os que nunca param de buscar, independente do que encontram.
Muitos defendem que apenas o ignorante é feliz, e que todos os que pensam são tristes, o que é próprio de quem nunca experimentou a essência da vida, mas apenas a teoriza. Quando se pára de buscar uma razão física para a felicidade, insistindo em colocá-la nas coisas que se tem ou em pessoas que estão à nossa volta, ela se mostra. É uma semente que já trazemos. Só nos cabe regá-la ou deixa-la secar.
Enquanto tantos passam a vida perguntando o porquê do que veem, mas não pensam, eu me pergunto “por que não” diante de todo o restante em que penso, mas não vejo.
Empreste à sua vida as características de uma grande “tournée” de jazz: preocupe-se com planejamento apenas no momento de estabelecer a linha mestra de tudo o que deverá acontecer, mas na hora de apresentar o show, quanto mais improviso você introduzir nele, mais encanto acrescentará à linha melódica, com poder de surpreender indelevelmente o seu público.
Não é verdade que a Paz apareça como prioridade no processo de busca da humanidade como um todo. Há sempre aquelas pessoas cujas vidas, de tão vazias, as acostumaram de tal forma à adrenalina do inferno que, quando conseguem escapar dele em algum momento, não poupam esforços para achar o caminho de volta de modo a não sucumbir ao tédio.
O sucesso dessas almas mornas que o conquistam sem esforço jamais será igual ao sabor de vitória que um tapa consegue produzir em quem se levanta do chão pronto para tentar de novo, não se submetendo aos que, pela força, lhe tentam controlar a rebeldia.
Nossos filhos têm sua própria visão dos pais que somos para eles, e quase nada do que fizermos terá poder o bastante para mudar isso. Inútil portanto seguir sofrendo na tentativa de transferir para eles a imagem idealizada que criamos sobre nós mesmos.
Não trate de política com quem não vê além da própria ideologia, ou de religião com quem se encerra dentro dos seus dogmas; também não fale do mundo a quem pensa saber tudo sobre ele, e nem do universo a quem já acredita conhecer todas as verdades. A sabedoria surge de não se abrir mão da busca, e só alcança os que descobrem não saber nada!
Efeito Brucutu é a síndrome que acomete algumas pessoas que optam por cultuar a massa muscular em lugar de cultivar a massa encefálica.
A Lei Natural a que todas as coisas se submetem nos revela quão pretensiosos nos mostramos ao julgar que, em algum momento, estivéramos de posse da Verdade. Se assim fosse o passar do tempo precisaria ser interrompido, de modo a não trazer a evolução que nos distancia dela. O ato de evoluir, por si só, é a prova inequívoca de que a Verdade apenas oferece pistas, mas nunca permite que a alcancemos.
Há tempos que parei de me preocupar em fazer escolhas. Fica mais fácil delegar tal mister à Vida, quando claramente me diz que o assume em me colocando em estreita sintonia com as dádivas que me havia reservado.
A Verdade não nos cobra que a entendamos, muito menos que dela nos apropriemos. Espera apenas que a vivenciemos.
Enquanto permanecemos na ignorância julgamos existir uma fronteira intransponível entre coisas boas e ruins. Ao descobrir a sabedoria constatamos que tal visão é mera ilusão da mente, pois que a diferença depende apenas do significado que atribuímos a elas.
Por mais que digamos não diferenciar as pessoas das quais gostamos, o coração o faz, e as encaixa numa escala de afinidade sobre a qual não definimos nada, apenas o constatamos.
